Como carro em frente de casa fez médica virar suspeita em morte de marido
Quando a polícia foi informada da morte a tiros do advogado José Lael de Souza Rodrigues Junior, 42, no dia 18 de outubro em Aracaju, e abriu inquérito para investigar o caso, a hipótese era de uma execução ligada à atuação da vítima como criminalista.
A suspeita era tão forte que o Cope (Centro de Operações Policiais Especiais) foi acionado para ajudar na apuração. "O secretário de segurança e o delegado geral determinaram essa participação ante a possibilidade de ser uma represália do crime organizado", conta Dernival Eloi, diretor do Cope.
A essa altura, a cirurgiã plástica Daniele Rabelo, a viúva e hoje presa suspeita de mandar matar o marido, era apenas uma testemunha que colaborava com a polícia.
Aos poucos, as investigações foram caminhando com depoimentos e recebimento de imagens de câmeras de segurança, até que um detalhe mudou o rumo das investigações: um carro que chegou à porta do prédio onde Lael morava poucos instantes antes de ele sair de casa pela última vez na vida.
Tratava-se um Polo branco, que chegou e ficou parado no local até que o carro com o advogado e o filho dele saísse. Esse carro acompanhou as vítimas até uma lanchonete, e depois orientou os dois homens em uma moto que matariam Lael em seguida.
A chegada do carro deu um indício novo e importante: alguém teria informado o momento exato que ele saiu de casa. "Fomos investigar e vimos que só a esposa estava em casa", explicou a delegada Juliana Alcoforado, diretora do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Os veículos envolvidos na ação já estavam circulando pelas imediações, e somente pararam junto ao portão de entrada e saída de veículos do prédio no exato instante em que o advogado tomava o elevador para pegar o veículo.
Juliana Alcoforado
Lael e o filho foram a uma lanchonete na orla de Aracaju comprar açaí a pedido da esposa do advogado. No caminho de volta, foram seguidos. "Em um dado momento a moto emparelha o carro e alguém deflagra os tiros", conta a delegada.
Além de Lael, o filho dele, Guilherme Rodrigues, 20, foi baleado na ação, mas foi socorrido e sobreviveu.
"Comportamento estranho"
Além das imagens, outro fato chamou a atenção: o comportamento de Daniela após a morte do marido.
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Quero receberIrmã da vítima, a também médica Rosane Rodrigues, contou que ela apresentou reação pouco típica para uma esposa enlutada após um assassinato.
Após o falecimento dele, foi um comportamento muito estranho: ela não participou do sepultamento. A cidade é pequena, então chegou aos nossos ouvidos que ela havia ido ao cabeleireiro logo depois e mandou uma empresa de limpeza limpar o sofá e as cadeiras para tirar o cheiro dele dentro de casa.
Rosane Rodrigues
Rosane conta ainda que, no dia seguinte, foi até a casa onde o irmão morava e se deparou com uma cena que causou estranhamento. "Fui lá pegar roupas para o meu sobrinho, que estava hospitalizado, e me deparei com a empregada com malas e todos os pertences do meu irmão para nos entregar porque ela estava querendo doar."
Além disso, ela conta que recebeu informações de que Daniele teria, em seguida à morte, alugado uma casa de praia e viajado: "O comportamento não foi o de uma viúva, porque nós estamos dilaceradas, perdemos um ente querido, maravilhoso; uma pessoa protetora que cuidava de nós e incapaz de apunhalar alguém pelas costas."
Prisões
As investigações apontaram para a participação de sete pessoas - e todas já estão presas. O crime aconteceu na avenida Jorge Amado, no bairro Jardins, zona sul da capital sergipana.
Segundo a polícia, quem ajudou a médica a contratar os assassinos foram a secretária dela e uma amiga. Duas pessoas foram contratadas para executar o crime.
A investigação apontou que havia um histórico de atritos entre o casal, inclusive com tentativas de separação que nunca se concretizaram. "Existia até a suspeita, por parte da vítima, de caso extraconjugal que teria levado a uma briga ocorrida entre o casal na véspera", conta a delegada.
O UOL não conseguiu contato com a defesa da médica, mas o espaço está aberto para manifestação.
Daniele é uma médica famosa no estado e tem 144 mil seguidores apenas no Instagram. Ela usa o perfil para compartilhar parte de sua rotina de trabalho e momentos com a família. Além de Sergipe, ela também tem registros para atuação nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro
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