Cidade da BA treme 41 vezes no ano, e área de mineração preocupa geólogos
O município de Jaguarari, no centro-norte da Bahia, está registrando uma intensa atividade sísmica nos últimos meses, o que tem gerado receio de especialistas devido à antiga atividade de mineração na área.
A situação levou o Núcleo Bahia/Sergipe da SBG (Sociedade Brasileira de Geologia), a UFBA e a UEFS a publicarem uma nota técnica, no início deste mês, defendendo a paralisação das atividades em áreas mais suscetíveis a eventos.
No local, há um depósito de minério de cobre descoberto ainda em 1874 e explorado há 45 anos.
No último dia 24, um tremor de 3,6 na escala Richter foi registrado e sentido no distrito Pilar, próximo a onde existe uma planta de mineração da empresa EroBrasil Caraíba. Moradores relataram ter sentido o chão tremer.
??Um tremor de terra magnitude 3.6 mR ocorreu no município de Jaguarari, no estado da Bahia, na tarde desta quarta-feira (24), às 17h16 (BRT). A população do distrito de Pilar informou que sentiu e ouviu o abalo que teria provocado pequenos danos em imóveis
-- Rede Sismográfica Brasileira (@RSBR_Oficial) July 25, 2024
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A empresa diz que paralisou as atividades e afirma que o epicentro está fora da área de sua atuação e em uma falha geológica conhecida (Leia mais abaixo).
Após esse sismo, mais de 70 outros pequenos tremores ocorreram no dia seguinte — imperceptíveis aos humanos. Somente este ano, o município registra 41 tremores com intensidades acima de 1,5, tornando a área como a de maior atividade sísmica no Nordeste, segundo o LabSis (Laboratório Sismológico) da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Tem sido algo recorrente e, dada a importância das atividades de mineração, é importante haver monitoramento integrado com estudos geológicos e outros estudos geofísicos. Conhecer é o primeiro passo, a gente só protege aquilo que conhece.
Anderson Nascimento, professor do LabSis
Segundo ele, a literatura científica relata vários casos de sismicidade por conta de atividades em minas subterrâneas. "Eu não poderia dizer se nesse caso é a mina que está provocando, mas é razoavelmente comum no mundo, área de mineração, ter sismicidade", afirma.
'Risco de morte'
Segundo a nota conjunta, é urgente estudar o que está ocorrendo na região de Pilar.
O epicentro do tremor [do dia 24] foi na mesma área onde está instalado um empreendimento mineiro com lavra subterrânea e que emprega um grande contingente de trabalhadores(as). Geologicamente, a área está localizada em terrenos com rochas que possuem mais de 2,5 bilhões de anos, sendo truncadas por importantes estruturas geológicas profundas.
Nota técnica
Para os técnicos, a ocorrência de tremores de terra em locais onde há extração mineral subterrânea traz "risco geológico, tanto para os trabalhadores das minas, quanto para a população que reside em áreas próximas."
Diante da situação de risco de morte para as pessoas que trabalham na mina subterrânea e as que habitam nas cercanias, recomendamos a elaboração de um mapa de detalhe para que se possa ter a categorização dos riscos em toda área onde os sismos são comuns, contemplando uma equipe multidisciplinar com comprovada experiência no assunto, e que as atividades de operações sejam paralisadas nas áreas já identificadas como mais suscetíveis à ocorrência de eventos.
Nota técnica
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A geóloga da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Simone Cruz, a recomendação de paralisação é para atividades nas áreas já identificadas como mais suscetíveis à ocorrência de eventos.
Isso vale também para as áreas com maior ocorrência de fraturas geológicas que fragilizam as rochas, para garantir a segurança das pessoas que lá trabalham. Com relação aos riscos às pessoas do entorno, isso deve ser verificado mediante um estudo de susceptibilidade na área da mina e entorno.
Simone Cruz
Segundo o professor Carlos Uchoa, geólogo da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), áreas em que há atividade de mineração devem ter cuidado redobrado em caso de tremores recorrentes.
Caso eventos sísmicos sejam comuns, principalmente se houver estruturas geológicas que possam ser reativadas, provocando os tremores na superfície. Eventos diretamente associados com a atividade de mineração podem também ocorrer, nesse caso, tanto pelas detonações, comuns em áreas mineradas, como pela movimentação de grandes blocos de rocha, em função de cavidades geradas pelo processo de extração.
Carlos Uchoa
Empresa diz que monitora área
Em nota, a empresa EroBrasil informou que "imediata e preventivamente, em cumprimento ao seu procedimento interno de segurança, evacuou a mina subterrânea e paralisou todas as atividades, até que fosse feita uma inspeção-geral em suas estruturas."
Nesse sentido, importante registrar que o evento sísmico ocorreu em local a aproximadamente 1.000 metros de profundidade, sem atividade de mineração e onde há uma conhecida falha geológica. Além disso, não houve qualquer atividade de desmonte/detonação nas operações da mina subterrânea da empresa naquela data.
EroBrasil
Segundo a empresa, a mineração no local conta com cerca de 500 trabalhadores, entre diretos e terceirizados. A empresa diz ainda que a mina é "integralmente monitorada por um sistema de microssísmica."
"Esse sistema capta micro variações do solo, o que nos permite tomar ações preventivas, em alguns casos. Uma vez identificada alguma variação pelo sistema, a equipe de geotecnia passa a monitorar o local, isolando a área e removendo colaboradores, se for o caso", diz.
Quando há ocorrências sísmicas sem registro prévio de micro variações, como foi o caso da ocorrida no dia 24, a empresa diz que evacua preventivamente a mina e paralisa as atividades "até que tenhamos dados técnicos suficientes para retomarmos as atividades em segurança."
A empresa alega ainda que utiliza dados de satélite, que são obtidos e analisados por empresa externa independente, que faz uma varredura periódica nas estruturas operacionais para detecção de possíveis movimentações de terra ao longo do tempo.
Paralelamente a isso, a equipe técnica faz inspeções rotineiras na mina subterrânea com objetivo de verificar in loco a estabilidade das galerias. Tais inspeções podem culminar em novos investimentos em infraestrutura como, por exemplo, melhorias estruturais das contenções.
EroBrasil
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