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Chico Alves

Diplomatas pró-Biden no Itamaraty torcem por "fim da submissão" aos EUA

Postura do governo com os EUA, considerada "canina" por integrantes da diplomacia brasileira, é criticada por aqueles que torcem por Biden na presidência americana - Adriano Machado/Reuters
Postura do governo com os EUA, considerada "canina" por integrantes da diplomacia brasileira, é criticada por aqueles que torcem por Biden na presidência americana Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

06/11/2020 04h01

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As projeções que apontam vitória do democrata Joe Biden na eleição a presidente dos Estados Unidos (EUA) deixaram diplomatas brasileiros animados como não se via há quase dois anos. Com o Palácio Itamaraty praticamente vazio, por causa da pandemia de coronavírus, embaixadores, secretários e conselheiros manifestam sua expectativa positiva em conversas frequentes por celular e aplicativos de mensagem.

São defensores da neutralidade na política externa, dizem não torcer nem por democratas e nem por republicanos. Consideram, no entanto, que a derrota de Donald Trump os libertaria do constrangimento de ficar a reboque dos posicionamentos do governo dos EUA.

Tem sido assim desde o início de 2019, quando o Ministério das Relações Exteriores passou a ser comandado por Ernesto Araújo — a quem os embaixadores apelidaram de "Beato Salu", personagem da novela Roque Santeiro que era um religioso fanático.

Longe dos holofotes da imprensa, embaixadores e secretários não cansam de criticar a forma "canina" com que o Brasil tem seguido os americanos — o que deve deixar o Brasil em um barco com nações inexpressivas, caso Trump perca as eleições.

Foi assim em resoluções anunciadas na ONU (Organização das Nações Unidas) contra o aborto, contra o direito da mulher e contra medidas de conservação ambiental; na escolha do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), quando o Brasil deixou de indicar um nome para favorecer os EUA; ou quando o ministro Araújo publicou uma nota desejando boa sorte na reconstrução da indústria siderúrgica dos Estados Unidos, após os americanos imporem restrições ao produto brasileiro.

Globalismo e tupi-guarani

A contrariedade do corpo diplomático com o chanceler é grande e ele sabe disso. Pôde sentir o ambiente desfavorável desde o dia de sua posse, em janeiro de 2019. Naquela ocasião, enquanto Aloysio Nunes, o ministro que estava de saída, foi aplaudido de pé depois de sua fala, o discurso de Araújo, cheio de teses amalucadas contra o globalismo e trechos em tupi-guarani, foi recebido com perplexidade e silêncio.

Em outras oportunidades, servidores deixaram claro o seu descontentamento. Como em dezembro, na cerimônia de promoção de servidores do Itamaraty, quando o ministro voltou a ser tratado com frieza.

Caso se confirme a vitória de Biden, muitos torcem para que Araújo seja demitido, mas não são muitos os que acreditam nisso, pela proximidade que tem com Bolsonaro.

De qualquer forma, somente a perspectiva de que a diplomacia brasileira deixe de ficar a serviço dos interesses americanos já foi suficiente para motivar a excitação dos últimos dias, verificada no movimento frenético das mensagens de WhatsApp.