Topo

Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Credibilidade de Nise Yamaguchi foi triturada pela CPI da Covid

01.jun.2021 - Médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília (DF) - Adriano Machado/Reuters
01.jun.2021 - Médica Nise Yamaguchi durante depoimento na CPI da Covid, no Senado Federal, em Brasília (DF) Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

01/06/2021 20h18

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Quando foi anunciado o convite à médica oncologista Nise Yamaguchi para participar da CPI da Covid, não foram poucos os que acharam que ela transformaria o depoimento em show promocional pelo uso da cloroquina e da ivermectina contra o coronavírus. Afinal, Nise é um dos principais nomes da tropa de choque bolsonarista que defende o chamado tratamento precoce para a doença, algo refutado pelas principais instâncias científicas.

A expectativa era baseada no vasto currículo da médica e em seu poder de oratória - o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) chegou a dizer que a voz calma da doutora seria capaz de convencer muita gente. O que aconteceu, porém, foi algo bem diferente.

Os senadores da CPI fizeram o dever de casa e foram muito bem preparados para a sessão. Por várias vezes, a médica foi desmentida, contraditada e desautorizada, sem apresentar argumentos convincentes para manter suas posições. Foi um show de momentos constrangedores.

O embate com o senador Otto Alencar (PSD - BA) assemelhou-se a uma prova oral em que o professor toma a lição de uma péssima aluna.

Alencar despejou várias questões sobre os casos que a médica garante ter apresentado melhora com a utilização do kit covid: "Fez exames pré-clínicos?", "Se fez, acompanhou os pacientes para saber se houve sequelas?", "Fez d-dímero (avaliação do processo de coagulação) de seus pacientes?", "Exame de tomografia?", "Ocorreu fibrose pulmonar?". Não recebeu resposta alguma.

"A senhora nem estudou, doutora", disparou Alencar. "A senhora foi aleatória mesmo, superficial".

Pouco depois, Nise Yamaguchi foi questionada por Alessandro Vieira (Cidadania - SE) sobre quais pesquisas sérias poderia citar para embasar sua defesa da cloroquina e da ivermectina como tratamento da covid.

Ela mencionou apenas um estudo da Henry Ford Foundation. Vieira corrigiu: a tal pesquisa foi interrompida em dezembro do ano passado por não encontrar evidências suficientes. "Não foi essa a informação que eu tive", alegou a médica.

Fabiano Contarato (Rede - ES) e Zenaide Maia (PROS - RN) deram o golpe final.

Como saldo, Nise Yamaguchi entrou hoje no Senado como grande especialista e saiu como mera palpiteira em assuntos sobre os quais não entende.

Mais que isso: os bolsonaristas perderam sua principal porta-voz do tratamento precoce.