Topo

Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Feitiço virou contra os feiticeiros da Lava Jato, agora no banco dos réus

Deltan Dallagnol, Rita Lee e Sergio Moro: como diz a cançao,  a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar - Geraldo Bubniak/AGB/Agência O Globo; Divulgação; Lula Marques/Agência PT
Deltan Dallagnol, Rita Lee e Sergio Moro: como diz a cançao, a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar Imagem: Geraldo Bubniak/AGB/Agência O Globo; Divulgação; Lula Marques/Agência PT

Colunista do UOL

07/06/2023 11h42Atualizada em 07/06/2023 18h25

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Por uma dessas conspirações dos astros, quis o destino que as exéquias da Lava Jato ocorram ao mesmo tempo em que a corrupção volta com tudo às manchetes, ocupando o espaço do noticiário político, agora envolvendo novos personagens do antigo governo e do parlamento. Mas, não diziam até outro dia, que a República de Curitiba tinha extirpado a corrupção no país?

Em comum nas investigações, temos as mensagens encontradas nos celulares dos denunciados, o poderoso instrumento contra os crimes do colarinho branco. O mesmo método que permitiu a Moro & Dallagnol enviar um monte de gente para a cadeia em nome do combate à corrupção, ao fazer escutas nos celulares, serviu depois para aquele hacker da Vaza Jato desmascarar os "heróis nacionais", pegos em flagrante em promíscua troca de mensagens pelo Telegram entre juízes e procuradores.

Morou grampeou até o telefone da presidente da República Dilma Rousseff, em conversa com o ex-presidente Lula, no tempo em que ele podia tudo e os ministros dos tribunais superiores fechavam os olhos. Quando os reabriram, tempos mais tarde, e anularam os processos, ao descobrir as maracutaias no modus operandi dos feiticeiros de Curitiba, eles permitiram que um dos presos voltasse ao Palácio do Planalto e, a partir daí, o filme da Lava Jato começou a rodar para trás, investigando os investigadores.

Moro e Dallagnol abandonaram a toga para se tornar políticos, como se podia prever desde o início, e começaram a ser investigados pelo que fizeram na campanha eleitoral de 2022, quando se candidataram a senador e deputado federal pelo Paraná, respectivamente.

O primeiro justiceiro a sentar no banco dos réus no Tribunal Superior Eleitoral foi o saltitante pastor Deltan Dallagnol, que teve o mandato cassado em maio, por infringir a Lei da Ficha Limpa. Na verdade, ele nem poderia ter sido candidato porque tinha pendências no Conselho Nacional do Ministério Público.

Na noite de terça-feira, quando a Mesa Diretora da Câmara confirmou a cassação e Dallagnol deixou de ser deputado federal, o parça Moro deve ter ficado com várias pulgas atrás da orelha. Afinal, ficara evidente ali que os mentores lavajatistas estavam completamente isolados no mundo político, sem nenhum parlamentar prestar solidariedade ao místico procurador, caminhando solitário pelo plenário vazio para gravar sua última live de deputado, uma cena patética.

A bola da vez agora é Sergio Moro, e ele sabe disso. Até já baixou a crista e anda menos arrogante. Em Brasília, todos apostam que ele também perderá o mandato.

No Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) tramita um pedido de cassação de Moro, baseado em supostas irregularidades nos gastos de campanha e a prática de caixa 2 nas eleições, justamente o crime mais recorrente nas condenações da Lava Jato. Por outra ironia do destino, quem pede a cassação de Moro é o PL, o partido do presidente Jair Bolsonaro, de quem ele foi ministro da Justiça, depois inimigo, e amigo novamente.

É apenas uma questão de tempo para Moro ser convidado a se sentar no banco dos réus da Justiça Eleitoral e nada indica que o povo sairá às ruas para defendê-lo, como ele poderia sonhar nos seus tempos áureos em que mandava prender e soltar conforme suas convicções. Dos seus colegas de partido, o União Brasil, e de Senado, nada deve esperar, pois já anda isolado lá dentro. Os bolsonaristas também o abandonaram.

A ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) corre sob sigilo, mas reportagem de Natália Santos no Estadão apurou que o PL aponta irregularidades no financiamento da campanha ao Senado pelo União Brasil, depois que desistiu de se candidatar a presidente da República por outro partido.

Foram as mais breves carreiras na história política do país, que nada perde com isso, ao contrário. Levará décadas para recuperar os prejuízos que causaram ao sistema político e à economia do país, interferindo diretamente nas eleições de 2018 que levaram o capitão Jair Bolsonaro e sua corriola de militares ao poder.

Vida que segue.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Deltan tinha pendência com o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), e não com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), como informado na primeira versão deste texto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL