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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Michelle prega 'guerra santa' por votos com apoio político em igrejas no NE

15.out.2022 - Michelle participa de ato em Maceió em igreja na periferia - Facebook/Divulgação
15.out.2022 - Michelle participa de ato em Maceió em igreja na periferia Imagem: Facebook/Divulgação

Colunista do UOL

18/10/2022 04h00

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Em meio a gritos de "aleluia" e "louvado seja", a primeira-dama Michelle Bolsonaro prega a um público que ouve tudo atentamente que essa não é uma eleição presidencial, mas uma "guerra espiritual".

"Não estamos falando de um político, mas de uma ideologia do bem contra o mal", afirma ela em uma igreja na periferia de Maceió, na noite do último sábado, a centenas de fiéis. "O inferno está se levantando", diz, em referência ao PT. A seu lado, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), assistiu à cerimônia.

Ela e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) fazem um tour pelos estados do Nordeste desde a semana passada. Em todos os locais, foram recebidas por religiosos do campo evangélico e por políticos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Muitas vezes, falou em igrejas lotadas, como na capital alagoana.

A visita à região é estratégica, já que Bolsonaro perdeu em todos os nove estados no primeiro turno. Em 2 de outubro, Lula teve 66% dos votos válidos na região, contra 27% de Jair Bolsonaro. Conseguir reduzir a rejeição —e assim a diferença de votos— é considerado fundamental pela campanha.

Michelle foi escalada para essa missão e contou com nomes de peso da política local.

Em João Pessoa, por exemplo, teve apoio do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga; em Natal, do senador eleito Rogério Marinho (PL); em Fortaleza, do deputado federal Capitão Wagner (União Brasil); Em Teresina, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP).

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Ex-ministro e senador eleito pelo RN, Rogério Marinho, ao lado de Michelle em ato em Natal
Imagem: Facebook/Divulgação

O UOL assistiu ao ato dela em Maceió, única capital da região em que Bolsonaro ficou à frente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O discurso, porém, só repete o que já disse pelo Nordeste: mescla falas que tentam pôr medo do comunismo e da perseguição que um governo Lula teria a evangélicos. Até o demônio e o inferno são citados.

Depois de criar o ambiente de pânico moral, ela diz que todos devem buscar votos para a reeleição do marido. "Queremos a reeleição porque sabemos que é a missão que Deus nos confiou."

Saiam daqui com uma chama acesa no coração para multiplicar os votos dos que ainda estão indecisos. Peçam sabedoria para conversar com eles. Precisamos tirar esse espírito do mal do Brasil. Estamos trabalhando para o nosso povo ter liberdade religiosa."
Michelle Bolsonaro, primeira-dama

A curta, mas incisiva, pregação deixa claro o objetivo: que todas as pessoas ali se transformem em cabos eleitorais do presidente, com um foco mais específico para converter votos de eleitores ainda em dúvida.

"Meus amados, precisamos interceder cada vez mais, precisamos orar para que o espírito de Deus venha convencer aqueles que não se posicionaram. Triste saber que alguns líderes religiosos não se posicionaram", diz.

Apoios de peso

Em Maceió, ela e Damares não estavam sós no lado político-religioso. O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), usou o púlpito para declarar que essa "também é uma guerra espiritual".

"Estamos perto da vitória porque essa vitória é Dele [Deus]", diz o prefeito, que deixou o PSB na semana após o primeiro turno e foi para o PL.

A troca de elogios entre ele e a primeira-dama foi vista também por políticos apoiadores de Bolsonaro e que assistiram ao culto lotado na igreja AD Brás, no bairro da Serraria.

Na sua fala, além de pedir votos, o presidente da Câmara deu o cunho ideológico do discurso moral. "Eu quero um Congresso de centro-direita conservador e inovador", afirmou Arthur Lira para os fiéis.

Começo com desculpas

Apelando para o medo, associou o PT (que chama de partido das trevas) ao demônio. Michelle inicia a palestra com um pedido de desculpas pelas falas "imperfeitas" do marido e para negar o discurso de que ele não gosta de mulheres.

"Estou aqui para tirar esse rótulo de que meu marido não gosta de mulheres", diz. "Essa mentira foi contada em algum momento, talvez por alguma fala dele. Somos imperfeitos, perfeito aqui só Jesus", completa.

Ela afirma que, aos 67 anos, Bolsonaro não deve ser punido por sua sinceridade e por falas "erradas" e dá a deixa para que a maioria ali defenda o capitão quando o argumento for esse.

"Ele é de outra geração, teve educação militar. Jair é um homem muito estrategista e inteligente, mas muito sensível e ingênuo. Nessas horas ele comete os seus erros na espontaneidade dele e fala alguma palavra que acaba desagradando. Somos imperfeitos e temos o direito de melhorar a cada dia", conta.

No dia anterior à pregação, Bolsonaro havia dito que "pintou um clima" dele com adolescentes venezuelanas entre 14 e 15 anos que faziam um trabalho de assistência social em Brasília.

Sem citar o episódio, Michelle segue nos pedidos de desculpa em nome do marido. "Ele fez um vídeo pedindo perdão se ele machucou alguém com a sua palavra. Ele tem muito temor a Deus", diz.

MAceio - Facebook/Divulgação - Facebook/Divulgação
Público lotou igreja AD Brás, em Maceió
Imagem: Facebook/Divulgação

Homilia e política

"Somos um milagre", diz Michelle em outro trecho, citando a sobrevivência do marido à facada sofrida em 2018 em Juiz de Fora (MG), durante campanha eleitoral. "Deus fez um milagre na vida de meu esposo. Ali, tive o entendimento que Deus nos escolhe."

A primeira-dama diz que, de início, duvidou. "Eu não acreditava no chamado que ele pudesse ser presidente. Ele não tinha tempo de televisão. Mas, se Deus nos deu essa missão, e como somos obedientes e tementes, cumprimos", relata.

Mas governar, diz, "tem sido muito difícil", porque essa é uma "guerra espiritual". "Os ataques são grandes, mas ele é um homem forte e corajoso. É um verdadeiro patriota. O inferno tem se levantado porque não tem um dia que não tenhamos a presença do senhor."

Michelle diz que lembra todos os dias ao marido que ele "é um instrumento de Deus para ser presidente". "É o senhor Jesus [que manda], e ele entende e respeita, graças a Deus."

Já o PT é o partido das trevas, "que tanto ficou no poder e não fez nada pelos que mais precisavam".

Damares Alves e Michelle durante ato no Recife, na sexta - Facebook/Divulgação - Facebook/Divulgação
Damares Alves e Michelle durante ato no Recife, na sexta
Imagem: Facebook/Divulgação

Tem mais mistura de fé e política, sem nunca citar Lula nominalmente. "Ele teve oportunidade de trazer água para o Nordeste e não trouxe. Agora diz que vai dar picanha. O pai da mentira é o diabo."

Michelle diz que os fiéis devem temer o comunismo. Ela cita Roraima, por onde chegam imigrantes venezuelanos. "São crianças que chegam com seus pais. O que estamos vendo é que o Brasil a última fronteira para o comunismo. Nós abrimos as portas para padres e freiras expulsos da Nicarágua."

O outro lado está nos ameaçando, está com sede de vingança. Nós seremos perseguidos. Precisamos nos humilhar diante do Senhor e pedir perdão. Não sabemos o que estão fazendo."
Michelle Bolsonaro

Antes do fim do evento, o público ainda cantou uma música de campanha de Jair Bolsonaro.