Carla Araújo

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Reportagem

Governo minimiza cobrança internacional e diz que já trabalha por Venezuela

Enquanto o presidente Lula (PT) parece querer ganhar tempo para se posicionar mais enfaticamente em relação à crise na Venezuela, membros do Itamaraty e do Palácio do Planalto tentam minimizar a pressão vinda do exterior para que o petista enfrente o ditador Nicolás Maduro.

Interlocutores do presidente ouvidos pelo UOL trataram até com certo desdém a carta assinada por 30 ex-chefes de Estado e governos pedindo que Lula "reafirme o compromisso com democracia" e pressione Caracas.

A avaliação é que o documento reforça o papel relevante que Lula tem na mediação do conflito, ao mesmo tempo que demonstra que tais ex-líderes desconhecem o trabalho que o governo brasileiro já tem feito desde segunda-feira da semana passada.

Fontes da diplomacia brasileira afirmam ainda que o país tem atuado nos bastidores e que a carta enviada a Lula seria "extemporânea e fora de foco".

Para defender que o governo brasileiro tem atuado para solucionar a crise na Venezuela fontes citam o reconhecimento da oposição.

Edmundo Gonzalez, candidato da oposição na Venezuela, incluiu o Brasil nos agradecimentos à comunidade internacional. Segundo ele, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos que se posicionaram de forma a cobrar transparência e a entrega de atas das eleições, antes de reconhecer os resultados finais.

Signatários repletos de polêmicas

A carta enviada a Lula é assinada por membros da Idea (Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas). O grupo é composto por 37 ex-líderes mundiais e, entre os que assinaram o documento, estão os ex-presidentes Maurício Macri, da Argentina, Álvaro Uribe e Iván Duque, da Colômbia, e Guillermo Lasso, do Equador.

O documento também é assinado por Mariano Rajoy, ex-primeiro-ministro (chamado de ex-presidente de governo) da Espanha, que governou em meio a um escândalo de corrupção sistêmica em seu partido e que levou à prisão do tesoureiro de seu grupo político.

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Outro ex-líder espanhol, José María Aznar, também chancela o documento. Aznar mentiu sobre o atentado terrorista há 20 anos em Madri, acusando o ETA de um ataque reivindicado, no final, pela Al Qaeda. Ele ainda adotou posições negacionistas em temas climáticos.

Na carta, assinada por líderes majoritariamente associados à direita, os ex-presidentes dizem que não há dúvidas de que a reeleição de Nicolás Maduro é ilegítima e dizem que o dirigente venezuelano se mantém no poder por meio da repressão e da "violação generalizada e sistemática dos direitos humanos" da população local.

Lula quer atas e solução conjunta

O governo brasileiro por sua vez tem buscado uma solução conjunta com Colômbia e México, também comandados pela esquerda, para a crise. Enquanto isso, Lula opta por um caminho em cima do muro e diz que aguarda as atas da eleição para definir um caminho.

As atas foram entregues pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral) à Corte Suprema nesta segunda-feira (5), mas a suspeição continua. Fontes do Itamaraty dizem que o governo brasileiro ainda aguarda informações do material que foi entregue para se manifestar.

Lula deixou o Chile nesta terça-feira sem falar sobre a crise venezuelana. Como mostrou a Folha de S. Paulo, o presidente teria atendido a um pedido da gestão do presidente chileno, Gabriel Boric, de não abordar o tema em Santiago, para evitar contaminar a visita. Auxiliares de Lula disseram a jornalistas que ele falará sobre o assunto no Brasil.

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