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Chico Alves

Corrupção de Crivella agravou efeitos da pandemia no Rio, diz MP

Crivella deixa Cidade da Polícia rumo ao IML, sem falar - Reprodução/GloboNews
Crivella deixa Cidade da Polícia rumo ao IML, sem falar Imagem: Reprodução/GloboNews

Colunista do UOL

22/12/2020 16h30

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Se não bastassem todos os malefícios de um esquema de corrupção tão extenso quanto o que o Ministério Público revelou na gestão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), tudo ficou ainda pior por acontecer no meio da pandemia. A mistura desses dois fatores (roubalheira mais covid-19) ajuda a explicar por qual motivo o Rio é a capital com maior número de mortes por coronavírus em dezembro, batendo até mesmo São Paulo, que tem o dobro de habitantes.

Até o dia 18, a capital fluminense tinha 942 mortes no mês, enquanto a capital paulista registrava 822 óbitos por covid-19. Os números no Rio crescem, mas a rede de saúde encolhe. O motivo? Faltam no atendimento à população os recursos que sobram no propinoduto de Crivella, acusa o MP. Sem pagamento, tanto as empresas quanto os médicos e enfermeiros não puderam continuar a atuar nos hospitais e clínicas.

Em sua exposição para explicar a prisão de Crivella, o subprocurador-geral da Justiça, Ricardo Ribeiro Martins, contou que era preciso interromper o fluxo de dinheiro público para o esquema ilícito. Mesmo com os números trágicos de dezembro, o prefeito e seus "comparsas" continuavam priorizando o pagamento de empresas que contribuíssem com propinas. O pagamento de servidores de saúde e organizações sociais que atuavam nas unidades estava longe de ser prioridade, disse Martins.

De acordo com a denúncia, Rafael Alves, o operador principal do esquema, decidia quais empresas receberiam os chamados "restos a pagar" (quitação de débitos atrasados). Como se fosse o próprio prefeito, Alves escolhia pagar àqueles empresários que contribuíssem com propina para a quadrilha.

Atravessando grave crise financeira, a Prefeitura tinha que optar entre pagar dívidas atrasadas ou pagar servidores das várias secretarias, inclusive da Saúde. As organizações sociais que atuavam em clínicas e hospitais foram preteridas, disse o subprocurador.

Como resultado, muitos profissionais que atuam na linha de frente do combate à pandemia ficavam sem salário. Não foram poucos os que desistiram dessa luta inglória.

Além disso, muitas equipes foram suprimidas em plena pandemia para que sobrassem recursos para engordar as contas da organização criminosa.

De todas as modalidades de corrupção, essa que troca a vida dos cidadãos por benefícios ilícitos talvez seja a mais cruel.

Ainda mais quando comandada por um político que por tantas vezes repetiu para as câmeras, com a expressão impassível, que assumiu a Prefeitura para "cuidar das pessoas".

É preciso lembrar que o governador afastado do Rio, Wilson Witzel (PSC), sofre processo de impeachment e ameaça de prisão por denúncias de roubalheira também nos recursos que deveriam ser destinados ao combate ao coronavírus.

A folha corrida de Witzel e Crivella explica o sofrimento de tantas famílias que perderam parentes quando poderiam salvá-los. E também a angústia dos que, no exato instante em que você lê esse texto, estão em algum corredor de hospital com um ente querido em estado grave à espera de um leito de UTI que, infelizmente, poderá nunca surgir.