Toffoli sugeriu a Bolsonaro deixar o país antes da posse de Lula, diz livro
O ministro do STF Dias Toffoli, que presidiu a Suprema Corte durante parte do governo de Jair Bolsonaro (PL), chegou a dar conselhos ao ex-presidente após a derrota eleitoral de 2022. E uma das sugestões foi justamente a de que ele não passasse a faixa para Lula e deixasse o país antes da posse.
"Presidente, sua presença na cerimônia de posse só vai mostrar um país dividido, as pessoas vão vaiar", disse o ministro, de acordo com o livro "O Tribunal - Como a Suprema Corte se uniu ante a ameaça autoritária", de autoria dos jornalistas Felipe Recondo e Luiz Weber, será lançado nesta quarta-feira (22), em Brasília.
Bolsonaro e Toffoli sempre tiveram proximidade, e o ministro do Supremo manteve o diálogo com o ex-presidente, mesmo com os constantes ataques feitos ao STF.
Na conversa, segundo o livro, Bolsonaro disse que não era o responsável pelos apoiadores que estavam inconformados com a derrota e acamparam diante de quartéis pelo país. "Quem mobilizou essas pessoas não fui eu. Então, eu também não posso desmobilizar", rebateu.
Sendo assim, a conversa rumou para a conclusão de que "era melhor que Bolsonaro saísse do país e deixasse Lula receber a faixa presidencial de outra pessoa", conta o livro.
Moraes e o 'esculacho' aos militares
O livro conta ainda bastidores da relação entre o então ministro da Defesa de Bolsonaro, general Paulo Sérgio Nogueira, e o ministro do STF Alexandre de Moraes, que assumiu a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em agosto do ano passado, justamente com o desafio de apaziguar a tensão de Bolsonaro com a corte eleitoral.
Paulo Sérgio — que deixou o comando do Exército para assumir o Ministério da Defesa — acabou encampando as teses bolsonaristas contra as urnas eletrônicas e protagonizou embates com o TSE.
O livro traz a avaliação de Moraes sobre a relação com o general. "Quanto mais o Paulo Sérgio se aprofundava na ignorância do Bolsonaro, mais eu tinha o apoio do Alto-Comando do Exército", avaliava Moraes.
Como contava com o apoio de outros generais mais antigos, Moraes rebateu de forma dura os sucessivos relatórios que os militares enviavam ao TSE.
"Paulo, é pegar ou largar. Eu sou amigo de vocês, não vou esculachar vocês em público, porque se eu der uma entrevista falando das perguntas que vocês fazem, que é o básico, será vergonhoso, que vocês perderam até o prazo para pedir acesso ao código-fonte, disse Moraes, segundo testemunhado por assessores.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberDiante de questionamentos de Paulo Sérgio Nogueira sobre possibilidade de ser instalado programa espião em todas as urnas, Moraes rebateu: "Ô, Paulo Sérgio, pode ser que caia um meteoro e destrua a Terra. Tenha a santa paciência", conta o livro.
*Colaborou Paulo Roberto Netto, do UOL, em Brasília
Deixe seu comentário