Problema não é o Jogo do Tigrinho, mas a fraude, diz CEO do galera.bet
Para Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet, o Brasil demorou a dar início à regulamentação de apostas e de jogos online, o que tornou o terreno fértil para que golpistas usem jogos online, como o Jogo do Tigrinho, para enganar pessoas.
O site é um dos líderes da Associação Nacional de Jogos e Loterias, que reúne algumas das maiores casas de apostas do país, e tem tomado a frente para tentar combater fraudes, como a descoberta pela polícia de Alagoas, em que influenciadores divulgavam plataformas viciadas em perder.
Ele lembra que, em 2024, o Brasil vive um ano de transição para, a partir de 1º de janeiro de 2025, permitir apenas que casas licenciadas e certificadas possam operar no país, com necessidade de ter sede e diretores no Brasil.
Sabiá diz que as previsões de mercado apontam que, já em 2025, o governo deve arrecadar entre R$ 6 bilhões e R$ 12 bilhões em impostos. "Das 4.000 casas do mercado brasileiro, menos de 100 devem ser certificadas", diz.
Leia a entrevista dele à coluna:
UOL - A gente viu recentemente operações policiais flagrando influenciadores e plataformas com fraudes em jogos online. Como um usuário pode diferenciar casas de apostas sérias das que fraudam jogos?
Marcos Sabiá - A gente tem hoje uma situação que prejudica bastante o cidadão comum, porque ele entra em sites que estão disponíveis e é muito complexo diferenciar. Ele está sendo bombardeado com anúncios em propagandas de TV, camisas de clubes, internet, influenciadores, mas uma coisa importante é entender a história reputacional dessas empresas. A regulamentação que entrará em vigor efetivamente em 1º de janeiro de 2025 vai ajudar a separar o joio do trigo. Por isso é importante ir observando as empresas que já têm padrões éticos que serão exigidos a partir de 1º de janeiro de 2025.
Esses padrões, que serão exigências legais, dizem respeito a um termo comum na indústria internacional das empresas de jogos que atuam com respeito: o jogo responsável.
Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet
Existem propagandas que prometem ganhos fora da realidade. Como combater isso?
Mesmo sem o jogo regulamentado, o Conar (Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária) já publicou normativa que trata especificamente da publicidade voltada para apostas esportivas. Se o cidadão perceber que elas seguem esses princípios, é indício de que ela é séria. Um exemplo: casas de apostas jamais podem divulgar um jogo como uma forma de enriquecimento, geração de renda ou investimento. Deve sempre ser ressaltado que se trata de entretenimento e diversão. Se alguma passa essa comunicação, estará se utilizando de algo muito próximo de uma atividade criminosa, de um estelionato.
Estamos falando de uma atividade econômica que --pelo seu conceito-- não garante resultados a ninguém. Ele não se baseia na habilidade, mas na aleatoriedade.
Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet
Tivemos recentemente em Alagoas uma operação que revelou que plataformas pagavam influenciadores para divulgar jogos "viciados" em perder. Como o setor avalia essa ação?
É um misto de sentimentos. O primeiro é a indignação. Para nós, operadores, investidores e acionistas sérios, o nível de indignação é ainda maior. A gente sabe dos esforços feitos para construir uma indústria de apostas no Brasil. A gente percebe que estão maculando uma indústria séria e que pode trazer benefícios para o país. Por outro lado, há uma tristeza com a demora do Brasil em enfrentar esse assunto.
Das 20 nações do G20, 18 já regulamentaram apostas, algumas há mais de um século; e estamos falando de países desenvolvidos, que têm uma indústria robusta e devolve impostos ao país. Enquanto estamos nesse abismo jurídico, proliferam as atividades criminosas. Sempre digo que a não regulamentação agrada principalmente aqueles que querem perpetuar na atividade ilícita. Quando regulamenta, exige comportamentos que expurgam os maus agentes.
Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet
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Quero receberNo caso visto em Alagoas, a fraude era no Jogo do Tigrinho, operado por vários sites. Esse jogo e seus similares podem ser confiáveis?
O problema não está localizado no jogo efetivamente. Estamos falando de um jogo desenvolvido no exterior e é veiculado em vários países. Para operar em plataformas sérias nos países em que existe regulamentação, esses jogos recebem certificações de um órgão internacional. As casas sérias exigem porque é isso que vai garantir que tenha um algoritmo que vai trabalhar com aleatoriedade, que vai garantir que um percentual mínimo de prêmios será pago de acordo com a arrecadação. Tem plataforma que paga 90%, 95%, até 97% do que é arrecadado em prêmios.
O problema é que, com a falta de regulamentação, esse mesmo conteúdo também está em plataformas sem certificação e pode ser manipulável, ter máquinas viciadas. E ainda temos plataformas que, mesmo certificadas, não garantem que a pessoa vai conseguir sacar ao ganhar um prêmio.
Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet
A regulamentação que o Brasil está fazendo garante que esse tipo de jogo saia do ar?
Esse em um momento de transição. Em 2018, o Brasil deu autorização para casas operarem, mas a lei previa uma exigência de regulamentação detalhando a operação, e isso só está vindo agora.
Nós vamos ter, a partir de 1º de janeiro de 2025, um mercado em que empresas terão de ter sede, responsáveis legais e diretores no Brasil. Elas vão responder legalmente, cumprir compromissos com seus jogadores e sociedade.
Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet
Após o período de transição, o que mais vai mudar?
As casas de apostas que tiverem licença terão domínio '.bet.bt'. Isso já vai ser indicação de que ela é autorizada, opera com instituições financeiras brasileiras e exclusivamente com pagamentos à vista. E o governo se compromete em derrubar os domínios que não tiveram licença para operar no Brasil, inclusive os que estão localizados fora do país.
Quantas casas o setor avalia que vão operar com a regulamentação?
Alguns dizem que, no mercado brasileiro, são cerca de 4.000 casas operando hoje. A gente imagina que vamos ter menos de 100 com licença. Essa é a previsão do mercado sobre quantas vão conseguir obter licenças.
Como tem sido o diálogo com o governo federal?
Desde o primeiro momento, ainda em 2023, o Ministério da Fazenda se colocou muito aberto. A gente precisa ter uma regulamentação robusta porque as casas também vão lidar com o dinheiro das pessoas, e ele tem de ter a segurança de que o dinheiro estará lá; e se ganhar, tem de ter certeza que a casa tem condições de pagar. Se ali ele tiver algum problema, ele ter atendimento da empresa e pode buscar órgãos de defesa ao consumidor e, se necessário, a Justiça.
No caso das apostas, a manipulação dos jogos de futebol tem tido casos suspeitos recorrentes. As bets sempre são ligadas a essas fraudes. Como o setor pode agir para reduzir esses danos?
Existe um equívoco de entendimento de qual o papel da casa de apostas no assunto. As casas são vítimas do processo de manipulação dos resultados. Quando uma organização criminosa decide manipular uma partida de qualquer esporte, ela quer ganhar dinheiro com um resultado menos esperado. Isso ocorre porque a casa trabalha com probabilidades e vai pagar um prêmio menor para um evento provável; e maior para um menos provável.
Quando o manipulador age, ele vai em algum agente do jogo e aposta naquilo que tem uma probabilidade menor. Quando faz isso, é a casa de aposta que é vítima.
Há como combater isso?
As casas têm tecnologia e, desde o primeiro momento, nós na galera.bet temos o entendimento de que é preciso proteger o mercado e buscar as melhores tecnologia para análise de riscos, usar inteligência artificial para detectar quebras de padrões, alto volumes de apostas fora do padrão. Com a regulamentação, isso passa a ser uma prática do mercado como um todo. Quando tem um órgão central, você consegue receber essas informações e percebe a diferenciação. Vamos ter mais instrumentos para combater essa prática ilícita.
O Brasil precisa combater de forma firme a manipulação. É preciso investir em tecnologia, na educação desses atletas e na prevenção. Precisamos de uma aliança entre Estado, entidades esportivas e casas de aposta para tornar a atividade menos permeável.
Marcos Sabiá, CEO do site galera.bet
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