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Chico Alves

Ex-ministros da Saúde avaliam falta de experiência de Teich com o SUS

16.abr.2020 - O oncologista Nelson Teich, novo ministro da Saúde, durante pronunciamento no Palácio do Planalto - Alan Santos/Presidência da República
16.abr.2020 - O oncologista Nelson Teich, novo ministro da Saúde, durante pronunciamento no Palácio do Planalto Imagem: Alan Santos/Presidência da República

Colunista do UOL

16/04/2020 20h05

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Três ex-ministros da Saúde comentaram à coluna a mudança feita na pasta pelo presidente Jair Bolsonaro, com a saída de Luiz Henrique Mandetta e a entrada de Nelson Teich. Dois deles, José Gomes Temporão, ministro no mandato de Lula, e Alexandre Padilha, titular da pasta na gestão de Dilma Rousseff e hoje deputado do PT, lamentam a falta de experiência de Teich com o Sistema Único de Saúde. Já Ricardo Barros, ministro da Saúde de Michel Temer e hoje deputado pelo PP, acredita que o sucessor de Mandetta tem condições de fazer um bom trabalho.

Temporão avalia que Mandetta sai do cargo "muito bem", por se colocar ao lado da Ciência e da Medicina, deixando Bolsonaro com o ônus do discurso de que a economia é tão importante quanto a saúde. O ex-ministro de Lula reconhece que Teich tem boa formação em oncologia mas acha que faz falta a experiência de "conhecer o SUS por dentro".

O receio de Temporão é que Teich queira inventar uma saída heterodoxa, criando rotas de flexibilização do isolamento social. "Isso poderia fragilizar muito o combate à pandemia", opina, embora ache pouco provável que isso aconteça.

"Na primeira fala dele, a única coisa nova foi a questão da testagem. Testar muito todo mundo quer, mas onde conseguir os testes?", questiona.

Ricardo Barros, que comandou a pasta da Saúde na gestão Temer e hoje é vice-líder do governo na Câmara, não conhece Teich mas acha que ele tem currículo que o qualifica para o cargo, mesmo sem a experiência em saúde pública. Além disso, classifica a equipe do ministério como "qualificadíssima". "Em torno de 98% das pessoas são servidores de carreira, vão continuar lá", diz.

Sobre a estratégia de aumentar a testagem, Barros chama atenção para expedientes que o ministério não está utilizando.

"O mercado hoje é dos compradores com pagamento antecipado, mas toda proposta que chega no Ministério da Saúde que requer pagamento antecipado é desclassificada", critica. "O país que tiver pagamento antecipado leva o produto. Precisa adequar. Votamos no Congresso uma legislação que permite ao governo fazer as compras emergencialmente, mas a equipe talvez por precaução, excesso de zelo, não está praticando isso".

Além disso, o ex-ministro de Temer critica o fato de o ministério estar tornando públicas as compras de respiradores e outros insumos de combate à covid-19. "Quando publica isso, o mundo inteiro vai lá convencer o fabricante a vender para eles e não para nós, paga mais caro e leva. Como estamos em um momento de guerra, a estratégia tem que ser de guerra, tem que ter segredo", recomenda.

Responsável pelo ministério no período de 2011 a 2014, no governo de Dilma Rousseff, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) lamenta que o escolhido para assumir o ministério da Saúde não tenha experiência no setor público.

"No momento em que o Brasil mais precisa do Sistema Único de Saúde, Bolsonaro escolhe um alienígena no SUS", observa Padilha. "Espero que o novo ministro se converta ao sistema mais rapidamente do que foi com Mandetta, que, chegada a pandemia, passou a vestir o colete do SUS. O Brasil não pode perder mais nenhum dia".