Prefeita do PL troca Carnaval por festa gospel com cachês de até R$ 210 mil
A prefeita de Zé Doca (MA), Flavinha Cunha (PL), está sendo alvo de críticas após anunciar que não irá realizar a tradicional festa de Carnaval na cidade e, no lugar, vai fazer um evento gospel voltado ao público evangélico.
O evento "Adora Zé" Doca vai contar com cinco atrações já contratadas e o município vai gastar mais de R$ 600 mil só com os cachês. Tem atração que receberá R$ 210 mil para tocar na cidade (veja a lista abaixo).
O anúncio foi feito ao lado do deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL) e postado nas contas oficiais dos políticos e da prefeitura no último dia 19.
No vídeo, eles anunciaram o que chamaram de "grande novidade". "Vamos fazer uma inovação para agradar toda população", disse a prefeita.
"O engraçado, prefeita, é que esse ano nós não teremos o tradicional carnaval em Zé Doca", disse Maranhãozinho, que é do PL, mas tem pouca afeição ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que pediu sua saída do partido em 2024 após ser denunciado por corrupção e por apoios do partido no estado — o PL apoiou a chapa PSB/PT para a Prefeitura de São Luís.
A coluna chegou a fazer contato com o secretário de Cultura do município, Maycon Alves, que inicialmente informou que falaria com o UOL. Depois, pediu para entrar em contato com uma pessoa responsável pela assessoria de comunicação da Prefeitura, e não houve retorno.
Críticas
A postagem teve repercussão imediata, com diversas críticas à mudança. Em meio a alguns comentários de apoio, a maioria e os mais curtidos foram contra o evento gospel no lugar da festa de Carnaval.
"O carnaval, patrimônio cultural do Brasil, não pode ser monopolizado por uma única crença! Transformá-lo em evento gospel exclusivo fere a liberdade religiosa, viola direitos humanos e princípios da laicidade estatal", afirmou a usuária Joyce Guimarães, em comentário com 348 curtidas.
Houve também uma série de comentários questionando a possível ilegalidade da medida.
O que vocês estão fazendo é inconstitucional, é desrespeito ao Estado laico, às pessoas das outras religiões, aos ateus e agnósticos. Privilegiar uma religião em detrimento das demais é proselitismo religioso. Vocês foram eleitos para representarem todo o povo da cidade e não apenas os evangélicos. Respeitem as leis, respeitem o voto de todos que os elegeram. Usar verba pública para favorecer uma religião é crime.
Marquem o Ministério Público. Isso aqui é inadmissível.
Pensando na população, separe também os dias para festividades do Candomblé e outras religiões fora do meio evangélico.
Veja o preço do cachê de cada uma das cinco apresentações do festival gospel
- Maria Marçal (1° de março) - R$ 210 mil
- Banda Morada (2 de março) - R$ 170 mil
- Gerson Rufino (3 de março) R$ 90 mil
- Kleber Nascimento (3 de março) - R$ 60 mil
- 3 Palavrinhas (4 de março) R$ 75 mil
O UOL também procurou o MPMA (Ministério Público do Maranhão) para saber se havia algum procedimento aberto sobre a realização da festa gospel, mas não houve retorno.

Segundo apurou a coluna, a festa nos dias de Carnaval eram tradicionais na cidade, com montagem de palco e de grande estrutura com shows.
No ano passado, sob outra gestão, por exemplo, a Prefeitura de Zé Doca fez postagem comemorando o sucesso das festividades.
Pré-carnaval
Para não deixar a cidade sem festa, a prefeita anunciou em outro vídeo que irá fazer um pré-carnaval entre os dias 21 e 23 de fevereiro. Ao menos três atrações estão confirmadas, segundo publicações do Diário Oficial, a um custo total de R$ 850 mil em cachês.
- Solange Almeida (21 de fevereiro) - R$ 250 mil
- Iguinho e Lulinha (22 de fevereiro) - R$ 300 mil
- Chiclete com Banana (23 de fevereiro) - R$ 300 mil
Sobre a prefeita e a cidade
Flavinha Cunha foi eleita com votação expressiva em outubro de 2024: teve 84,2% dos votos válidos. Para vencer, ela gastou R$ 494.719,36, segundo declaração ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Zé Doca tem 40 mil habitantes, segundo o Censo 2022, e fica no noroeste do Maranhão.
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