'Brancos' e 'marotos': guerra do PCC gera mortes em série no interior do PI
Cinco mortes ocorridas em menos de duas semanas nas pacatas cidades de Avelino Lopes e São Raimundo Nonato, no extremo sul do Piauí, estão relacionadas a uma guerra local de grupos da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), segundo a polícia piauiense.
A disputa opõe dois grupos da facção que eram próximos, mas romperam recentemente: os "marotos" e os "brancos", que entraram em guerra e disputam a região entre o oeste da Bahia e o sul piauiense.
As cidades daquela região são da rota para São Paulo e, nesse cenário, surgiram os 'marotos', também conhecidos como ciganos, que atuam na cidade de Pilão Arcado (BA), na fronteira com o Piauí. Já os 'brancos' são um grupo nascido no lado sul do Piauí.
Eduardo Aquino, delegado do Departamento de Repressão ao Crime Organizado
A violência levou medo às pequenas cidades: São Raimundo Nonato tem 38 mil habitantes, e Avelino Lopes, 11 mil. Por causa da violência, as cidades foram ocupadas desde ontem por forças policiais, que tentam evitar novas mortes.
Todos os suspeitos são ligados ao PCC. O grupo vem enfrentando uma disputa interna e um crise inédita em seus 30 anos.
Todos os suspeitos aqui mexem com tráfico. E, como o braço financeiro do PCC é a venda de drogas, começaram os conflitos aqui na região. O estopim dessa guerra foi a morte de um líder do grupo dos 'brancos' no final do ano passado, que 'ex-soldados' dele foram vingar.
Delegado Eduardo Aquino
Morte desencadeia vingança
O assassinato citado pelo delegado foi o de Fleques Pereira Lacerda, 41, morto em dezembro de 2023, em um salão de beleza na cidade de Osasco (SP), onde ele estava escondido havia seis anos.
Fleques era um foragido do sistema prisional piauiense desde 2018, quando escapou durante o trajeto de escolta para um hospital de Teresina. Ele alegou dores abdominais para sair da Casa de Custódia —à época, estava detido por um mandado de prisão de assalto a banco.
Desde a fuga, ele estaria em Osasco, escondido com a ajuda de membros do PCC. Da cidade na região metropolitana de São Paulo, liderava ações dos "brancos" no sul piauiense. A investigação do assassinato está com a polícia paulista.
Em retaliação à morte de Fleques, o grupo dos "brancos" decidiu armar uma emboscada para matar o suposto informante da sua localização.
O delator seria um colega de Fleques, Erinelton Pereira de Sousa, o Netinho, de 31 anos, que foi atraído para a cidade de São Raimundo Nonato.
Foi atraído pela promessa de venda de duas armas. Saiu da cidade de Morro Cabeça no Tempo [PI], passam por Campo Alegre e chegou a São Raimundo por volta das 23h30, onde foi recepcionado pelo grupo que o mataria.
Delegado Eduardo Aquino
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Quero receberNetinho foi morto a tiros em 6 de fevereiro, em uma casa da cidade, junto com Mauro César Aguiar dos Santos, 31. Os dois pertenciam aos "marotos". Netinho ainda foi decapitado. Uma companheira de Netinho, de 17 anos, que acompanhava a dupla, chegou a ser amarrada e jogada no chão, mas foi liberada.
A Polícia Civil do Piauí concluiu a investigação e identificou cinco pessoas que teriam participado do crime. Três delas já foram presas, outras duas estão foragidas e são procuradas.
O propósito do grupo era cometer os crimes em um modus operandi diferente: eles iam matá-los a faca e depois desovar os corpos em um terreno. Mas a situação fugiu do controle quando Mauro tentou correr e recebeu um tiro.
Delegado Eduardo Aquino
Outras mortes
Em vingança pelo duplo assassinato, o grupo dos "marotos" decidiu matar um integrante do grupo rival. A vítima escolhida foi Emerson de Sousa Santos, mais conhecido como "Paçoca". Ele foi morto na porta de sua casa, na tarde da última sexta-feira (16), em Avelino Lopes.
Outros dois assassinatos ocorridos no fim de semana na mesma cidade também teriam relação com a guerra e estão sendo investigados.
Uma morte ocorreu dentro de um estabelecimento comercial —o dono chegou a ser ferido. A outra vítima é um homem que foi levado a uma estrada deserta e morto com uma rajada de tiros. As mortes foram captadas por câmeras. "Está sendo assim: matam de um lado, o outro vai e quer vingar", disse o delegado.
Durante as investigações, a polícia fez interceptações de mensagens e ligações dos dois grupos e descobriu que há contato deles com uma das chamadas sintonias (lideranças) do PCC em São Paulo. "Isso mostra que eram próximos aos faccionados de lá, o que corrobora que são integrantes do PCC."
Ação das forças de segurança
Por causa das mortes e do clima de tensão nas cidades, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Piauí determinou uma operação de 30 dias, com ocupação das Forças de Segurança Pública nas duas cidades.
Foram enviados policiais da Força Estadual Integrada de Segurança Pública (Feisp) para realização de operações especiais nos municípios, com o apoio de Polícia Civil, Polícia Militar e Diretoria de Inteligência (Dint). O objetivo é combater a atuação de organizações criminosas especializadas em tráfico de drogas, assaltos e assassinatos nos municípios.
SSP-PI em nota
Segundo o delegado Eduardo, as forças vão atuar em duas frentes:
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