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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O significado do apoio de Joaquim Barbosa a Lula na reta final da campanha

O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa - Renato Costa/Folhapress
O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa Imagem: Renato Costa/Folhapress

Colunista do UOL

27/09/2022 15h26Atualizada em 27/09/2022 22h00

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Joaquim Barbosa chegou tarde à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No início do ano, o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) cogitava emprestar apoio a algum candidato de esquerda ou de centro-esquerda, mas não se posicionou. Agora, a cinco dias da eleição presidencial, Barbosa vem a público para declarar a importância do voto útil para derrotar Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno.

Em 2018, fez algo semelhante. Não apoiou nenhum candidato durante a campanha e, na véspera do segundo turno, gravou um vídeo recomendando aos eleitores que votassem no candidato do PT, Fernando Haddad, para derrotar o "candidato que me inspira medo", em suas palavras. Os dois vídeos foram gravados da Europa, onde Barbosa passa boa parte do ano. Quando está no Brasil, se reveza entre Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, onde tem parentes.

Assim como o vídeo gravado em apoio a Haddad, a mensagem de Barbosa de apreço a Lula não deve fazer diferença nas pesquisas de intenção de voto. Se o petista vencer no primeiro turno, como indica o último Datafolha, não vai dever nenhum favor ao ex-ministro do Supremo.

Barbosa se filiou ao PSB em abril de 2018, seduzido pela promessa de ser candidato a presidente da República. Desistiu de concorrer um mês depois, quando percebeu que teria espaço apenas para ser vice.

No fim do ano passado, o ex-juiz Sergio Moro (União) procurou Barbosa para uma conversa. Queria que o ex-ministro fosse vice em sua chapa na corrida presidencial deste ano. Ouviu um não como resposta. Pesou o fato de Moro ter sido anunciado ministro da Justiça de Bolsonaro logo depois que o presidente venceu a eleição de 2018. Barbosa estava na trincheira oposta.

Frustrado com a tentativa vã de ingressar no topo da política, Barbosa se desfiliou do PSB em fevereiro deste ano. Percebeu que não seria candidato a presidente e não se contentou com a ideia de andar à sombra de outra pessoa.

Barbosa, que foi indicado por Lula para integrar o STF, construiu uma reputação de juiz rigoroso nos 11 anos que permaneceu na Corte. Ficou popular em 2012, no julgamento do mensalão. Como relator do processo, conduziu a condenação da maior parte dos réus no esquema de corrupção que afetou o entorno do ex-presidente petista.

Vale lembrar: o julgamento do mensalão culminou na condenação de petistas importantes, como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que era o braço direito de Lula. Mas o processo não esbarrou em Lula, que saiu ileso do escândalo.

Em 2018, Barbosa ainda era um nome fresco na cabeça dos eleitores. Tinha a imagem associada ao combate à corrupção, grande mote da campanha presidencial daquele ano. Em 2022, o apoio do ex-ministro não tem o mesmo peso. O combate à corrupção não é mais a preocupação principal do eleitor, e sim a economia. Segundo o último Datafolha, a situação econômica do país piorou para 50% dos entrevistados.

A candidatura de Moro a presidente afundou com a maré baixa da bandeira da luta contra a corrupção. Em 2018, o ex-juiz de Curitiba estava no auge da popularidade. Neste ano, tentou ser candidato, mas não deu certo.

Hoje, Moro e Barbosa, os dois juízes que foram alçados ao posto de heróis nacionais na última década, não têm mais o mesmo peso na política. A Moro, restou uma candidatura ao Senado com pouca chance de vitória. Barbosa deverá seguir trabalhando como advogado no eixo Rio-São Paulo-Brasília, com direito a temporadas na Europa.