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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Suspeito de matar mulher impõe medo e faz silêncio imperar em cidade de AL

Leandro é procurado pela polícia por suspeita de feminicídio - Reprodução
Leandro é procurado pela polícia por suspeita de feminicídio Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

20/06/2023 11h00

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O assassinato de Mônica Cavalcante, 26, no último domingo, causou grande comoção em São José da Tapera, no sertão alagoano. Entretanto, há um silêncio na cidade. Ninguém fala sobre o caso, e o motivo é o temor de retaliação por parte do suspeito do crime, o marido da vítima, Leandro Pinheiro Barros, 38.

Classificado como um homem violento e que intimida as pessoas, Leandro está sendo procurado pela polícia. Familiares da vítima que moram na cidade, de 32 mil habitantes, não aceitam falar com a imprensa sobre o crime, menos ainda sobre o relacionamento de Mônica e Leandro —ao menos até que ele seja preso.

O que houve

Mônica foi atingida por um tiro, que acertou primeiro sua mão direita (um movimento de defesa), depois perfurou o pulmão e atingiu a coluna vertebral. Segundo a necropsia feita no IML de Arapiraca, a perfuração pulmonar causou "volumosa hemorragia".

Pouco antes de morrer, ela gravou vídeos e deixou em seu celular afirmando que estava escapando do marido, mas que, se fosse morta, ele seria o responsável.

Mônica foi assassinada na frente de sua casa após uma discussão com o marido, segundo as investigações. Em seguida, ele fugiu. Eles eram casados havia 10 anos.

Leandro é filho de um policial militar reformado de Sergipe, e juntos sempre impuseram medo na cidade, de acordo com moradores ouvidos pela coluna. "Eles são figuras que ninguém se atreve a falar contra", conta um morador, sob condição de anonimato.

O suspeito teve a prisão preventiva decretada ontem pelo juiz da cidade, Leandro de Castro Folly.

O pai dele sempre deixava claro, quando aparecia na cidade, que se alguém fizesse algo com o filho, só viveria até ele encontrar. A frase do pai se tornou uma verdadeira ameaça. O medo é tanto que até no sepultamento as pessoas ficaram com medo de filmar ou comentar. Foi um enterro em silêncio, interrompido apenas pelo choro de poucos.
Relato de morador

A coluna conversou e ouviu o relato de oitos pessoas entre moradores e familiares de Mônica. A reportagem não conseguiu contato com o pai de Leandro.

Até mesmo a publicação da prefeitura de condolências chamou a atenção porque não cita que houve assassinato, mas sim um "falecimento" da mulher. O termo usado recebeu vários comentários com críticas, que pediram alteração (até a manhã de hoje isso não havia ocorrido).

À coluna, o prefeito Jarbas Ricardo (MDB) disse que a postagem não foi feita com intenção de omitir que o caso foi assassinato. "Todos da cidade sabem o que houve. Estive lá na casa da avó no momento que soube, fui ao enterro. Não há qualquer temor, senão não teria ido lá. Isso é caso de polícia, não de prefeitura", declarou.

Carro da fuga e armas

Na festa que antecedeu a morte de Mônica, contou outro morador, Leandro estava armado e, claramente bêbado, discutiu com a esposa na frente de outras pessoas. "Tinham policiais militares e guardas municipais, mas ninguém fez nada", diz.

Leandro, afirmam moradores, não costumava falar com as pessoas nas ruas e andava quase sempre de cabeça baixa. Gostava, porém, de se exibir andando de moto ou no Jeep, algumas vezes com uma pistola à mostra. Ele também relatava ter amizade com policiais.

A polícia já sabe que ele fugiu no veículo Jeep de sua propriedade, e seu paradeiro é incerto. A polícia informou que está em operação à caça dele pelo sertão alagoano e não quis dar detalhes para atrapalhar a investigação. "É um trabalho de inteligência", disse uma fonte policial.

A coluna procurou a SSP (Secretaria de Segurança Pública) de Alagoas, mas não obteve retorno. A Polícia Civil informou que está com homens atuando em busca.

Mônica foi morta na calçada do Fórum de Justiça de São José da Tapera - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mônica foi morta na calçada do Fórum de Justiça de São José da Tapera
Imagem: Arquivo pessoal

Relação conturbada

A relação do casal não era boa: "eles viviam brigando direto", segundo relatou um familiar. Pessoas de fora da família também confirmaram a informação e asseguraram que muita gente sabia que havia agressões de Leandro.

Ele tinha grande ciúme da esposa e costumava evitar qualquer contato dela com outro homem. "Nem receber uma água mineral em casa ele gostava que ela fizesse. Ela era muito bonita", relata uma pessoa próxima.

As agressões dele eram conhecidas por muita gente na cidade e levaram ela a se afastar de Leandro por algum tempo —isso teria ocorrido mais de uma vez—, mas sempre voltava.

Familiares mais distantes de Mônica que aceitaram falar afirmam que a separação era sempre sugerida a ela por conta da relação abusiva, mas ela tentava seguir, acreditava em mudança.

Outros alegam que ela agiu por medo dele de atacar a família dela em vingança em uma eventual separação.

Festa teria tido discussão

Na noite anterior ao crime, eles foram à festa junina no centro da cidade. No local, discutiram duramente, e ele deixou o local antes da esposa.

Segundo um dos vídeos que ela gravou, ele teria se chateado dessa vez por uma "brincadeira boba" que o pai dela fez com ele.

Em entrevista ontem à radio Milênio, o pai de Mônica, identificado somente como Carlos, afirmou que tinha boa relação com o genro e que não fez qualquer brincadeira que pudesse o chatear.

Eu tenho quatro filhas, e eu sempre falava brincando que elas eram bonitas, que pareciam comigo. Foi somente isso que falei. Mas não vou dizer que foi esse motivo, sempre foi amigo dele, e ele meu amigo; não deu nada contra ele. Entrego na mão de Deus."
Carlos, pai de Mônica

Ele conta ainda que não os viu brigando na noite da festa, mas afirma que, ao sair, Leandro o agrediu. Mesmo assim, preferiu ficar na defensiva. "Quando me despedi, ele acertou a mão no meu rosto, mas não posso dizer que foi de propósito, pode ter sido sem querer", disse.

Por fim, ele ainda afirmou que vai esperar a família do pai das crianças para decidir o que será feito com os filhos que ficaram órfãos de mãe.