Topo

Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Favela onde Bolsonaro entregou prédios alaga em Maceió: 'Perdi quase tudo'

Colunista do UOL

04/07/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

As favelas da orla lagunar do bairro do Vergel do Lago, em Maceió (AL), foram alagadas ontem após o nível da água da lagoa Mundaú subir e invadir barracos. O estado vive a maior cheia de rios de sua história, provocada principalmente por chuvas em Pernambuco, onde estão as cabeceiras. Ao menos duas pessoas morreram.

O local foi visitado e teve prédios inaugurados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na última terça-feira (28). Os apartamentos servirão para receber moradores dessas favelas e acabar com o maior bolsão de miséria na cidade.

Na semana passada, Bolsonaro entregou, ao lado do prefeito JHC (PSB), 160 apartamentos dos 1.776 previstos para o Residencial Parque da Lagoa. Apesar da solenidade, não há ninguém morando no local, já que as chaves devem ser entregues aos primeiros beneficiários apenas esta semana.

Com a água da lagoa invadindo barracos, moradores foram retirados do local e levados para abrigos. As águas da lagoa também invadiram ruas e casas em outros bairros da capital como Bom Parto, Levada, Pontal da Barra e Trapiche.

Na favela Sururu de Capote, onde foi montado o palco para Bolsonaro, os moradores reclamaram ontem da situação e da demora em serem contemplados com os apartamentos. Também contaram como perderam seus pertences por causa dos alagamentos.

Nível da lagoa Mundaú subiu e invadiu barracos após receber água dos rios que transbordaram - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nível da lagoa Mundaú subiu e invadiu barracos após receber água dos rios que transbordaram
Imagem: Arquivo pessoal

"O cadastro [para receber um apartamento] está feito, mas a gente não foi contemplado ainda. São 37 anos que moro aqui", relatou o pescador José Soares de Oliveira.

"Se eu não tirasse as coisas, ia perder o fogão e a geladeira. A minha cachorra também quase morre. Perdi o resto todo, não tenho nada mais. Precisamos de ajuda", disse a moradora Fernanda dos Santos.

Fernanda dos Santos diz que teve prejuízos com a água invadindo seu barraco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fernanda dos Santos diz que teve prejuízos com a água invadindo seu barraco
Imagem: Arquivo pessoal

Situação crítica em Alagoas

Alagoas enfrenta, desde a madrugada de sábado (2), a maior cheia de rios já registrada no estado. Ao todo, desde maio, 51 municípios (ou seja, metade dos 102 do estado) decretaram emergência.

Segundo informou ontem a Defesa Civil, cerca de 40 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas. Segundo o governo, 29 cidades estão em situação mais crítica.

Desde a sexta-feira (1º), as fortes chuvas nas cabeceiras dos rios em Pernambuco fizeram com que todas as bacias hidrográficas registrassem transbordamento no estado.

Rio Largo foi um dos municípios mais atingidos do estado pelas chuvas - Defesa Civil Estadual - Defesa Civil Estadual
Rio Largo foi um dos municípios mais atingidos do estado pelas chuvas
Imagem: Defesa Civil Estadual

Dados da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos apontam que, em 60 dias, choveu mais do que a média histórica anual em Alagoas. A cheia dos rios já é considerada maior que a de 2010, quando 27 pessoas morreram.

Em nota, a Prefeitura de Maceió afirmou que montou pontos de apoio nos bairros do Vergel do Lago e Fernão Velho para atender famílias afetadas pelo transbordamento da lagoa Mundaú.

A prefeitura também informou que vai pagar um auxílio emergencial de até R$ 3 mil às famílias atingidas pelas cheias e chuvas na capital.

A Secretaria de Assistência Social disponibilizou 15 caminhões para a retirada de todas as famílias desalojadas e desabrigadas, que foram para a casa de familiares ou para abrigos da prefeitura. Segundo a administração municipal, duas escolas estão recebendo os desalojados e desabrigados nos dois bairros.

"Também serão oferecidas as três refeições do dia e água mineral para os moradores afetados pela enchente, além de 1.200 colchões, roupas e cestas básicas", completa a nota.