Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Vai trabalhar, Bolsonaro!
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De todos os personagens que passaram pela Presidência da República, Jair Bolsonaro é disparado o mais autoral - até porque Jânio Quadros não teve tanto tempo para exercer sua criatividade. Desde que se tornou presidente, Bolsonaro exibiu estilo nunca antes visto no Planalto.
O presidente incorporou à rotina o hábito de xingar aqueles que considera opositores na política, no Judiciário e na imprensa. Utiliza-se diariamente de mentiras como se isso fosse algo corriqueiro nas democracias. Defende garimpeiros, enquanto ofende indígenas. Prescreve remédios inócuos e ataca vacinas de eficácia comprovada, em meio à pandemia mais grave da história. Investe contra o sistema eleitoral do próprio país para defender o anacrônico voto impresso.
Entre todas as preocupações bizarras, porém, uma é a mais constante: a perpetuação no poder.
Mesmo diante da promessa feita em campanha de não disputar reeleição, desde o primeiro dia de mandato Bolsonaro dedica a maior parte de seu tempo a propagandear e planejar uma segunda temporada no Palácio do Planalto.
No começo, o único caminho era a vitória nas urnas. Ultimamente, porém, com a dianteira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas, tem atiçado cada vez mais sua trupe golpista. Convocou todos às ruas para no dia 7 de setembro tentar intimidar os outros poderes. Hoje voltou ao tom de ameaça e falou em "ultimato" que as manifestações representam para "uma ou duas pessoas" (supostamente, os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso)
Nas mensagens que correm nos aplicativos de mensagens e redes sociais, o objetivo a ser alcançado no Dia da Independência é fechar o regime na marra.
Nesse clima insano, o presidente tem usado seus dias dando entrevistas a rádios do interior com características de campanha eleitoral, fazendo lives em que ofende seus oponentes, inaugurando obras paroquiais dignas de vereadores e passeando de moto até mesmo nos dias de semana.
Enquanto Bolsonaro bate boca por aí, a economia naufraga.
Carne, arroz, feijão, frango e outros itens da alimentação estão custando os olhos da cara. O preço do gás de botijão está nas alturas. A gasolina passou de R$ 7.
Com a fixação de turbinar o novo Bolsa Família, o governo quer jogar para escanteio o controle fiscal, dar calote em precatórios, bagunçar ainda mais o que já está desarrumado.
Para piorar, a crise hídrica traz de volta o fantasma de um possível apagão para assombrar famílias e empresas.
Como resultado, a previsão do PIB encolheu.
O cenário é preocupante, mas o presidente do Brasil continua a agir como se não tivesse responsabilidade sobre nada disso. Não quer saber de questões espinhosas. De vez em quando abre espaço na agenda para esbanjar dinheiro público (entre janeiro e agosto gastou R$ 5,8 milhões no cartão corporativo) ou traçar estratégias para blindar os filhos acusados de rachadinha e propagação de fake news.
Mas seu mantra preferido continua sendo a antecipação de campanha e a incitação ao golpe.
Batente, que é bom, nada.
Se fosse qualquer outro servidor público a gastar seu expediente para tratar de bobagens semelhantes enquanto o país afunda, um chefe hipotético poderia berrar: "Vai trabalhar, Bolsonaro!"
Como se trata do político no mais alto cargo do país, ninguém fará isso.
PS.: Pensando bem, levando-se em conta as ideias bisonhas que Bolsonaro expele a cada vez que se propõe a falar dos problemas nacionais, talvez seja melhor que continue vagabundeando por aí.
Assim atrapalha menos.
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