Falsa médica em Maceió cobrava R$ 450 e se dizia especialista em câncer
A Polícia Civil de Alagoas indiciou por exercício ilegal da profissão Helenedja Oliveira, que atendia como médica nutróloga em um dos maiores e mais famosos centros médico de Maceió. Ela não tem formação em medicina, segundo a polícia, e ainda é investigada por estelionato contra pacientes.
Em sua página pessoal e sua rede social, Helenedja se autointitulava "especialista em emagrecimento pré-cirúrgico, tratamento de obesidade e oncologia metabólica." Ela cobrava R$ 450 de pacientes sem plano de saúde e mantinha um site com artigos sobre saúde.
Segundo a polícia, ela atuava havia cerca de nove anos ilegalmente. Mesmo sem registro, Helenedja receitava remédios e pedia exames usando um carimbo com número de registro CRM/AL 81.420 —que não existe.
Ao ser questionada, ela disse que o número era do Rio Grande do Sul, só que ela assinava a receita como se fosse de Alagoas. Detalhe que esse número de CRM não existe nem lá, nem cá.
Luci Mônica, delegada responsável pelo caso
A falsa médica foi flagrada pela polícia no seu consultório, no último dia 10. Por ser crime de menor potencial ofensivo, não cabe prisão, e ela responde em liberdade.
O UOL procurou a suspeita por telefone fixo, que ela não atendeu, e pelo WhatsApp, mas não houve resposta. O espaço está aberto para manifestação da sua defesa.
Sem formação
Após uma investigação, a polícia informou nesta segunda-feira (29) que a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) confirmou que Helenedja nunca estudou medicina na instituição, onde ela dizia ter se formado.
A investigação foi aberta depois de o Cremal (Conselho Regional de Medicina de Alagoas) receber relatos de profissionais pelo exercício irregular da profissão e denunciar a mulher.
Quem se consultava com Helenedja, em regra, saía com uma lista de exames. O UOL teve acesso a uma requisição da falsa médica, que indicou 26 exames.
Ela teria enganado até o plano de saúde Unimed —que aceitou o registro de CRM falso e pagou por 25 desses exames, segundo documento repassado à coluna.
Procurada, a Unimed Alagoas não respondeu sobre a razão de o sistema ter aceitado um pedido feito com registro médico falso.
Tratamento oncológico
Ao estudar como o metabolismo das células cancerígenas difere do metabolismo das células normais, a oncologia metabólica busca entender esses processos anormais para desenvolver terapias que possam interrompê-los.
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OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberApesar de Helenedja ter deletado suas redes sociais e o conteúdo de seu site, o UOL teve acesso a algumas páginas disponíveis em cache (arquivos antigos salvos em servidores), que mostram que ela se identificava como "médica nutróloga" e fazia diversos posts com dicas e orientações na internet.
Em um dos artigos, ela dizia que, "na oncologia, a atuação do nutrólogo é extremamente importante".
Pacientes com câncer apresentam deficiências nutricionais e perca [sic] de peso. Devido a alteração do paladar e os [sic] efeitos colaterais do tratamento que contribuem para perda de peso. É fundamental o acompanhamento para promover o ganho de peso e a recuperação do estado nutricional para uma boa evolução do tratamento. O nutrólogo tem um papel fundamental na prevenção de casos de câncer.
Trecho de artigo de site de Helenedja Oliveira
A delegada diz que a citação da formação em oncologia metabólica chamou a atenção porque ela pode ter "tratado" pacientes com doenças graves e debilitados.
O que eu soube é que essa especialização é dificílima. Estou correndo atrás de todas as provas possíveis e peço que os pacientes procurem a polícia. Se tiver alguma denúncia e não quiser ir à delegacia, ligue para o 181. Ou vá diretamente à Delegacia do 2º Distrito da capital.
Luci Mônica
Para a médica Iris Campos Lucas, professora de gastroenterologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), condutas orientadas por pessoa sem conhecimento técnico e científico podem acarretar problemas sérios de saúde, principalmente em pacientes frágeis —como os que têm câncer.
O paciente oncológico pode precisar de acompanhamento nutricional por profissional habilitado, como o nutricionista com formação na área. Diferentemente de profissionais que se aproveitam da fragilidade dos pacientes nesse momento tão difícil e prescrevem suplementação sem comprovação científica. Os problemas vão desde perder tempo e dinheiro com algo sem efeito até fazer tratamento com suplementações e prejudicar órgãos como rins, fígado e coração. É um risco.
Iris Campos
Simpática e atenciosa
Segundo apurou o UOL em conversas com ex-pacientes, Helenedja era simpática, parecia ser conhecedora do tema e era atenciosa em suas consultas, que eram demoradas.
Eu fiquei lá por quase duas horas. O consultório estava cheio, e ela é muito simpática e faz um trabalho individualizado. Cheguei e tinha um cartão personalizado no meu nome.
Anita Bezerra, 47, servidora federal
Anita conta que passou por uma consulta com a falsa médica em 13 de março. Depois de fazer os exames, estava com retorno marcado para mostrar os resultados no dia 12 abril —ou seja, dois dias após a polícia fechar o consultório.
No dia em que o consultório foi fechado, a secretária de Helenedja mandou um aviso pelo WhatsApp afirmando que ela não atenderia por alguns dias. Depois, mudou a versão, alegando que ela teria passado por cirurgia e iria se afastar.
Anita conta que procurou Helenedja para uma consulta após ouvir boas referências dela e por ter curiosidade de ser atendida por uma nutróloga. Ela diz que, por ter plano de saúde, a consulta saiu por R$ 290.
Quando vi que ela era uma falsa médica, resolvi ir à polícia para denunciar também, para inibi-la e para que ela nunca mais volte a fazer isso na vida, nem aqui, nem em outro estado. Agora estou procurando outro médico para mostrar os exames que fiz.
Anita Bezerra
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