Cadeirada não é facada, e ganho de Marçal com exploração do caso é incerto
Três avisos importantes: a) violência física em uma eleição deve ser repudiada; b) violência psicológica, ataques baseados em mentiras e campanhas de difamação também; c) a população de São Paulo está vivendo a eleição municipal com mais baixo nível desde a redemocratização.
Dito isso, as consequências políticas incertas da cadeirada que José Luiz Datena deu em Pablo Marçal, no debate da TV Cultura, na noite desta segunda (15) são incertas.
O advogado do influenciador disse que ele machucou uma costela e a mão e passa por exames — e ele já está explorando isso. Mas ainda é cedo para dizer o quanto ele conseguirá capitalizar eleitoralmente a agressão. Se tiver sucesso, terá sido o grande vencedor do debate. Alijado de bater boca com Ricardo Nunes e Guilherme Boulos devido às regras dos sorteios, decidiu dar sequência à tática da baixaria e provocar o candidato do PSDB com uma acusação de assédio sexual até levar a cadeirada.
Mas também ser visto como corresponsável pelo episódio por parte do eleitorado indeciso e punido com aumento na rejeição. O próprio Datena pode ganhar votos ao final por "representar o sentimento" de uma parcela da população indignada com o seu comportamento.
Marçal, que implementa campanhas de ódio contra seus adversários, usa o caso para convencer que é, na verdade, o principal alvo de ódio da eleição. Defende que está sendo vítima porque que estaria lutando contra o sistema. Bobagem, claro, mas sempre tem um chinelo velho para um pé cansado e vitimizado.
Entre os comentários nos vídeos que mostram Marçal recebendo oxigênio ao ser transportado ao hospital e de avental no quarto do Sírio-Libanês, são muitos os que lhe dão suporte, torcendo para que esteja bem e atacando um fantasioso "complô comunista".
Mas há também quem o chama de frouxo por chamar para a briga e não aguentar o tranco e quem o acusou de supervalorizar o ocorrido para copiar o que aconteceu com Jair Bolsonaro e Donald Trump. Lembram que ele saiu com as próprias pernas do Teatro B32 e chegou a entrar no próprio carro antes de resolver ir de ambulância para o hospital.
Suas contas nas redes sociais correram para comparar o ocorrido à facada que o ex-presidente brasileiro recebeu em 6 de setembro de 2018 e com o tiro que o ex-presidente norte-americano levou de raspão em 13 de julho deste ano. Ambos os casos foram em eventos eleitorais.
A cadeirada, contudo, não é facada. Apesar de ter sido agredido, Marçal passou longe de ser ferido como Jair, que quase morreu. Tanto que, antes de deixar o debate, e já tendo recebido a cadeirada, ainda estava bem o suficiente para continuar batendo boca com Datena. Além disso, o ataque serviu para Bolsonaro não precisar ir a sabatinas e debates, onde ele se dava mal. E Pablo precisa ir a debates e sabatinas, que é onde ele consegue gravar seus vídeos para bombar nas redes sociais - uma vez que não têm tempo de rádio e TV.
Cadeirada também não é tiro de sniper. Não gerou foto de sangue, como Trump, apesar de poder produzir imagem de tipoia ou gesso. Mas fica estranho alguém que levou uma multidão para escalar o pico dos Marins e criticar quem pediu para voltar por causa do mau tempo reclamar de tipoia ou gesso.
O ato de Datena está sendo compreendido por outra parte do eleitorado, que repudia a agressão física, mas entende que ele foi alvo de ataques muito baixos de Marçal. Há entre coordenadores de campanhas com os quais a coluna conversou logo após o debate a percepção de que ele pode, inclusive, ganhar votos ao invés de perder. A coluna falou com o apresentador e ele está tranquilo.
De acordo com o professor de Direito Eleitoral da FGV Fernando Neisser, mesmo com o ocorrido, o PSDB tem direito legal de ir aos próximos debates. Então, se Datena quiser, estará presente. Marçal pode tentar uma ordem judicial de restrição, mas vai ser difícil conseguir, dada a característica do caso.
Nisso, o prefeito Ricardo Nunes é quem deve estar mais preocupado com a possibilidade de Marçal tomar de volta parte dos votos do bolsonarismo que ele havia conseguido recuperar ao explorar o caso.
Não sabemos ainda qual rumo o eleitorado vai tomar diante do ocorrido, o jeito é esperar as próximas pesquisas. Por enquanto, o que é possível afirmar é que a cadeira lançada pelo apresentador contra o ex-coach venceu o debate. Pelo menos, do ponto de vista da superexposição.
Totalmente desconhecida antes de hoje, ela rodou o mundo e ganhou as manchetes de todos os veículos de comunicação no Brasil e está estampada em alguns da América do Sul, dos Estados Unidos e da Europa. Tornou-se meme, gif, está no TikTok, no Instagram, no YouTube. Já é o assunto mais falado desta eleição. Chamada de instrumento ditatorial por uns e de heroína paulistana por outros, nunca mais será a mesma depois desta noite.