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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Varíola dos macacos: faltam testes e campanha no país, dizem especialistas

Casos de varíola dos macacos quase triplicou em duas semanas no país   - GETTY IMAGES
Casos de varíola dos macacos quase triplicou em duas semanas no país Imagem: GETTY IMAGES

Colunista do UOL

24/07/2022 04h00

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O Brasil precisa, de forma célere, ampliar a rede laboratorial para diagnóstico e lançar uma campanha para informar a população sobre a varíola dos macacos, de acordo com especialistas consultados pelo UOL. Ontem, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou que a doença é uma emergência sanitária global.

No país, o número de casos quase triplicou em menos de três semanas, saltando de 218, no dia 9, para 607 na última sexta-feira (22).

"O Brasil tem acompanhado com uma certa negligência a disseminação da varíola dos macacos", avalia Fernando Aith, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).

Aith ressalta que até hoje não houve uma campanha pública de informação. "Isso deve ser feito para dizer as formas de transmissão e o que fazer no caso de suspeita", afirma, citando também que é preciso "aumentar a rede habilitada para fazer o teste com rapidez".

Ele também defende que o Ministério da Saúde prepare um protocolo clínico com diretrizes para orientar a atuação das redes de saúde pública e privada. "Ele deve nortear as condutas adequadas a serem adotadas no caso de suspeita para fins de diagnóstico e depois, terapêutica", explica.

No último dia 11, quando o número de casos crescia, o Ministério da Saúde encerrou as atividades da sala de situação montada para monitorar o avanço da doença. A pasta explicou que a organização e a coordenação das ações de vigilância passaram a ser feitas pela coordenação do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde.

"O problema é que tudo está sendo feito com uma certa vagarosidade, considerando a rapidez com que a doença está se disseminando. O Brasil tem muita lição de casa a fazer no que se refere a essa emergência internacional", critica Aith.

23.jul.2022 - A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência internacional por varíola do macaco - Reprodução/YouTube/WHO - Reprodução/YouTube/WHO
23.jul.2022 - A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência internacional por varíola do macaco
Imagem: Reprodução/YouTube/WHO

Podem faltar insumos

A virologista Giliane Trindade, que integra a Câmara Técnica Temporária coordenada pela RedeVírus do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações), afirma que o país montou já muitas ações para responder à doença, mas defende a ampliação da rede de diagnóstico.

"Existem ações transversais entre os dois ministérios (MS e MCTI), e eu considero que estamos bem. Temos condições de fazer diagnóstico e vigilância, mas se o número de casos aumentarem muito será preciso expandir a capacidade diagnóstica", afirma.

A compra de insumos, diz Trindade, é um problema a ser enfrentado na expansão da rede. "Se expandirmos o número de laboratórios, eles precisarão dos insumos —que estão demorando em média um mês ou um pouco mais para chegar", relata.

A infectologista da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães, também defende campanhas, que devem também incluir também os profissionais de saúde.

"É uma situação preocupante e precisamos fornecer condições para diagnóstico clínico também. Os médicos precisam notificar os casos em menos de 24 horas para que a vigilância epidemiológica seja realizada no sentido de ter a disseminação da doença", diz.

"Para isso, é preciso testes confirmatórios disponíveis, tratamento em caso de agravamento e evitar a disseminação da infecção, promover a contenção", afirma.

Para Magalhães, o crescimento de casos no país é uma situação preocupante e necessita de respostas mais fortes e urgentes das autoridades.

Precisamos oferecer laboratórios com testes em PCR e direcionar os casos graves para rede assistencial. A maioria não vai precisar se internar, são casos leves e moderados. Mas temos os casos de imunodeprimidos, e é preciso ter antivirais para uso
Vera Magalhães, UFPE

Vacina contra varíola dos macacos, que ainda não está disponível no Brasil - Getty Images - Getty Images
Vacina contra varíola dos macacos, que ainda não está disponível no Brasil
Imagem: Getty Images

Ministério: Brasil está pronto

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que adota "todas as medidas" anunciadas pela OMS desde o início de julho. "Com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, o Brasil está preparado para enfrentar a varíola dos macacos", informa o texto.

O ministério diz ainda que "realiza o constante monitoramento e analisa diuturnamente a situação epidemiológica para orientar as ações de vigilância e resposta à doença no Brasil".

A pasta cita ainda a sala de situação como uma das medidas. "Antes mesmo da ocorrência de casos suspeitos ou confirmados da varíola dos macacos no país, o ministério instalou uma Sala de Situação para elaborar um plano de ação com o objetivo de estabelecer estados e municípios sobre a melhor forma de atender a população", afirma.

Participam da coordenação, além do Ministério da Saúde, conta com Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e OPAS (Organização Pan-americana da Saúde).

Sobre testes, o ministério diz que "estão disponíveis para toda a população que se enquadre na definição de casos suspeitos para varíola dos macacos, sendo atualmente realizados em quatro laboratórios de referência no país".

Sobre imunização, o ministério diz que tem articulado a compra com a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) e a OMS as tratativas para aquisição da vacina contra a varíola dos macacos, de forma que o PNI (Programa Nacional de Imunizações) possa definir a estratégia nacional de imunização.