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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Diante do deputado musculoso, policial solitária teve reação mais acertada

Colunista do UOL

17/02/2021 19h39

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Foram muitas as reações desde que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) postou nas redes sociais o vídeo em que despeja ameaças e xingamentos a ministros do Supremo Tribunal Federal, além de fazer apologia ao AI-5.

Alexandre de Moraes determinou prisão em flagrante; os parlamentares da Câmara debatem se ratificam ou não a punição e a Procuradoria-Geral da República denunciou Silveira por agressão, incitação à violência e outros crimes.

Todas essas reações dão margem a controvérsias.

A ordem de Moraes detonou discussão sobre se é possível ou não aplicar o conceito de flagrante a um mandado de prisão daquela natureza.

O debate entre os deputados oscila entre a condenação ao comportamento de Silveira e o receio de que a decisão de Moraes permita punições arbitrárias aos políticos.

A denúncia da PGR chega com atraso, diante do extenso cartel de barbaridades praticadas pelo pesselista marombado.

Partiu de uma solitária policial que cumpria plantão na portaria do Instituto Médico Legal do Rio a atitude mais acertada diante das bravatas do brutamontes.

Como costuma fazer em outros recintos, o negacionista Silveira tentou entrar sem máscara contra a covid-19 para fazer exame de corpo de delito, antes de seguir para a prisão.

Ante o pedido da policial civil para que colocasse a máscara, o deputado alegou que tem "dispensa". A mulher não aceitou a alegação: "Aqui dentro não tem dispensa".

E prosseguiu: "Para a nossa proteção e para a sua, mas aqui dentro tem que usar máscara".

O deputado insiste e a policial repete: "Não existe dispensa", diz ela.

Silveira se exalta "Não existe? Não? Eu faço o quê? Rasgo? A senhora não manda em mim não".

A partir daí, sob o olhar complacente do delegado federal que o escoltava, o parlamentar passa a discutir com a mulher. Por vezes, faz menção de avançar em direção a ela e é contido.

Diz que a servidora é "militante petista", que quer "fazer espetáculo", avisa à agente que "não está falando com vagabundo não", solta vários palavrões e provocações.

A policial, no entanto, foi inflexível. "Aqui dentro tem que usar máscara, senhor", foi a frase mais repetida por ela, em voz tranquila. Também disse a ele algumas vezes: "Respeita a casa".

Depois de muito esbravejar, Daniel Silveira finalmente colocou a máscara.

Em nenhum momento a mulher pareceu intimidada com o tom agressivo do deputado.

Sem qualquer alarde, a policial cumpriu o seu dever e obrigou o parlamentar musculoso a cumprir as regras de civilidade de uma forma mais instantânea que o ministro do STF, a Comissão de Ética da Câmara ou a PGR.