Topo

Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Policial ligado a cofre com R$ 4 milhões ganha R$ 10 mil e pediu aumento

Colunista do UOL

07/06/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A operação Hefesto, realizada pela PF na semana passada, encontrou um cofre com R$ 4,4 milhões em um endereço ligado ao empresário Murilo Sergio Jucá Nogueira Junior, em Maceió. Policial civil há 20 anos, ele entrou na Justiça cobrando um aumento no salário devido à ampliação da carga horária.

O que aconteceu

O policial tem salário-base de R$ 10,5 mil mensal, segundo o Portal da Transparência de Alagoas. Ele atua na Central de Flagrantes de Maceió, maior delegacia de Alagoas.

Nogueira reclamou na Justiça que o Estado aumentou a carga horária de 30 para 40 horas semanais, sem alta proporcional na remuneração. Ele entrou com uma ação na Justiça em dezembro de 2022.

O pedido foi negado pelo juiz Emanuel de Andrade Barbosa, do Juizado da Fazenda Pública Estadual, em sentença dada no último dia 30 de maio.

O magistrado entendeu que a lei estadual que regula a carreira previa carga de 40 horas quando Nogueira prestou o concurso. E que não houve mudança normativa que justificasse a ampliação de salário.

A coluna procurou o advogado que entrou com a ação em nome de Nogueira, mas não houve retorno às mensagens enviadas.

Concluo que a parte autora, agente da Polícia Civil, desde o ingresso no cargo esteve submetido ao regime de tempo integral, obedecendo à carga horária máxima de 40 horas semanais. Como não houve aumento da jornada de trabalho com o advento da Lei Estadual n.º 6.441/2003, ficam rejeitadas as pretensões autorais."
Emanuel de Andrade Barbosa, do Juizado da Fazenda Pública Estadual

As empresas do policial

Nogueira é sócio de sete empresas, que somam capital total de R$ 23 milhões. Seis delas estão em Maceió e uma em Brasília.

Elas possuem diversos contratos de prestação de serviço com órgãos públicos de Alagoas, como para fornecer mão de obra terceirizada e no setor de limpeza.

O local onde foi achado o cofre não é o endereço sede de nenhuma das empresas. A origem do dinheiro está sendo investigada.

A coluna não conseguiu contato com Murilo, nem com sua defesa na operação Hefesto.

Central de Flagrantes, no bairro da Gruta de Lourdes, em Maceió - Google Earth - Google Earth
Central de Flagrantes, no bairro da Gruta de Lourdes, em Maceió
Imagem: Google Earth

O que diz o governo de AL

O governo estadual informou que Nogueira não responde a nenhum processo administrativo ou investigativo e que ele presta serviços normalmente.

O Governo do Estado não tem conhecimento de nenhuma atividade ilícita do policial civil Murilo Sérgio Nogueira Júnior e, assim que tomar conhecimento das investigações da Polícia Federal, tomará as providências cabíveis."
Governo de Alagoas

Por que Nogueira é investigado

A investigação da Polícia Federal é sobre desvios em contratos para a compra superfaturada de kits de robótica com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Na quinta-feira (1º) ocorreu uma operação para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão.

Conforme a apuração da PF, Nogueira recebeu R$ 550 mil de Edmundo Catunda, sócio da Megalic, empresa de um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), que venceu licitações para venda dos kits.

Além disso, um carro usado para transportar dinheiro vivo era de propriedade de Nogueira em janeiro, segundo apurou a PF.

Esse mesmo carro, uma Toyota Hilux preta, foi usado por Lira em sua campanha de 2022, em doação feita pelo policial ao então candidato.

Lira, que não foi alvo da operação, diz não ter qualquer relação com o suposto esquema na compra dos kits. "Cada um responde pelo seu CPF", declarou o deputado federal.