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'Levei dois dias pra chorar': Servidores do Congresso narram como foi o 8/1
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A invasão dos prédios dos três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, completa dois meses sem algumas respostas e punições. Na memória de servidores públicos, no entanto, há imagens, sons e cheiros que permanecem como marcas de um dia histórico e triste para o Brasil.
Por um lado, há indícios de falhas ou conivência das forças de segurança, principalmente do governo do Distrito Federal. Por outro, na trincheira da resistência, alguns servidores arriscaram a vida para tentar conter danos ainda maiores aos prédios que abrigam as sedes dos Poderes.
Concursados públicos têm como responsabilidade prestar serviço ao país, independentemente do governo de ocasião.
O UOL conversou com quatro servidores — três do Senado e um da Câmara — que viveram de diferentes formas o dia 8 de janeiro. Eles defendem que os acontecimentos daquele dia foram um atentado à democracia e não podem ser esquecidos.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência) não autorizou a gravação de funcionários do Palácio do Planalto, com a justificativa de que há um inquérito policial em andamento e também para "evitar qualquer possibilidade de interferência nas investigações". O STF (Supremo Tribunal Federal) também não permitiu a participação de servidores.
Mais do que um local de trabalho
Algo comum aos entrevistados é a sensação de uma agressão quase pessoal, já que eles passam boa parte do tempo nas instalações do Congresso Nacional.
"Nos agrediram, mas nós voltamos mais fortes", diz a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, que estava de férias no dia 8, mas retornou a Brasília ainda naquela noite e ficou praticamente dois dias sem dormir. "Primeiro foi a adrenalina, demorei dois dias para chorar", diz.
A coordenadora-geral da Secretaria de Comunicação do Senado, Luciana Rodrigues, que é servidora do Senado há 25 anos, lembra os sentimentos misturados ao ver o Congresso sendo invadido. "Eu senti muita indignação. Revolta, raiva mesmo. Raiva de ver a nossa Casa sendo insultada, depredada", diz.
Luciana afirma que não consegue compreender como pessoas que se dizem patriotas podem destruir o patrimônio do país.
Tive um sentimento de muita incompreensão. Qual o nível de delírio coletivo que leva as pessoas a atacarem o prédio público e a sua própria representação institucional?"
Luciana Rodrigues, secretária de Comunicação do Senado
A diretora-geral do Senado compartilha deste sentimento de incompreensão, mas ressalta que é preciso combater a disseminação de notícias falsas sobre o episódio. "Assim como a invasão do Capitólio nos EUA, o 8 de janeiro não pode ficar perdido na história", diz Ilana.
Não podemos deixar a direita se apropriar da narrativa sobre o 8 de janeiro, precisamos ensinar nas escolas."
Ilana Trombka, diretora-geral do Senado
Resistência policial e efetivo em minoria
O coordenador-geral da Secretaria de Polícia do Senado, Gilvan Viana Xavier, lembra que estava fazendo ronda naquele domingo e inicialmente tinha um efetivo de apenas 15 policiais. "A central, num certo momento, falou que milhares de manifestantes tinham rompido a linha da PM e eu pedi para recuarmos para tentar fazer uma linha de contenção na rampa e na chapelaria."
Com o pedido de reforço, Gilvan comandou a tropa que resistiu e literalmente lutou para tentar conter os manifestantes, que estavam em um número muito maior.
Do lado da Câmara dos Deputados, o coordenador do Departamento de Polícia Legislativa, Adilson Paz, lembra que viu o momento em que os manifestantes passaram a barreira policial na Esplanada e tentou conter a invasão com granadas de efeito moral.
"A gente começou a perceber que não estava surtindo efeito pela quantidade de pessoas. Estamos preparados para o policiamento, mas ninguém imaginava que encontraria aquele cenário de guerra. Literalmente um cenário de guerra", diz.
Apesar de a polícia legislativa estar em menor número, houve resistência e, por cerca de três horas, manifestantes e policiais lutaram nas dependências do Congresso.
A diretora-geral do Senado fez questão de ressaltar que várias vezes relatou às autoridades o receio de uma invasão. "Sabíamos da chegada de muitos ônibus em Brasília. Tínhamos o receio de que algo fugisse do controle. Como aconteceu."
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