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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Apesar de incomodado, TSE dá corda para militares legitimarem urnas

Alexandre de Moraes, presidente do TSE, se reuniu com ministro da Defesa e técnico das Forças Armadas em 31 de agosto - Alejandro Zambrana/Secom/TSE
Alexandre de Moraes, presidente do TSE, se reuniu com ministro da Defesa e técnico das Forças Armadas em 31 de agosto Imagem: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

Colunista do UOL

14/09/2022 12h16

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Ninguém quer ter uma pedra no sapato. Ainda mais por meses. As Forças Armadas têm desempenhado esse papel para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ministros e servidores da área técnica do tribunal se incomodam com os recorrentes questionamentos dos militares sobre a credibilidade do sistema eleitoral. Agora, pararam de reclamar e trocaram de tática.

A nova ordem é dar corda para as Forças Armadas testarem o processo eleitoral à exaustão, na esperança de não ser encontrada nenhuma falha. Como os técnicos do TSE têm convicção de que nada vai dar nada errado, a ideia é usar essa experiência como propaganda - e, dessa forma, arrebanhar o apoio dos militares.

Se o plano der certo, o TSE ganha mais uma arma na luta contra o discurso do presidente Jair Bolsonaro de que a urna eletrônica é passível de fraude. O tribunal vai precisar de muitos aliados nessa guerra, não apenas durante a campanha, mas especialmente depois das eleições.

A julgar pelas pesquisas de opinião, Bolsonaro tem maior probabilidade de perder o jogo para Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro e no segundo turno. Nas duas situações, a expectativa é que o presidente use o resultado para atacar ainda mais a urna eletrônica e o sistema de contagem de votos.

No caso de a contabilidade das Forças Armadas bater com a do TSE, esse discurso perde força entre eleitores de Bolsonaro, que têm os militares em alta estima. Nesse sentido, a contagem paralela pode prestar serviço à Justiça Eleitoral, ainda que o tribunal não tenha firmado acordo nesse sentido com os militares.

O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, tem boa interlocução com as Forças Armadas e tende a ver o atrito de forma pragmática. Não reclama publicamente dos militares e tem deixado que eles atuem nas eleições - ainda que, historicamente, o papel da instituição tenha sido apenas operacional, como garantir a chegada das urnas em locais de difícil acesso. A escalada dos militares para um patamar mais ativo no processo eleitoral, algo inédito historicamente, gera desconforto e estranhamento no tribunal.

Ontem (13), o plenário do TSE sinalizou que concorda com Moraes: por unanimidade, adotou uma das principais sugestões das Forças Armadas. No dia 2 de outubro, será feito o teste de integridade das urnas com a biometria de eleitores reais, algo que ainda não tinha sido realizado em eleições passadas.

A chamada contagem paralela de votos não é novidade: já foi encampada por outras entidades em eleições anteriores. Tecnicamente, qualquer pessoa ou organização pode fazer isso desde 2002. Os boletins de urna gerados nas seções eleitorais de todo o país são públicos, basta acessar e somar. Portanto, o discurso de que o TSE cedeu aos militares nesse ponto não chega a ser verdade.

Se Edson Fachin ainda fosse presidente do tribunal, o avanço dos militares rumo à Justiça Eleitoral talvez incomodasse mais. O ministro não tinha interlocução com a caserna e sempre deixou claro que a participação dela seria dentro da comissão de transparência do tribunal, como qualquer outra entidade.

Moraes, ao contrário, tem tentado capitalizar a boa relação com as Forças Armadas para fazer limonada com os limões arremessados contra a Corte. Parece ter percebido que a participação mais ativa dos militares, ao menos nessa eleição, é um caminho sem volta.