Rigoroso com a base de servidores, Guedes defende aumentar supersalários
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Incensado por economistas e boa parte dos jornalistas como pilar do governo de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia já mostrou que não é essa maravilha — muito pelo contrário. Apesar disso, não desce do pedestal. Mantém os seguidores hipnotizados com a defesa de alguns dogmas que muitos acreditam ser a salvação do Brasil.
Um desses fetiches é a palavra "reforma". Como um alakazam moderno, basta pronunciar a senha para que o séquito se ajoelhe e aceite todas as falácias que Guedes vende como se fossem verdades.
Quando chegou ao cargo, já tinha sido feita a revisão trabalhista e ele defendeu as mudanças previdenciárias com a promessa de que os investidores derramariam muito dinheiro no Brasil. Concluída a tarefa, o que se viu, mesmo antes da pandemia, foi um acelerado movimento de fuga de investidores do mercado brasileiro.
A reforma do momento é a administrativa. Em prol dessa meta, o responsável pela pasta da Economia e seu desafeto, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, se dedicam à mesma tarefa. Ambos pretendem desvalorizar os servidores públicos para mudar o que quiserem.
Os dois se revezam nas caneladas.
Primeiro, Maia disse que não existe produtividade no serviço público, o que a coluna mostrou que é inverdade.
Depois, foi a vez de Guedes fazer contorcionismo verbal para defender a incrível tese de que os servidores que têm supersalários devem ganhar ainda mais e aqueles que ganham pouco devem receber ainda menos.
Além de injusto, é um raciocínio no mínimo curioso para quem defende que a tal reforma será feita para aliviar os cofres públicos que não suportam a despesa.
Em seminário virtual realizado ontem pelo Instituto Brasiliense de Direito Público, o ministro perdeu o freio. "Os salários da alta administração brasileira eu acho que são muito baixos", defendeu.
Não parou por aí. "Tem que haver uma enorme diferença de salário, sim, na administração brasileira", comentou o titular da Economia, ao defender a meritocracia e criticar uma distribuição "socialista" (!) da remuneração no serviço público brasileiro.
Guedes aplica a lógica de instituições bancárias ao funcionalismo, assim como um açougueiro administraria uma loja de perfumes. Não entendeu ainda que são os pequenos, na ponta do serviço público, que garantem o bom atendimento aos cidadãos.
Foi seguindo essa lógica elitista que ele suspendeu vários concursos públicos. Com isso, o ministro da Economia levou setores do governo à paralisação. Um bom exemplo é o déficit de funcionários na Previdência, que acabou resultando em uma fila de espera de meses para apreciação de pedidos de aposentadoria e outros benefícios.
A proposta do governo prevê redução de salários dos que ingressarem nos serviço público no futuro e restrição da estabilidade dos bagrinhos. Aos que estão no topo, Guedes acena com mais privilégios, como se o serviço que os brasileiros procuram dependesse mais dos luminares que ocupam salas refrigeradas do que dos dedicados funcionários que suam a camisa para tentar superar a falta de recursos e a escassez de pessoal.
É sempre bom lembrar que o ministro da Economia é o mesmo que sugeriu pagar R$ 200 de auxílio emergencial. Graças ao Congresso, que o contrariou, o benefício aprovado foi de R$ 600, o que manteve alguma atividade econômica funcionando durante a pandemia.
Guedes é o mesmo que pretendia deixar municípios e estados sem o Fundeb no ano que vem, sem se importar com o caos que isso acarretaria para o ensino brasileiro.
É exatamente o mesmo ministro que gostaria de cortar o BPC na reforma da Previdência, aquele benefício que mantém a sobrevivência de idosos e pessoas incapacitadas.
Na reforma que vem pela frente, Guedes mais uma vez faz jus ao seu retrospecto: quer arrochar os servidores mais humildes e engordar os supersalários.
Vindo de quem vem, nada mais espanta. Na primeira proposta, o Ministério da Economia deixou de fora os parlamentares, os magistrados, os militares e os integrantes do Ministério Público.
Em reportagem da Folha de S. Paulo, os jornalistas Bernardo Caram, Fábio Pupo e Thiago Resende mostraram que as carreiras poupadas representam 48% do valor gasto pelo Executivo federal com todos os funcionários públicos.
Diante disso, fica difícil dizer que essa reforma será feita em nome do enxugamento de gastos.
Mas sempre haverá quem o diga, mesmo sabendo que não é verdade.
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