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Chico Alves

"Bolsonaro deveria vir para o Amapá provar o racionamento", diz Randolfe

Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) - Foto: Lula Marques/Ag. PT
Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) Imagem: Foto: Lula Marques/Ag. PT

Colunista do UOL

08/11/2020 17h07

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Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) não é aceitável o prazo que o governo federal fixou para restabelecer completamente a energia no Amapá. "A situação ainda é dramática", diz ele. Rodrigues sugere que tanto o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, quanto o presidente Jair Bolsonaro passem ao menos 24h no estado para sentir a verdadeira extensão do problema.

O parlamentar reclama da falta de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e do Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre a empresa Isolux, responsável pela distribuição de energia. Também cobra que o governador amapaense Waldez Góes (PDT) tenha mais iniciativa para ajudar a população.

"Recebi relatos de manifestações de insatisfação popular em várias localidades", alerta Rodrigues.

UOL - A fala do ministro das Minas e Energia dá a entender que a solução do problema está encaminhada. É isso mesmo?

Randolfe Rodrigues - Só no mundo encantado do ministro, que pega um avião, vem aqui e volta. Se ele passar 24h aqui vai ver o mundo real, vai ver que o abastecimento de água continua em colapso, as pessoas continuam atrás de água, a telefonia em alguns locais não funciona, mesmo onde tem energia. A situação está longe de ser normal. Para o ministro que pega um jatinho, fica aqui uma meia hora, dá entrevista para a TV e volta, está ótimo.

O presidente Bolsonaro foi para Florianópolis, não veio para cá. O presidente poderia ficar aqui um dia no racionamento, no calor. O ministro também. Aí veriam um pouco da situação real.

O sr. tem recebido muitos informes de protestos em comunidades prejudicadas?

Recebi depoimentos esta madrugada. Tem vários focos de insatisfação popular, foi organizada uma manifestação marcada para hoje. Há vários locais em que podemos sentir uma revolta muito grande da população.

Chegaram muitos relatos, fotos e vídeos de protestos com objetos que foram incendiados nesta madrugada para formar barricadas. Um dos protestos interditou a BR-156, os moradores queriam chamar atenção para o seu abandono.

Que tipo de dramas foram relatados ao sr.?

Os locais periféricos de Macapá, as chamadas áreas de ressaca, onde as pessoas mais pobres moram em região de alagado, já têm dificuldade de abastecimento de água, têm situação difícil de moradia. Isso se agravou com a falta de energia, o calor e com a falta d'água.

Recebi relatos pela manhã de que em alguns raros locais onde chegava o carro-pipa as pessoas não tinham nem sequer vasilhas para guardar a quantidade adequada de água para suprir as necessidades básicas de casa. No máximo as pessoas tinham panela.

Na sua opinião, negligência foi a causa do apagão?

O sistema de redistribuição de energia, que é ligada ao Linhão do Tucuruí, é uma concessão da União para a empresa espanhola Isolux. Essa terceirizou o linhão para uma outra empresa chamada LMTE, que é a responsável pelo parque de distribuição. A União deveria fiscalizar essa empresa através da ANEEL e através do ONS.

Esse parque de distribuição é único. Esse é o primeiro erro, deveria haver um parque de distribuição alternativo. Houve uma tempestade de raios na terça-feira, um transformador explodiu e comprometeu o segundo. O que deveria acontecer era o transformador reserva entrar em funcionamento, para socorrer o sistema Amapá. Mas o transformador reserva estava há 12 meses em manutenção. A ANEEL e o ONS não fiscalizaram isso.

Outra coisa: até 2012, a Eletronorte mantinha um parque termelétrico. Quando essa empresa ganhou a licitação, o parque termelétrico foi desativado. Foi um grave erro. Esse parque poderia entrar em sistema de reserva no momento da crise.

Como avalia a atuação do governador Waldez Góes?

Lamentável. Tem-se comportado sempre a mercê do governo Bolsonaro. E sem nenhuma iniciativa. Quando eclodiu a crise, o mínimo que deveria ser feito era colocar carros-pipa à disposição dos moradores. O governo estadual não fez isso. As pessoas ficaram padecendo.

O Procon não atuou e preços de produtos foram reajustados indevidamente, o preço de combustível dobrou em algumas bombas, em alguns locais houve racionamento de pão, nas prateleiras de supermercado os preços dispararam. Ele deveria ter ido à rua para impedir reajuste abusivo de preços,

O governador não tomou atitudes mínimas, ficou apenas esperando o governo federal.

Quais os efeitos da crise da energia para a pandemia?

Alguns médicos me disseram que em 15 dias deve explodir o número de casos de covid no Amapá. Como é possível ter higiene se não tem água? Se já era difícil antes, imagine agora.