Os números de Bolsonaro no Datafolha e o negacionismo de parte da esquerda
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A julgar pelas discussões nas redes sociais, a ascensão de Jair Bolsonaro na pesquisa Datafolha deu um nó na cabeça de internautas identificados com a esquerda. Não apenas por constatar a queda de rejeição do presidente mesmo com mais de 100 mil mortos na pandemia, mas especialmente pelo motivo indicado como causa para esse fenômeno: a concessão do auxílio emergencial.
As evidências de que os R$ 600 turbinaram a imagem de Bolsonaro estão gritantes na pesquisa. A melhora mais significativa ocorreu entre trabalhadores informais ou desempregados com renda familiar de até três salários mínimos, justamente o público que recebe o benefício. O Nordeste foi onde a aprovação a Bolsonaro mais cresceu e a rejeição mais caiu. Na região, 58,9% das famílias recebem algum tipo de ajuda criada na pandemia (dados do IBGE).
Quem gastar um tempo lendo a pesquisa vai achar outras pistas de que foi, sim, o auxílio emergencial que levou a esse resultado.
Na grande praça virtual de tretas que é o Twitter, o levantamento do Datafolha foi virado e revirado, como era de se esperar. A reação de muitos tuiteiros que se identificam como progressistas ou esquerdistas, no entanto, seguiu caminhos tortuosos.
Não foram poucos os que identificaram traços de "elitismo" em quem associa a melhora do desempenho de Bolsonaro ao auxílio emergencial. Para esses, seria menosprezar os menos favorecidos acreditar que possam colocar os R$ 600 à frente de questões mais subjetivas, como política ou ideologia.
Apesar de bem-intencionados, talvez ignorem o real nível de carência dos brasileiros. Algo tão absurdo que seis notas de R$ 100 bastaram para fazer com que a extrema pobreza no país caia ao menor nível dos últimos 44 anos, como revela a Fundação Getúlio Vargas.
Houve também no Twitter quem fosse da idealização à demonização. Uma turma lançou mão de comentários revoltados, na linha do "cada povo tem o governo que merece".
Quem argumenta assim talvez não tenha noção da diferença que R$ 600 podem fazer no orçamento de várias famílias nos pedaços mais pobres do país.
Um dado da pesquisa Datafolha pode ajudar a esclarecer esse ponto: no Brasil inteiro, 53% disseram que usam o auxílio emergencial para comprar comida. No Nordeste, 65% usam o benefício para esse fim. Ou seja, é gente lutando pra matar a fome.
Obviamente, nem todos aqueles que se identificam como progressistas argumentam assim, mas impressiona a quantidade de tuítes que tentam negar as evidências. É uma parte da esquerda que, direta ou indiretamente, reivindica superioridade moral sobre o resto da humanidade.
Enquanto esse negacionismo perdurar, Bolsonaro continuará subindo nas pesquisas.
Cheios de perplexidade, descobrimos eleitores que preferem apoiar aqueles que garantem a sua sobrevivência, mesmo na contramão das nobres causas que discutimos nas redes sociais.
Mas, afinal, haverá causa mais nobre que a sobrevivência?
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