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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que está por trás da visita de um general a Rosa Weber no STF

A ministra Rosa Weber, do STF -  O Antagonista
A ministra Rosa Weber, do STF Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

02/09/2022 15h56

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Na tarde de quinta-feira (1º), o general Fernando Azevedo e Silva entrou no STF (Supremo Tribunal Federal) e subiu até o quinto andar do prédio anexo ao edifício sede da Corte. Entrou no gabinete de Rosa Weber, onde foi recebido com simpatia pela ministra. Conversaram a portas fechadas.

Antes de encontrar a ministra, já a caminho do gabinete, o general disse ao repórter Paulo Roberto Netto, do UOL: "Não é reunião, apenas uma visita de cortesia. Vim parabenizá-la pela posse". No dia 12, Rosa Weber assume a presidência do STF, no lugar de Luiz Fux.

A assessoria de imprensa do tribunal não informou o que a ministra conversou com o general. Ainda que seja uma visita de cortesia, a cortesia da cúpula das Forças Armadas é muito bem-vinda no Judiciário neste momento. O apoio dos militares virou grande trunfo no processo eleitoral.

De um lado, o presidente Jair Bolsonaro ataca a credibilidade das urnas eletrônicas e critica os ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF. De outro, o Judiciário quer ficar no mesmo time dos militares. Na avaliação de fontes do Supremo, a aliança com as Forças Armadas pode dar mais credibilidade ao processo eleitoral, especialmente para aliados de Bolsonaro.

Entre ministros do STF, existem os que têm interlocução com militares e os que não têm. Rosa Weber está no segundo grupo. A visita de Azevedo, portanto, pode significar a construção de uma ponte entre a caserna e o comando do Supremo, às vésperas das eleições.

Uma ala de ministros do STF intensificou o diálogo com militares neste ano. Estão nesse grupo Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes e Luiz Fux. Em conversas reservadas, esses ministros dizem que não têm preocupação com tentativa de golpe durante as eleições. Para eles, as Forças Armadas não participariam desse tipo de movimento. Ao contrário, fariam esforço para evitar ruptura institucional em nome do fortalecimento da democracia.

Por outro lado, entre ministros do STF que não têm tanto contato com os militares, há certa preocupação com tentativa de golpe. O temor é que, a depender do resultado das eleições, haja manifestações com tentativa de invasão dos prédios do STF, do TSE e do Congresso Nacional - uma repetição dos protestos vistos nos Estados Unidos depois da derrota de Donald Trump nas urnas.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, tem sido importante interlocutor de Fux. Agora, quem fala mais com o general é Moraes, atual presidente do TSE. Também conversam com ministros da Corte o ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, e o ex-ministro-chefe da Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen.

Fernando de Azevedo e Silva tem bom diálogo com Dias Toffoli, de quem foi assessor especial quando o ministro ocupou a presidência do STF. Com o governo Bolsonaro, o general assumiu o Ministério da Defesa. Deixou o cargo e, no início do ano, Moraes o convidou para ser secretário-geral do TSE. O general chegou a aceitar, mas depois voltou atrás, alegando problemas pessoais. Agora, ensaia nova aproximação do Judiciário, com a visita de cortesia a Rosa Weber.

Recentemente, as Forças Armadas e o TSE viveram momentos de atrito. No ano passado, os militares apresentaram questionamentos à Justiça Eleitoral sobre a confiabilidade do sistema eleitoral. Luís Roberto Barroso, ministro do STF e ex-presidente do TSE, disse que as Forças Armadas estariam sendo induzidas a atacar o processo eleitoral.