Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A conversa do PM com Jesus Cristo, na Via Crúcis de São Paulo
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- Boa tarde, cidadão. Sou o sargento Ribeiro, da PM. Por favor, documentos.
- Desculpe, mas não tenho. Além disso, não teria como atender o senhor enquanto carrego essa cruz.
- Como assim, não tem documentos? Qual o seu nome?
- Jesus.
- Jesus de quê?
- Jesus de Nazaré.
- Se não tem documentos vou ter que levar o senhor para a delegacia.
- Eu já estou preso. Mais que isso: esses soldados de Jerusalém estão me levando para ser crucificado. Essa é a Via Crúcis.
- História muito estranha. Essa jurisdição é da PM de São Paulo. Soldados de Jerusalém não apitam nada aqui... Quem é esse senhor ao seu lado?
- Padre Júlio Lancellotti, um amigo meu.
- Acho que estou reconhecendo. Não é ele que fica dando guarida pra desocupados que moram na rua?
- Ele ajuda os desvalidos em situação de rua, leva esperança para as pessoas. É um homem muito bom.
- Um agitador, isso sim. Faz essas pessoas se acostumarem com a vagabundagem em vez de procurarem trabalho.
- Vagabundagem? Eles procuram emprego mas não tem.
- Pra quem não quer trabalhar, qualquer coisa é desculpa.
- Sargento, veja se pode me liberar. Essa cruz está muito pesada...
- Liberar? O senhor vai para a delegacia. Não tem documentos, cercado de gente estranha... isso está parecendo mais uma manifestação comunista.
- Se está procurando manifestação estranha, o senhor devia ir agora na rodovia dos Bandeirantes. Vai prender muita gente.
- O que está acontecendo lá é um evento cristão . A motociata do presidente.
- Evento cristão? Liderado pelo homem que prega a liberação de armas e defende tortura?
- Sim. O nome do evento é "Acelera pra Cristo".
- Amigo, isso não tem nada de religioso. Eu sei do que estou falando, estão usando meu nome em vão: Cristo sou eu!
- Como é que é?
- Isso que você ouviu. Eu sou Jesus Cristo.
- Ah, tá. E eu sou o coelhinho da Páscoa.
- Mas é verdade.
- Chega desse papo maluco, vamos para a delegacia agora. Pode entrar na viatura, cidadão. (O sargento faz um gesto para o colega de guarnição) Ô Vieira, prende esse padre comunista também. Vamos resolver logo isso que eu preciso dar uma passada no shopping pra comprar uns chocolates para as crianças lá de casa.
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