Carla Araújo

Carla Araújo

Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Em vídeo, Bolsonaro diz que 'não é crime' enviar dinheiro aos EUA

O ex-presidente Jair Bolsonaro confirmou que enviou dinheiro para os Estados Unidos no fim de seu mandato e disse que "não é crime" efetuar esse tipo de transferência.

"Enviei, sim. Da minha poupança do Banco do Brasil para o BB América. Ou seja, o dinheiro continuou num banco brasileiro", afirma em vídeo divulgado na noite de quinta (15).

No início da gravação, ele cita as notícias sobre o envio de R$ 800 mil aos Estados Unidos em dezembro de 2022, "à espera de um golpe".

Dizia a nossa querida Polícia Federal que o último país do mundo onde um golpista, ditador enviaria dinheiro seria os Estados Unidos, porque é um país democrata, que respeita tratados. E esses recursos seriam imediatamente bloqueados.

Bolsonaro afirma ainda que, no ano passado, brasileiros enviaram para fora do país mais de R$ 2 bilhões de dólares. "Por que eles fizeram isso? Assim como eu: porque tínhamos dúvidas sobre a política e a economia do atual mandatário de esquerda."

Repito: isso não é crime.

O que diz a PF

Segundo a investigação da PF, a movimentação de recursos pode sugerir que Bolsonaro sabia que poderia ser responsabilizado juridicamente por atos ilícitos se o golpe desse errado.

"Em outra linha de atuação, os investigados tinham a expectativa de que ainda haveria a possibilidade de consumação do golpe de Estado. Por outro lado, cientes dos atos ilícitos cometidos, alguns investigados se evadiram do país retirando praticamente todos seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais, transferindo-os para os Estados Unidos, para se resguardarem de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos perpetrados", diz trecho do documento da PF no inquérito, ao qual o UOL teve acesso.

Continua após a publicidade

A PF afirma ainda que conseguiu obter informações a partir da quebra de sigilo de Bolsonaro e que "após frustrada a consumação do golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, o então presidente da República Jair Bolsonaro, no dia 27 de dezembro de 2022, às vésperas de sua saída do país, efetuou uma operação de câmbio no valor de R$ 800.000,03 (oitocentos mil reais e três centavos)".

Segundo a investigação, a variação cambial da operação ficou negativa em R$ 111.363,98. "O débito foi posteriormente coberto por um resgate de fundo DI de mesmo valor, zerando o saldo da conta em questão."

"A análise ainda revelou que entre os dias 27/12/2022 e 30/12/2022 ocorreram pequenos débitos, sempre cobertos por operações de resgate de fundo DI, indicando que havia algum saldo remanescente nessa modalidade de aplicação", diz o documento.

O que dizem os aliados de Bolsonaro

Aliados dizem que Bolsonaro afirma ter perdido cerca de R$ 40 mil com a movimentação dos recursos.

Eles rechaçam que o intuito de enviar o dinheiro aos Estados Unidos estaria relacionado com a tentativa de golpe e dizem que Bolsonaro afirmava que tinha medo de ser preso.

Continua após a publicidade

Além disso, alegam que o ex-presidente trouxe os recursos novamente para o Brasil.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.