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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mentiras de bolsonaristas sobre atos da oposição mostram que sentiram golpe

Manifestação contra o governo de Jair Bolsonaro  - Divulgação
Manifestação contra o governo de Jair Bolsonaro Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

30/05/2021 10h37

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Por muitos meses, somente manifestações a favor de Jair Bolsonaro ocuparam as ruas do Brasil. Defensores do distanciamento social, opositores evitaram o quanto puderam a realização de atos públicos durante a pandemia. Os protestos contra o governo se limitaram às redes sociais.

Bolsonaro se aproveitou dessa vantagem e se esbaldou. Sem ligar para o coronavirus, por várias vezes incentivou apoiadores a irem às ruas com faixas e cartazes para defender pautas antidemocráticas com as quais concorda. Também incentivou o culto à personalidade — própria, óbvio.

O resultado dessas mobilizações não foi muito animador. A não ser em uma cidade ou outra, o número de participantes dos atos pró-governo não foram expressivos.

O momento de maior sucesso de marketing político foi a 'motociata' realizada no domingo, 23, que teve a participação de milhares de motociclistas desfilando pelo Rio, com Bolsonaro à frente.

Cansados de fanfarronices como essas e das barbeiragem do governo em vários setores, mas especialmente na condução do combate à pandemia, parte da oposição decidiu ir às ruas ontem para protestar. Políticos e ativistas adversários de Bolsonaro avaliaram que era preciso se arriscar em meio à pandemia para enfrenta-lo, sob pena de se omitir diante da destruição que promove no Brasil.

Uma parcela da oposição, porém, decidiu não aderir e manter o isolamento. Isso aumentou a expectativa sobre se haveria comparecimento massivo às manifestações.

Como se viu ontem, os protestos tiveram grande participação. As avenidas Paulista, em São Paulo, e Presidente Vargas, no Rio, ficaram tomadas por manifestantes. A Esplanada dos Ministérios também recebeu bom público. Outras capitais tiveram movimento intenso nas ruas.

O êxito dos atos anti-governo foi tal que parece ter surpreendido os bolsonaristas. Sem poder usar imagens verdadeiras para tentar desmerecer a mobilização dos oponentes, recorreram a seu instrumento de costume: fake news.

Poucas horas após o fim dos protestos, deputados e senadores governistas, personalidades como o pastor Silas Malafaia e blogueiros da extrema-direita passaram a divulgar imagens de manifestações do passado ou de momentos iniciais dos atos para sustentar que a participação nos protestos de ontem foi baixa.

Hoje, os bolsonaristas fizeram chegar aos trend topics do Twitter a mentira de que as imagens divulgadas ontem pela oposição sobre a manifestação na Avenida Paulista seriam de atos de 2016. Esqueceram apenas de explicar como então pode-se ver nos vídeos e fotos o boneco inflável de Jair Bolsonaro, de faixa presidencial. Como se sabe, há cinco anos ele estava longe do Planalto.

Certamente, as informações falsas vão circular entre alguns desavisados e outros mal-intencionados, que infelizmente passarão a usá-las para argumentar em seus grupos de Whatsapp ou no boteco da esquina.

A estratégia, porém, revela que não sobrou alternativa aos bolsonaristas: para manter a narrativa de que são a maioria. Tiveram que novamente espancar a realidade.

Mais: ao compararem a manifestação de ontem na Paulista com o protesto de 2016, admitem que a mobilização da oposição conseguiu se aproximar do momento de pico dos protestos populares no Brasil.

Se levarmos em consideração que parte dos oposicionistas decidiu ficar em casa por medo do coronavirus, é possível concluir que Bolsonaro terá ainda muitos motivos para se preocupar com a inquietação de seus adversários quando eles se juntarem nas ruas.