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Com terceira onda à vista, Bolsonaro inova e cria a aglomeração motorizada
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Com 440 mil mortos na pandemia e a vacinação em ritmo lento, o que os brasileiros mais esperam do seu presidente é que ele saia por aí a passeio, montado em uma possante motocicleta. Aparentemente, é esse o pensamento de Jair Bolsonaro, que hoje circula no Rio à frente de extenso cortejo em duas rodas.
O Brasil é responsável por 13% das mortes por coronavírus do planeta, os sedativos para o chamado kit intubação continuam escassos, ainda faltam leitos de UTI e a terceira onda da pandemia parece inevitável, mas para o presidente fundamental mesmo é seu compromisso com os apoiadores motoqueiros.
Afinal, o que é uma pandemia perto da campanha antecipada à reeleição? Isso, sim, é prioridade.
Foi certamente por isso que o chefe da nação evitou gastar tempo com a reunião enfadonha como aquela do G20, realizada na sexta-feira. Participaram líderes de países como Reino Unido, Holanda, México, Indonésia, Itália, Japão, Canadá, Espanha, França, Alemanha, China, Argentina, Turquia, África do Sul e Coreia do Sul.
Bolsonaro escapou para o Maranhão, onde cumpriu mais uma agenda pré-pré-eleitoral, inaugurando uma ponte e disparando ofensas contra adversários políticos.
Pouco importa para ele se no encontro do G20 foi anunciada doação de 30 milhões de doses de vacinas ao consórcio Covax, que o Brasil poderá deixar de receber por conta da omissão do presidente. O foco é na pré-pré-candidatura, 2022 é logo ali.
O que realmente interessa a Bolsonaro é passar ao eleitor a ideia de coragem contra o vírus. Além disso, se esforça para incentivar as pessoas a se aglomerarem.
Tanto que criou a aglomeração motorizada.
Essa modalidade foi vista pela primeira vez em Brasília, quando ele e seus apoiadores motoqueiros circularam por alguns quilômetros sem máscaras, expelindo perdigotos ao vento.
Repete a dose hoje no Rio e fará o mesmo em outras cidades. Sorridente, como se o país estivesse em boa fase, ele vai à frente do pelotão motorizado, em busca de aplausos de personagens com camisa da seleção.
A bordo de sua máquina, Bolsonaro deve ter a mesma sensação de liberdade decantada por todos os motoqueiros e eternizada em filmes como o lendário "Easy Rider", de 1969.
Nessa película, as cenas em que Peter Fonda e Dennis Hopper engolem as estradas americanas, tendo ao fundo a música "Born to be Wild", da banda Steppenwolf, dão bem a dimensão do que o presidente e os motobolsonaristas devem sentir.
Com o vento no rosto, fica mais fácil esquecer chateações como a cobrança pelo uso de máscara, a pressão por mais vacinas, o desgaste da CPI da Covid. Ao som do ronco do motor, o presidente e sua trupe vão se imaginar selvagens como os personagens de Fonda ou de Hopper.
As más línguas, porém, talvez digam que existe outra semelhança. É a tradução brasileira para o título do road movie, muito apropriada para Bolsonaro.
Aqui, o clássico "Easy Rider" foi batizado como "Sem Destino".
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