Carlos Madeiro

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Reportagem

Como carro em frente de casa fez médica virar suspeita em morte de marido

Quando a polícia foi informada da morte a tiros do advogado José Lael de Souza Rodrigues Junior, 42, no dia 18 de outubro em Aracaju, e abriu inquérito para investigar o caso, a hipótese era de uma execução ligada à atuação da vítima como criminalista.

A suspeita era tão forte que o Cope (Centro de Operações Policiais Especiais) foi acionado para ajudar na apuração. "O secretário de segurança e o delegado geral determinaram essa participação ante a possibilidade de ser uma represália do crime organizado", conta Dernival Eloi, diretor do Cope.

A essa altura, a cirurgiã plástica Daniele Rabelo, a viúva e hoje presa suspeita de mandar matar o marido, era apenas uma testemunha que colaborava com a polícia.

Aos poucos, as investigações foram caminhando com depoimentos e recebimento de imagens de câmeras de segurança, até que um detalhe mudou o rumo das investigações: um carro que chegou à porta do prédio onde Lael morava poucos instantes antes de ele sair de casa pela última vez na vida.

Polo branco parado em frente ao prédio onde morava o advogado José Lael, em Aracaju
Polo branco parado em frente ao prédio onde morava o advogado José Lael, em Aracaju Imagem: Reprdução/PC-SE

Tratava-se um Polo branco, que chegou e ficou parado no local até que o carro com o advogado e o filho dele saísse. Esse carro acompanhou as vítimas até uma lanchonete, e depois orientou os dois homens em uma moto que matariam Lael em seguida.

A chegada do carro deu um indício novo e importante: alguém teria informado o momento exato que ele saiu de casa. "Fomos investigar e vimos que só a esposa estava em casa", explicou a delegada Juliana Alcoforado, diretora do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Os veículos envolvidos na ação já estavam circulando pelas imediações, e somente pararam junto ao portão de entrada e saída de veículos do prédio no exato instante em que o advogado tomava o elevador para pegar o veículo.
Juliana Alcoforado

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Imagem do local onde Lael e o filho compraram açaí
Imagem do local onde Lael e o filho compraram açaí Imagem: Reprodução

Lael e o filho foram a uma lanchonete na orla de Aracaju comprar açaí a pedido da esposa do advogado. No caminho de volta, foram seguidos. "Em um dado momento a moto emparelha o carro e alguém deflagra os tiros", conta a delegada.

Além de Lael, o filho dele, Guilherme Rodrigues, 20, foi baleado na ação, mas foi socorrido e sobreviveu.

"Comportamento estranho"

Além das imagens, outro fato chamou a atenção: o comportamento de Daniela após a morte do marido.

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Irmã da vítima, a também médica Rosane Rodrigues, contou que ela apresentou reação pouco típica para uma esposa enlutada após um assassinato.

 Rosana Rodrigues, irmã do advogado José Lael
Rosana Rodrigues, irmã do advogado José Lael Imagem: SSP-SE

Após o falecimento dele, foi um comportamento muito estranho: ela não participou do sepultamento. A cidade é pequena, então chegou aos nossos ouvidos que ela havia ido ao cabeleireiro logo depois e mandou uma empresa de limpeza limpar o sofá e as cadeiras para tirar o cheiro dele dentro de casa.
Rosane Rodrigues

Rosane conta ainda que, no dia seguinte, foi até a casa onde o irmão morava e se deparou com uma cena que causou estranhamento. "Fui lá pegar roupas para o meu sobrinho, que estava hospitalizado, e me deparei com a empregada com malas e todos os pertences do meu irmão para nos entregar porque ela estava querendo doar."

Além disso, ela conta que recebeu informações de que Daniele teria, em seguida à morte, alugado uma casa de praia e viajado: "O comportamento não foi o de uma viúva, porque nós estamos dilaceradas, perdemos um ente querido, maravilhoso; uma pessoa protetora que cuidava de nós e incapaz de apunhalar alguém pelas costas."

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José Lael e a esposa Daniele, suspeita do crime
José Lael e a esposa Daniele, suspeita do crime Imagem: Arquivo pessoal

Prisões

As investigações apontaram para a participação de sete pessoas - e todas já estão presas. O crime aconteceu na avenida Jorge Amado, no bairro Jardins, zona sul da capital sergipana.

Segundo a polícia, quem ajudou a médica a contratar os assassinos foram a secretária dela e uma amiga. Duas pessoas foram contratadas para executar o crime.

A investigação apontou que havia um histórico de atritos entre o casal, inclusive com tentativas de separação que nunca se concretizaram. "Existia até a suspeita, por parte da vítima, de caso extraconjugal que teria levado a uma briga ocorrida entre o casal na véspera", conta a delegada.

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O UOL não conseguiu contato com a defesa da médica, mas o espaço está aberto para manifestação.

Daniele é uma médica famosa no estado e tem 144 mil seguidores apenas no Instagram. Ela usa o perfil para compartilhar parte de sua rotina de trabalho e momentos com a família. Além de Sergipe, ela também tem registros para atuação nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro

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