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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Ocupação de áreas urbanas de risco triplica no país desde 1985, diz estudo

Favela em Manaus, cidade que teve o maior aumento de área ocupada por esses aglomerados no país - Eduardo Knapp/Folhapress
Favela em Manaus, cidade que teve o maior aumento de área ocupada por esses aglomerados no país Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Colunista do UOL

04/11/2022 00h01Atualizada em 04/11/2022 13h53

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A ocupação urbana em áreas de risco triplicou entre 1985 e 2021, segundo estudo divulgado hoje pelo MapBiomas, uma iniciativa multi-institucional de universidades, ONGs e empresas de tecnologia que monitora a cobertura e o uso da terra no Brasil.

Segundo o estudo, houve um salto de 350 km², em 1985, para 1.000 km², em 2021. O documento aponta ainda que, de cada 100 km² de aglomerados subnormais —como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) classifica as favelas—, 15 foram construídos em áreas de risco.

De acordo com os dados, existem 887 cidades com alguma área urbanizada em áreas de risco. Dessas, 20 cidades respondem por 36% de toda a área de risco ocupada nos últimos 36 anos.

O Cerrado lidera o ranking dos biomas com o maior aumento das áreas urbanizadas em risco:

  • Cerrado - 382%
  • Caatinga - 310%
  • Amazônia - 303%
  • Mata Atlântica - 297%
  • Pampa - 193%
  • Pantanal - 187%

Segundo Mayumi Hirye, coordenadora do mapeamento de Áreas Urbanizadas do MapBiomas, há uma sobreposição das áreas de risco com as das ocupações informais.

"Estamos falando de áreas de alta declividade em morros e encostas, ou na beira de córregos e rios. São muito pouco aptas à urbanização e ficam à margem do mercado imobiliário formal. Assim, elas acabam invadidas", afirma.

As cidades com mais áreas de risco são:

  1. Salvador
  2. Ribeirão das Neves (MG)
  3. Jaboatão dos Guararapes (PE)
  4. São Paulo
  5. Recife
3.junho.2022 - Casas em área de risco no Jardim Monte Verde, entre Recife e Jaboatão dos Guararapes - Sérgio Cadena/Arquivo Pessoal - Sérgio Cadena/Arquivo Pessoal
3.junho.2022 - Casas em área de risco no Jardim Monte Verde, entre Recife e Jaboatão dos Guararapes
Imagem: Sérgio Cadena/Arquivo Pessoal

Mais cidades com favelas

O número de cidades do país com favelas cresceu 25% em 36 anos. Em 2021, os aglomerados subnormais estavam presentes em 738 municípios brasileiros. Em 1985, primeiro ano com dados, esse número era de 538. A análise do grupo foi feita usando imagens de satélite.

Nesse período, o país ganhou uma área equivalente a 105 mil campos de futebol de favelas, com destaque para a região Norte. Segundo a análise, 13 das 20 cidades com o maior crescimento entre 1985 e 2021 ficam nessa região.

Crianças correm em ponte de madeira junto a palafitas do bairro Raiz, em Manaus  - Eduardo Knapp/Folhapress - Eduardo Knapp/Folhapress
Crianças correm em ponte de madeira junto a palafitas do bairro Raiz, em Manaus
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

A cidade que mais registrou área de favela foi Manaus, que em 36 anos viu a área expandir em 95 km².

Mayumi explica que as áreas classificadas como aglomerados subnormais nem sempre são favelas com moradia precária como conhecemos.

"A definição é pouco maior: temos loteamentos que são feitos sem infraestrutura, temos as áreas invadidas. São pessoas na pobreza que têm menos acesso ao mercado imobiliário formal e migram para essas localidades por falta de opção", diz.

Ela explica que esse processo de urbanização tem sido mais visto nos últimos anos na região Norte, o que ajuda a entender a alta no número de favelas.

"Esse processo de informalização nas cidades ocorre de forma mais recente no Norte. Nas maiores cidades, em geral, isso foi mais forte antes de 1985. São Paulo, por exemplo, tem uma concentração histórica enorme desses aglomerados, que continuam ocorrendo; mas no Norte as cidades têm crescido muito nesse período", pontua.

Cidades com maior aumento de áreas urbanizadas em favelas (em km²):

  1. Manaus - 95,5
  2. São Paulo - 55,9
  3. Belém - 54,5
  4. Rio de Janeiro - 50,4
  5. Salvador - 48,1
  6. São Luís - 39,9
  7. Cariacica (ES) - 32,1
  8. Fortaleza - 28,5
  9. Brasília - 38,4
  10. Serra (ES) - 27,5

Áreas urbanizadas crescem

Segundo o estudo, entre 1985 e 2021, as áreas urbanizadas do país mais do que triplicaram e passaram de 120 mil km² para 370 mil km². Desse total, 10,6 mil km² eram de áreas de ocupação informal —uma expansão que equivale a três vezes a área da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

O levantamento mostra que essa expansão urbana ocorreu especialmente sobre áreas de uso agropecuário: 67,8% do total dessa área era de uso agropecuário e 30,7% eram áreas de pastagens, por exemplo.

Apesar de a agropecuária ter quase 70% de crescimento nas áreas urbanas, é o avanço sobre a vegetação nativa que nos chama atenção. Proporcionalmente, alguns estados perderam mais da metade da sua cobertura natural para as áreas urbanizadas, afetando os ecossistemas naturais em que se inserem as cidades e contribuindo para uma resposta menos eficiente aos desafios climáticos."
Mayumi Hirye, do MapBiomas