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Vestido de bolsonarista, Collor fracassa e fica sem mandato após 16 anos
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Os apoios de líderes do bolsonarismo em Alagoas e fora dele não foram suficientes para alavancar a candidatura do senador Fernando Collor (PTB) ao governo do estado. Na votação deste domingo, a nova versão do ex-presidente bolsonarista foi derrotada em sua quarta tentativa de voltar ao cargo que exerceu entre 1987 a 1989.
Collor agora assistirá ao segundo turno entre o governador Paulo Dantas (MDB) e o senador Rodrigo Cunha (União Brasil). O mais provável é que ele não declare apoio a nenhum dos dois.
Durante a campanha, Collor não contou com vídeo de apoio de Bolsonaro e explicou a ausência como um "respeito" ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que apoia Cunha na disputa em Alagoas.
Collor está em fim de mandato no Senado e desistiu de tentar a reeleição por não querer ser derrotado pelo ex-governador Renan Filho (MDB).
Isolado politicamente em Alagoas, o senador foi se aproximando do presidente nos últimos meses, a fim de ganhar popularidade entre o público.
Apesar de já ter sido apoiador do PT e de ter sido duro crítico da gestão de Jair Bolsonaro na pandemia, foi ganhando confiança e votando sempre a favor do presidente no Senado.
Na campanha, incorporou o lema de Bolsonaro de "Deus, pátria, família e liberdade" e fez juras de amor e identificação com o bolsonarismo.
Foi assim que, embalado pela promessa de apoio da base fiel bolsonarista em Alagoas, se lançou ao governo do estado e conseguiu, em suas negociações, o apoio formal do PL, que indicou o vice na sua chapa: o vereador de Maceió Leonardo Dias.
Apesar do apoio dos mais fiéis bolsonaristas no estado, Collor não conseguiu emplacar nas pesquisas e só caiu.
Nos primeiros levantamentos, ele aparecia em segundo lugar, apontado como favorito a polarizar a disputa com o governador Paulo Dantas. Mas bastaram algumas semanas para que ele fosse ultrapassado pelo colega Rodrigo Cunha.
Histórico decadente
Collor já foi governador de Alagoas entre 1987 a 1989. Depois de eleito e de sofrer o impeachment da Presidência em 1992, ele já tentou outras três vezes ser governador do estado, sempre encolhendo de eleitorado.
Em 2002, foi derrotado pelo então governador Ronaldo Lessa (hoje no PDT) em uma eleição definida já no primeiro turno.
Em 2010, tentou novamente, mas também caiu antes do segundo turno, que foi disputado por Ronaldo Lessa e Teotônio Vilela (PSDB).
Já em 2018, ele renunciou à disputa ao governo a pouco menos de um mês da eleição alegando falta de apoio político e financeiro.
Em 2022, porém, Collor decidiu não tentou renovar o mandato e enfrentar Renan Filho.
Desempenho Collor por eleição ao governo após o impeachment:
2002:
- 40,1% dos votos válidos
2010:
- 28,8% dos votos válidos
2018:
- Renunciou quando tinha 22% das intenções de voto (Ibope em 16/8)
2022:
- 14,7% dos votos válidos
Soma de rejeições complicou situação
Para a cientista política Luciana Santana, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), a estratégia de Collor de se alinhar a Bolsonaro não pode ser considerada um erro, mesmo em um estado do Nordeste (onde o presidente tem seus piores índices).
"Foi na verdade uma tentativa de ter sobrevida política, já que ele também não tinha chance de reeleição ao Senado", diz.
Ele fez uma aposta nessa nacionalização das campanhas, que vingou em vários estados, mas em Alagoas não vingou."
Luciana Santana, da Ufal
Ela aponta que historicamente Collor tem tido dificuldades em tentar voltar a cargo no Executivo após deixar a Presidência por conta da alta rejeição.
"Ele tem uma alta rejeição acumulada ao longo dos anos, além da própria rejeição ao projeto bolsonarista no estado. Essas duas coisas não têm como se desvincular e se somaram para chegar a esse resultado hoje", afirma.
Ela diz também que houve uma dificuldade para Collor conseguir atrair o eleitor bolsonarista, e ela atribui isso à própria trajetória política do senador.
"Ele é uma figura que, diferentemente de outros candidatos, não tem coerência ideológica ao longo dos tempos. Prova é que ele já esteve em outros palanques como o dos petistas Lula e Dilma Rousseff; apoiou Michel Temer (MDB) e já foi contrário a Bolsonaro", afirma.
Outro ponto que ela aponta como um complicador à candidatura de Collor é que —apesar de ele ter sido o único que associou sua imagem à de Bolsonaro— o palanque de Rodrigo Cunha tem o apoio direto de Arthur Lira, que também acaba sendo visto como um palanque ligado a Bolsonaro.
"Arthur é o principal aliado do presidente do país, então acho que isso divide realmente o eleitorado. Rodrigo não tem o eleitorado todo de bolsonarista; tem muito eleitor que gostaria de votar em alguém que não fosse nem Lula nem Bolsonaro, e encontra no Rodrigo essa neutralidade. Talvez por isso ele é o menos rejeitado", finaliza.
Fora do mandato a partir de 2023, Collor terá de enfrentar problemas com o Judiciário. Ele é alvo de denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) de crimes de corrupção.
A ação penal contra Collor está à espera de julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal), e o processo —que junta vários inquéritos— está concluso ao relator Edson Fachin desde janeiro.
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