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Chico Alves

Apoio a Baleia Rossi não apaga o fato de que fez parte do golpe, diz Gleisi

A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT -  Pedro Ladeira - 22.out.2018/Folhapress
A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT Imagem: Pedro Ladeira - 22.out.2018/Folhapress

Colunista do UOL

05/01/2021 11h01

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Depois de uma acalorada discussão sobre se haveria apoio a uma candidatura à presidência da Câmara dos Deputados ou lançamento de candidato próprio, o Partido dos Trabalhadores decidiu que estará ao lado de Baleia Rossi (MDB), "candidato de Rodrigo Maia (DEM)". O placar da votação é prova de que o debate foi acirrado: 27 a 23.

A presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, garante que aqueles que votaram contra o apoio a Baleia não são potenciais eleitores de Arthur Lira, "candidato de Jair Bolsonaro (sem partido)". Os vencidos na votação queriam, na verdade, um candidato petista.

"Foi um debate duro", confirma Gleisi. "Estarmos apoiando o Baleia agora para essa eleição da mesa não quer dizer que nós achamos que eles não deram o golpe [impeachment de Dilma Rousseff]". Segundo a deputada, a convicção no partido é de que muitos que agora apoiam o emedebista foram responsáveis pelo que está acontecendo no Brasil, inclusive a eleição do Bolsonaro.

A opção do PT, no entanto, foi pela "contenção de danos" e pela tentativa de alguns avanços. Na negociação, as prioridades foram a luta pelo restabelecimento de uma renda emergencial na pandemia e um esforço para agilizar a campanha de vacinação.

"A Câmara tem que retomar o protagonismo que teve no início da pandemia", afirmou Gleisi, nesta entrevista à coluna:

UOL - Quais os principais compromissos assumidos por Baleia Rossi que garantiram o apoio do PT?

Gleisi Hoffmann - Nas questões relativas à vida do povo. Ou seja, que a Câmara tome iniciativa com relação à renda emergencial caso o governo Bolsonaro não responda no início do ano. Isso nos preocupa muito. Numa pandemia, o povo doente, desempregado e sem renda, não estamos vendo por parte do governo nenhuma iniciativa para dar resposta a isso.

Nem aumento do Bolsa Família e nem a recolocação do auxílio emergencial. Esse foi um ponto muito importante na conversa com o Baleia.

A questão da vacina também. A Câmara tem condições de ajudar a resolver isso, seja votando projeto de lei, decreto legislativo, determinando aquisição de equipamentos, disponibilizando recursos. Esses dois pontos foram os mais importantes do ponto de vista emergencial para a situação do país.

Trataram sobre os pedidos de impeachment contra o presidente Bolsonaro que estão parados na Câmara?

Sim. Tratamos sobre abertura de CPIs, que quando haja o fato e o número mínimo de assinaturas, que as CPIs não sejam paralisadas; a aprovação de decretos legislativos, a convocação de ministros e usar qualquer instrumento previsto na Constituição, inclusive aqueles para julgar crimes cometidos por membros do Poder Executivo [aqui numa menção aos processos de impeachment que ocupam gavetas Congresso adentro].

O placar foi bem apertado, 27 a 23. Isso quer dizer que Arthur Lira pode contar com o voto secreto de alguns petistas?

Não. Eu não tenho como dizer que ninguém vá votar no Lira, mas o que aconteceu foi outra coisa. Foi uma discussão difícil na bancada por conta de todo o precedente que tivemos da participação do MDB e desses partidos do bloco no golpe contra a Dilma, no apoio à Lava Jato e à prisão do Lula.

Foi um debate duro. Estarmos apoiando o Baleia agora para essa eleição da mesa não quer dizer que nós achamos que eles não deram o golpe. Achamos que deram e que são responsáveis, inclusive, em grandíssima parte pelo que está acontecendo no Brasil. Inclusive a eleição do Bolsonaro.

Mas teve um racha na base deles e a discussão que nós tivemos no partido foi de aproveitar esse racha para que a gente pudesse fazer um bloco contra o que é o pior, que é o Bolsonaro. O atraso do atraso, a escalada autoritária. O cara que faz apologia à ditadura, o que retira direitos.

Mas na discussão muitos acharam que deveríamos ir com candidatura própria e só no segundo turno declarar apoio à candidatura contra o Bolsonaro. O problema é que o segundo turno da eleição da Câmara é apenas uma hora depois do primeiro turno. Não teria como fazer negociação antes, isso seria sinal de enfraquecimento da candidatura do lado de cá que poderia provocar debandada para o lado de lá.

O fato de o PT não ter conseguido lançar candidatura forte à presidência da Câmara é sinal de desgaste do partido?

Ninguém teve essa possibilidade na oposição. Temos que lembrar o seguinte: somando todos os partidos de oposição nós somos 132, de um total de 513 deputados. Somos minoritários, não temos chance de ganhar uma eleição como essa.

Temos chance de influenciar no processo. No máximo poderíamos ter uma candidatura para marcar posição. A solução é usar a força que temos para estabelecer uma pauta de negociação, que foi o que fizemos.

Baleia Rossi votou a favor de 90% das pautas do governo Bolsonaro. Ele vai ter que mudar ou o PT vai ficar mais compreensivo?

Decidimos submeter uma pauta que representasse contenção de danos e avanços em algumas políticas.

Nós fizemos um acordo para essa eleição. Estabelecemos uma pauta política e de procedimentos. Foi essa carta compromisso que divulgamos e foi apoiada pelo Baleia. Então, ele tem um acordo conosco nesses pontos. Se ele tem divergência sobre isso, vai ter que mudar. Ele fez um acordo.

Obviamente não vamos mudar toda a visão dele. Sabemos com quem estamos lidando, as posições que defendem, o que aconteceu nesse processo todo. Mas aproveitamos a força que nós temos como oposição para estabelecer uma pauta de compromissos. Em cima dessa pauta nós vamos fazer as cobranças. Ele se comprometeu publicamente com isso. Então, nesses pontos ele vai ter que mudar, com certeza.

Quem costurou o apoio a Baleia Rossi foi o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Até onde vai o apoio ou afinidade do PT com Maia?

Não temos nenhuma afinidade com Rodrigo Maia na pauta econômica, a economia liberal que ele defende. Aliás, somos absolutamente contrários, sempre lutamos contra as reformas.

Já encaminhamos algumas pautas junto com ele e agora temos essa pauta que foi aceita pelo Baleia, que passa a ser um compromisso do próprio Rodrigo Maia, que é um dos fiadores da candidatura.

As convergências são nos temas que têm a ver com a ordem democrática. Os direitos e garantias individuais, os direitos humanos, pauta ambiental, direitos indígenas, contra a escalada autoritária. Essa é a pauta mais convergente entre nós.