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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Militares ajudaram a criar urna eletrônica, diz ex-presidente do TSE

Carlos Veloso falou durante evento na UnB - Jardel Rodrigues/SBPC
Carlos Veloso falou durante evento na UnB Imagem: Jardel Rodrigues/SBPC

Colunista do UOL

29/07/2022 18h36

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Responsável pela gestão de comando no período de criação e implantação das urnas eletrônicas no país, em 1996, o ex-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Carlos Veloso chamou hoje de "má-fé" a conduta de pessoas que hoje atacam o sistema eleitoral brasileiro. "São mais 25 anos de uso sem nenhum indício de fraude", ressaltou.

Durante a Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), na UnB (Universidade de Brasília), Veloso lembrou que as mesmas Forças Armadas, que hoje tecem críticas e opinam sobre as urnas, colaboraram com sua elaboração entre 1995 e 1996.

"O TSE procurou apoio do mundo científico, e sabíamos que a Aeronáutica tinha o ITA [Instituto Tecnológico da Aeronáutica]; Marinha e Exército tinham os seus serviços de informática. Então solicitamos a ajuda desses técnicos", afirmou.

Ele ainda criticou as falas do ministro da Defesa, o general de Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que defendeu que os militares deveriam contribuir com sugestões ao sistema eleitoral.

Eu me espanto quando, a essa altura, um ministro da Defesa faz sugestões, sendo que os militares colaboraram com muita competência e muita decência. Mas eram tempos de sol."
Carlos Veloso, ex-presidente do TSE

Fraudes no Rio impulsionaram modernização

Segundo o ex-presidente e professor de direito aposentado da UnB, o TSE decidiu dar início ao processo de modernização da votação em 1995, quando o tribunal entendeu que "era preciso afastar a mão humana da apuração e da totalização dos votos".

"Em 1994, nós tivemos uma eleição no Rio que foi muito fraudada. Eram cédulas falsificadas e principalmente o mapismo. E o que era isso? Na apuração, alguém cantava o número dos votos do candidato, e havia infiltrados a serviço de certos candidatos. Se dizia: 35 votos, mas ele punha no mapa cinco, guardava 30 para o seu candidato. Isso elegia ou 'deselegia' pessoas", diz.

À época, as fraudes da eleição do Rio foram destaque nacional. Segundo os relatos da imprensa na época, até juízes estariam envolvidos no esquema. À época, o Comando Vermelho ameaçou de morte o então juiz Luiz Fux (hoje ministro do STF, Supremo Tribunal Federal). Agentes da Polícia Federal protegeram outros juízes que foram ameaçados.

Diante de acontecimentos comuns e rotineiros de fraude, Veloso diz que a cúpula do tribunal decidiu que era preciso começar a revolução dos computadores e informatizar o voto.

"Criamos uma comissão de notáveis, com juristas, cientistas políticos e técnicos em informática. Foram 40 personalidades que fizeram os estudos, e de lá para cá o sistema vingou. Funcionou pela primeira vez em 1996 e até hoje vem funcionando à perfeição", afirma.

Segundo ele, a contagem de votos feita manualmente sempre foi problemática porque a Justiça Eleitoral não tinha gente suficiente para acompanhar todas as mesas receptoras e mesas apuradoras. "Então a gente requisitava pessoas para participar", lembra.

Quando vejo hoje os ataques por má-fé, usando a segurança da nossa urna, fico muito sentido. As urnas eletrônicas foram fruto de um trabalho dos brasileiros de boa vontade. Na época falamos: não queremos comprar nada de fora, ela vai ser tupiniquim."
Carlos Veloso, ex-presidente do TSE

O ex-presidente ainda lembrou o questionamento da votação para presidente em 2014, feito pelo PSDB. "Em um ano, aquela representação foi investigada, perícias foram feitas e resultado foi: nenhuma fraude. Politicamente hoje está explicado porque o candidato do PSDB perdeu a eleição", diz.

"A nossa urna é segura, eficiente e barata. Uma urna nos EUA custa US$ 10 mil, e a brasileira custa até hoje entre US$ 900 a US$ 1.000. Nós produzimos nossa tecnologia, é uma urna feita por brasileiros", finaliza.