Governo Bolsonaro realizou o desejo dos devastadores da Amazônia
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"Teve aquela conversa do governo federal, do ministro, de redução de 5% das áreas indígenas. A gente tá com essa esperança, essa expectativa, que um dia aconteça isso, para realmente legalizar o pessoal aqui dentro. Enquanto isso, a gente está ocupando aqui".
O comentário, gravado em vídeo por um dos líderes dos invasores de área indígena do Pará, foi exibido no programa Fantástico, no domingo. O criminoso faz parte de uma quadrilha de madeireiros e garimpeiros ilegais que abriu um enorme clarão na floresta, derrubou castanheiras centenárias e escavou o chão em busca de minerais.
Além da devastação, os invasores representam grande risco para a saúde dos indígenas, já que podem disseminar o coronavírus.
A gangue foi expulsa por agentes do Ibama, que fizeram uma operação de sucesso por terra e pelo ar, com o auxílio de helicóptero. Houve apreensão de madeira ilegal e armas, retroescavadeiras foram queimadas pelos agentes e o acampamento, destruído.
As cenas que mostraram a vitória das autoridades contra os bandidos da floresta representaram um alento, uma boa notícia em meio ao programa tomado por depoimentos trágicos sobre a pandemia.
Não foi assim, porém, que o governo de Jair Bolsonaro recebeu a notícia. Ontem, como informou a coluna de Rubens Valente, aqui no UOL, o diretor de proteção ambiental do Ibama, major PM Olivaldi Borges Azevedo, foi exonerado. O motivo da demissão foi justamente a operação bem-sucedida contra os bandidos da floresta.
Desaparecido desde que o vice-presidente Hamilton Mourão assumiu a coordenação do Conselho da Amazônia, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ressurgiu para assinar a exoneração de Azevedo. Para o seu lugar foi nomeado hoje outro PM, o coronel Olímpio Ferreira Magalhães.
A alegação para a troca é que a mudança vai melhorar a eficiência de ações contra o desmatamento. Nos corredores do Ibama, no entanto, o que se comenta é que o diretor demitido não conseguiu "segurar" (reduzir) a fiscalização contra os madeireiros, como seria a intenção de Salles ao nomeá-lo.
Seja essa versão verdadeira ou não, no fim das contas o ministro acabou atendendo ao desejo do marginal que liderou a invasão da floresta paraense e gravou o vídeo citado no início desse texto. O governo Bolsonaro confirmou, assim, de que lado está no embate entre os criminosos ambientais e os que pretendem preservar a Amazônia.
Nos bastidores do Ibama fala-se também de outros dois motivos para a exoneração de Azevedo. Bolsonaro e Salles não teriam gostado nadinha da queima das retroescavadeiras dos bandidos, expediente que ambos já haviam desautorizado em operações anteriores. Também gerou irritação o fato de a operação ter sido exibida justamente na TV Globo, considerada como inimiga pelo presidente.
A eficiência dos servidores do instituto, que mesmo com recursos cada vez menores conseguiram desbaratar uma quadrilha de devastadores, parece ter pouca importância para o governo.
Na condição de chefão do Conselho da Amazônia, espécie de interventor das ações governamentais para a região, o vice-presidente Hamilton Mourão deveria se pronunciar sobre o assunto. Será que concorda com a exoneração do diretor de proteção ambiental do Ibama nesse momento?
Já o ministro do Meio Ambiente nem precisa se explicar. Como diz a adaptação de um antigo ditado: de onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada.
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