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Moro, o ex que deixou a porta aberta para voltar
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A volta de Sergio Moro para os braços de Jair Bolsonaro não chega a surpreender. Nesta terça-feira (4), o ex-juiz de Curitiba declarou apoio ao presidente no segundo turno da disputa presidencial contra Luiz Inácio Lula da Silva. Se em 2020 Moro deixou o governo acusando o presidente de tentativa de interferência indevida na atividade da Polícia Federal, hoje declarou que vota no ex-chefe.
O enredo é conhecido: Moro era juiz da Lava Jato, mandou prender Luiz Inácio Lula da Silva e outros réus no esquema de corrupção da Petrobras. Jair Bolsonaro surfou no discurso anticorrupção em 2018 e acabou eleito presidente. Logo depois, Moro largou a toga e aceitou convite para ser ministro da Justiça, cargo que assumiu em 2019, na estreia do governo.
O romance acabou mal em abril do ano seguinte. Moro pediu demissão e saiu atirando. Em discurso contundente, disse que Bolsonaro garantiu a ele autonomia para trabalhar no combate à corrupção, mas quebrou a promessa.
"Eu, infelizmente, não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem que eu tenha condições de trabalhar, sem que eu tenha condições de preservar a autonomia da Polícia Federal para realizar seus trabalhos. Ou sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência política na Polícia Federal cujos resultados são imprevisíveis", acusou o ex-juiz.
O caso virou inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) e, em 19 de setembro, a Procuradoria-Geral da República pediu para que o caso fosse arquivado, porque não havia elementos suficientes para apresentação de denúncia.
O próprio Moro tentou ser presidente da República, mas a candidatura morreu antes mesmo de decolar. Acabou eleito senador pelo Paraná, com 1,9 milhão de votos. Antes disso, em sua curta campanha, bateu tanto em Bolsonaro quanto em Lula.
Em fevereiro, o ex-juiz chamou Bolsonaro de "constrangimento para a diplomacia brasileira", por conta da viagem à Rússia. No mesmo mês, em palestra proferida em Teresina para empresários, advogados e políticos, Moro disse: "Vejo muita semelhança entre Dilma em 2014 e Bolsonaro em 2022, faz tudo para ganhar a eleição e o país se arrebenta no ano seguinte".
Nos últimos meses, Moro centralizou os ataques a Lula e passou a se calar sobre Bolsonaro. O presidente também fez o mesmo percurso. Em janeiro, chamou Moro de covarde. Em setembro, o jogo virou: "covardia o q fizeram com Moro", disse o presidente sobre a ação de busca e apreensão na casa do ex-juiz determinada pela Justiça Eleitoral.
"Vocês viram agora uma agressão em cima do Moro. Eu não tenho nada para defender o Moro. Tenho péssimas recordações, dele enquanto foi ministro meu aqui, que poderia ter feito muita coisa e não fez. Mas esse fato de ir na casa, ou comitê eleitoral, é uma agressão", disse Bolsonaro em entrevista à Jovem Pan News.
Hoje, Moro concluiu o movimento de volta ao aliado político e escreveu no Twitter: "Lula não é uma opção eleitoral, com seu governo marcado pela corrupção da democracia. Contra o projeto de poder do PT, declaro, no segundo turno, o apoio para Bolsonaro". Ou seja, o ex-juiz revisitou a si mesmo e, agora, não vê tanta gravidade no fato de interferir na atividade da Polícia Federal.
Bolsonaro retribuiu o afago e também esqueceu o que passou. "Passado é do passado, não tem contas a ajustar. Nós temos é que, cada vez mais, nos entendermos pra melhor servirmos a nossa pátria", disse Bolsonaro.
A equação é a mesma que rege a política desde sempre. Se Bolsonaro for reeleito, Moro sabe que terá mais influência do que em eventual governo de Lula. Bolsonaro, por sua vez, sabe que não pode jogar fora agora 1,9 milhões de votos na disputa pela cadeira que já ocupa.
Moro foi juiz por 22 anos. Nos últimos quatro anos, aprendeu rápido a velha lição atribuída a Ulysses Guimarães: "Em política, até a raiva é combinada".
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