Governo paulista é a fonte da fake news divulgada pela CNN sobre Ucrânia

Atualizado às 19h44: "A Antonov não tem representante autorizado no Brasil e não concedeu a nenhuma pessoa qualquer autoridade para representar os interesses da empresa", diz nota oficial divulgada agora à noite pela empresa ucraniana sobre a armação de fake news envolvendo o governo de São Paulo e a CNN Brasil (ver matéria abaixo).

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Ninguém entendeu nada quando a CNN Brasil divulgou esta semana reportagem de Caio Junqueira, no telejornal apresentado por William Waack, sobre um investimento de US$ 50 bilhões da Ucrânia no Brasil para a fabricação no país de aeronaves Antonov.

Como assim? Não é a Ucrânia o país que está em guerra há mais de um ano e depende de ajuda internacional cada vez maior para sobreviver à invasão russa? Só para se ter uma ideia do absurdo contido nesta "notícia", em 2022, o PIB ucraniano caiu 29,1%, na comparação com o ano anterior. O tal "investimento" corresponderia a 25% do total PIB da Ucrânia.

Segundo a "reportagem" da CNN, o Brasil foi o destino escolhido pela Antonov para a nova fábrica "devido às suas posições de neutralidade diante de conflitos mundiais".

"Mas isso mudou. Depois das declarações polêmicas do presidente Lula, representantes da empresa aqui no Brasil suspenderam todas as negociações", "informou" a emissora, que nas últimas semanas se tornou nova porta-voz da extrema-direita.

A revelação desta monumental fake news foi feita pelo portal Brasil 247 e, só na tarde desta quarta-feira, ficamos sabendo a fonte em que se baseou o repórter: nada menos do que o governo de São Paulo, comandado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas.

Apesar de todas as evidências de que se tratou de uma grotesca armação para atacar o presidente Lula, o Palácio dos Bandeirantes saiu em socorro da CNN, divulgando a seguinte nota, reproduzida no site da emissora:

"A Secretaria de Negócios |nternacionais do Estado de São Paulo informa que, no dia 11 de abril, recebeu representantes de Oleksandr Nykonenko e Victor Avdeyev, conselheiro e vice-presidente da Antonov Company, para audiência a respeito de interesse da estatal ucraniana Antonov desenvolver atividades no Brasil, em especial no Estado de São Paulo. Segundo os representantes, a companhia teria um plano de investimentos de US$ 50 bilhões em cinco anos".

Posteriormente, os participantes da reunião entraram em contato, por e-mail, informando que "diante das ultimas declarações do governo federal", a Antonov teria desistido do projeto.

Não deixa de ser curioso que essa lambança público-privada tenha acontecido justamente na semana em que o país assiste à discussão do PL 2630/2020 que estabelece normas para regulamentar o funcionamento das grandes plataformas no país e combater a produção de fake news em escala industrial.

Também chama a atenção o fato de que esta fake news tenha sido reproduzida no Twitter pelo deputado bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), um notório divulgador de notícias falsas em bom português.

Vida que segue.