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Com PT e PDT unidos, Camilo deixa governo do Ceará sem cravar sucessor
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O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), renuncia amanhã ao cargo, às 17h, para disputar uma vaga no Senado nas eleições de outubro. Antes de pensar na campanha, o petista terá uma missão mais urgente: definir um nome entre integrantes de seu grupo para disputar sua sucessão. Parece estar longe um consenso sobre o candidato ao governo.
Oficialmente, quatro nomes estão na disputa, aparentemente sem nenhum favoritismo acentuado. Todos, porém, são do PDT, partido dos irmãos Cid e Ciro Gomes e que controla o poder no estado há 16 anos.
Disputam o apoio desse grupo o deputado federal Mauro Benevides Filho; o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão; o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio; e a vice-governadora Izolda Cela (que toma posse amanhã como governadora, a primeira mulher no cargo).
Dinâmica própria une PT e PDT
A conjuntura no Ceará tem uma dinâmica própria que foge ao fogo cruzado de PT e PDT em âmbito nacional. No estado, Camilo é aliado dos Ferreira Gomes e, na disputa federal, terá "coração dividido" entre Lula e Ciro.
Camilo é uma das raras unanimidades do grupo. Em 2018, ele conseguiu uma vitória esmagadora, com 79,9% dos votos no primeiro turno (a maior vantagem do país). Imbatível naquele ano, o grupo conseguiu montar uma aliança gigante, com 16 partidos, que agora buscam seus espaços.
Diante de um arco tão grande, o grupo tradicionalmente se demora na escolha. Foi assim em 2014, na seleção do próprio Camilo para suceder Cid Gomes no governo. Também foi assim em 2020, para escolher Sarto (PDT) para disputar e vencer a Prefeitura de Fortaleza.
Ao longo dos últimos 15 anos, a família Gomes e Camilo mantêm o grupo, desafiado novamente neste ano pelo deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), que se firmou como principal nome da oposição.
Demora é risco, diz especialista
A demora na escolha de um nome para concorrer às eleições é vista como um problema a ser resolvido no grupo, segundo a cientista política Monalisa Torres.
"Acho arriscado, mas têm sido assim as escolhas do grupo, aos 45 minutos do segundo tempo. Acredito que seja pela dificuldade de conseguir agradar uma base aliada tão grande", diz ela, que é professora da UECE (Universidade Estadual do Ceará) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da UFC (Universidade Federal do Ceará).
O maior risco do grupo é perder aliados importantes por essa lógica de escolha deixada para o final, para que os acordos sejam selados de fato. Em 2014, eles perderam, por exemplo, o [ex-senador] Eunício Oliveira [MDB] no grupo.
Monalisa Torres, cientista política
A briga no grupo não será apenas para escolher o nome de cima, mas também o vice. Com PDT certo na disputa ao comando do governo e o PT lançando Camilo ao Senado, restou apenas essa cadeira para o leque de partidos que compõem o grupo.
Recentemente, foi o PSD de Kassab que sinalizou ter interesse mais forte na vaga. O presidente do partido, por sinal, visitou o Ceará e fez um aceno falando da importância de Cid e Ciro e do interesse em compor como vice, indicando o ex-vice-governador Domingos Filho.
"Por isso as negociações acabam sendo muito longas, até para poder moldar tantos interesses e tantos aliados. Isso leva a essa característica do 'Ferreira-Gomismo' na hora da montagem desses desses arranjos para as eleições", afirma.
Adversário avança
Enquanto demora, o lado oposto está com o bloco na rua. Assim, Wagner consegue angariar apoios importantes. "Capturou" o novo gigante da política nacional, o União Brasil —a quem se filiou e comanda no estado.
E ele chega forte para a disputa. Em 2020, ele foi ao segundo turno da eleição em Fortaleza e conseguiu uma expressiva votação de 48,3% do eleitorado válido.
"O grupo do governo tem uma eleição competitiva pela frente, com um candidato de oposição que está se fortalecendo e costurando alianças. A União Brasil é um ativo importante pelo tempo de TV e recursos", lembra Monalisa.
Em meio a tanta indefinição, a cientista política tem uma aposta de quem é a favorita para ser candidata: a vice (que assumirá o governo amanhã) Izolda Cela.
"Ela tem um perfil parecido com o do Camilo, um nome técnico, sereno e que aceita o diálogo. Recentemente, Izolda teve uma conversa com a [deputada federal] Luizianne Lins, que é uma das principais defensoras de um palanque único do PT no Ceará. Isso sinaliza que ela pode reforçar um maior entendimento com o PT. Além disso, ela não tem direito à reeleição e abriria para um outro nome do grupo em 2026", finaliza.
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