Indiciamento de general Cid e almirante Bento causa desconforto na caserna
O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de mais 11 ex-auxiliares, incluindo militares de alta patente, no caso que apura irregularidades na venda de joias recebidas em viagens oficiais da Presidência, gerou novo desconforto na caserna.
Militares ouvidos pela coluna salientam que o desgaste causado pelas denúncias contra o ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, já estava "precificado", mas admitem que não é bom para a imagem das Forças Armadas ver um general, como Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid, e um almirante, no caso o ex-ministro Bento Albuquerque, envolvidos em acusações graves.
Bolsonaro e aliados foram indiciados pela Polícia Federal por peculato (desvio de dinheiro público), associação criminosa e lavagem de dinheiro. O caso agora aguarda manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República), que decide se vai denunciar ou não o grupo ao STF —aí os acusados poderiam se tornar réus na ação.
Apesar de admitir desconforto, a cúpula do Exército e da Marinha fazem eco às declarações do ministro da Defesa, José Múcio, de que o melhor para a reputação dos militares é que as investigações sejam concluídas, preservando as instituições e punindo eventuais culpados.
A avaliação feita na caserna, porém, é que todos os envolvidos terão o amplo direito de defesa e que ainda há a presunção da inocência, mas que não é papel dos atuais comandantes se envolverem no caso, já que o assunto é judicial e o trabalho da Justiça tem que ser respeitado.
A ordem tanto no Exército como na Marinha é reforçar internamente o discurso de que os militares não compactuam com desvios de conduta, mas também não fazem condenação antecipada.
Mourão defende colegas de patente
Atual senador, o ex-vice-presidente e general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos-RS) afirmou que acredita na inocência do general Lourena Cid, de quem é velho conhecido.
Mourão também vê com desconforto o indiciamento do general, mas defende a atuação do comandante do Exército, general Tomás Paiva, que ainda é criticado por parte da reserva.
"Vejo com desconforto e desconfiança, pois o general Cid não é um criminoso e, se houver um julgamento justo, será inocentado", disse Mourão à coluna, em relação à decisão da PF de indiciar o colega.
Mourão afirmou ainda que não conversou com o pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, mas imagina indignação com a investigação. "Não conversei, mas o conhecendo bem julgo que deve estar muito abatido", declarou.
A respeito da atitude do atual comandante do Exército, Mourão diz que o general Tomás "não pode fazer nada". "Discordo das críticas."
Reserva critica atual comandante
Alguns generais da reserva, que não participaram do governo, mas que são aliados ou simpáticos a Bolsonaro, disseminaram em alguns grupos críticas à atitude do comandante do Exército, general Tomás Paiva, alegando que ele deveria se antecipar aos fatos e "não abandonar um general".
Quem critica o atual comando do Exército defende o general Cid, classificando o militar como "competente" e de "carreira brilhante".
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Quero receberPara os colegas de patente, o general teria cedido à pressão de Bolsonaro e ajudado o filho, o tenente-coronel Mauro Cid, também a pedido do então presidente.
O envolvimento de militares com o governo Bolsonaro criou fissuras no generalato. Durante as investigações, por exemplo, a revelação de que o ex-ministro e ex-candidato a vice, general Braga Netto, chamou o ex-comandante, general Marco Antonio Freire Gomes, de "cagão", caiu muito mal. A postura de Braga Netto foi criticada por muitos colegas, mas também houve eco dos xingamentos entre outros fardados.
A coluna procurou o comandante do Exército e também o almirante Bento Albuquerque e o general Cid. Se houver retorno, a manifestação será incluída.
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