Carlos Madeiro

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Reportagem

Rios amazônicos secam e têm níveis piores que os recordes do ano passado

Os principais rios amazônicos estão, sem exceção, com níveis abaixo dos registrados no mesmo período em 2023, ano em que eles tiveram recordes negativos.

Os dados constam em uma nota técnica divulgada nesta quinta-feira (5) e produzida pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

"A situação de seca na região Norte do país é particularmente crítica, com uma persistência que já dura mais de 12 meses, e em algumas áreas 24 meses", destaca o texto.

Essas são as menores marcas já medidas em um início de setembro e tendem a piorar ao longo das próximas semanas.

Provavelmente teremos níveis dos rios abaixo em 2024. A seca continua desde 2023, com as previsões de chuvas abaixo do esperado nos próximos três meses na região centro-norte do país, especialmente na Amazônia. A situação tende a piorar e continuar batendo recorde de intensidade e extensão.
Ana Paula Cunha, pesquisadora da Cemaden e uma das autoras da nota

Em alguns casos, como no rio Purus, essa diferença é mais evidente. Na quinta-feira (5), o nível era quase cinco metros menor que na mesma data em 2023 (veja dados completos abaixo). Isso é reflexo da maior seca já registrada no país.

Mapa de secas de agosto: semiárido tem condição de ausência ou de seca fraca na maioria do território
Mapa de secas de agosto: semiárido tem condição de ausência ou de seca fraca na maioria do território Imagem: Cemaden

Como a navegação de pelos rios é a principal rota de transporte para cidades no interior da Amazônia, a estiagem deve ampliar o isolamento de cidades na região. "Esses valores ressaltam a gravidade da condição de seca nessas regiões e evidenciam o impacto sobre os recursos hídricos locais", afirma.

Medições (em metros) para o dia 5 de setembro:

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  • Rio Negro

2023: 12,06 (em Fonte Boa-AM) e 22,74 (Porto de Manaus)
2024: 10,38 (-1,48) e 18,96 (-4,05)

  • Rio Solimões

2023: 13,15
2024: 8,49 (-4,66)

  • Rio Madeira

2023: 5,58
2024: 3,48 (-2,1)

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  • Rio Juruá

2023: 2,85
2024: 2,73 (-0,12)

  • Rio Purus

2023: 13,47
2024: 8,49 (-4,98)

  • Rio Tapajós

2023: 4,3
2024: 2,57 (-1,73)

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  • Rio Amazonas

2023: 4,33 (Óbidos-PA) e 8,89 (Itacoatiara-AM)
2024: 2,25 (-0,12) e 5,5 (-3,39)

Barco que transportava água potável da cidade de Macapá encalhado por causa da seca do rio Amazonas
Barco que transportava água potável da cidade de Macapá encalhado por causa da seca do rio Amazonas Imagem: Rodrigo Pedroso

A crise hídrica é evidente, uma vez que os rios começaram o ano em níveis extremamente baixos devido ao déficit de chuvas e às altas temperaturas observadas durante as estações seca e chuvosa de 2023.
Nota técnica

A nota cita que o Acre, por exemplo, tem uma seca hidrológica severa entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. "Embora as chuvas de fevereiro a abril de 2024 tenham proporcionado algum alívio temporário, os níveis dos rios continuaram abaixo da média", destaca o texto.

A situação, dizem os especialistas que assinam a nota técnica, resultou em uma nova condição de seca severa a partir de maio e que persiste até agora.

A estação seca de 2024 iniciou-se mais cedo e está mais intensa do que o habitual, exacerbando ainda mais o impacto nos níveis dos rios da região.
Nota técnica

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28.ago.2024 - Céu de Manaus amanhece encoberto por fumaça dos incêndios na Amazônia
28.ago.2024 - Céu de Manaus amanhece encoberto por fumaça dos incêndios na Amazônia Imagem: Michael Dantas/AFP

Maior seca já registrada

De acordo com o Cemaden, em termos de extensão, a seca de 2023-2024 é maior registrada desde o início das medições, abrangendo cerca de 5 milhões de km² —o que corresponde a aproximadamente 59% do território brasileiro.

A maior até então tinha sido a seca de 2015-2016, que atingiu cerca de 4,6 milhões de km² (54% do país).

Outro ponto que os especialistas chamam a atenção é que, ao contrário de outras secas, essa tem um caráter nacional, e não regional. "Diversos dados reforçam esse cenário crítico, evidenciando a gravidade da seca prolongada de 2023 e 2024", alega.

Nos últimos 13 anos [período de monitoramento de secas do Cemaden] observa-se que as secas geralmente apresentavam um caráter regional, concentrando-se em áreas específicas do país. Diferentemente dos anos anteriores, a seca iniciada em 2023 demonstra uma característica muito mais abrangente e intensa em comparação às anteriores.
Nota técnica

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Pontos em vermelho mostram áreas de seca no país desde 2012
Pontos em vermelho mostram áreas de seca no país desde 2012 Imagem: Cemaden

A nota ainda diz que a previsão para as próximas semanas não é de volta à normalidade de chuvas.

"A previsão meteorológica indica um provável atraso no início da próxima estação chuvosa, o que resultará na prolongação do período de estiagem nos rios de todas as regiões do país, com exceção da região Sul", pontua.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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