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Achincalhado na convenção de 2018, centrão hoje manda em Bolsonaro
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Do candidato que prometia o fim do fisiologismo na política brasileira até se transformar no presidente que pratica o maior "toma lá, dá cá" da história, a metamorfose de Jair Bolsonaro foi impressionante. Não há melhor maneira de medir essa transmutação que comparar a convenção do PSL de 2018 com a de hoje.
Há quatro anos, o evento que oficializou a candidatura de Bolsonaro à Presidência tinha como um dos principais temas a execração do centrão. Naquele momento, o candidato se referiu a esse grupo político como "a nata do que há de pior no Brasil".
Hoje filiado ao PL, o presidente Bolsonaro tem como principais parceiros para garantir a governabilidade, blindá-lo da ameaça de impeachment e lutar pela reeleição justamente os caciques do centrão, Arthur Lira e Valdemar Costa Neto.
Para conquistá-los, o presidente criou um orçamento secreto que dá a Lira, presidente da Câmara, o poder de priorizar aliados na destinação de verbas governamentais que chegam ao impressionante patamar de R$ 19 bilhões - boa parte sem que a população possa saber para onde foi.
Também a campanha pela reeleição é comandada pelos líderes do centrão. Foram eles que indicaram o marqueteiro e que organizaram o evento de hoje, no Maracanãzinho.
Na convenção de 2018, porém, a promessa era de que essa turma seria excluída das negociações com o governo. Em seu discurso de quatro anos atrás, Bolsonaro prometeu que se fosse eleito iria driblar o fisiologismo conversando com as bancadas, procuraria os deputados "um a um". Anunciou que faria tudo diferente dos mandatários anteriores.
"Se for para fazer a mesma coisa, eu estou fora. Faço isso pela minha filha Laura, de 7 anos", bradou ele à plateia de 3 mil pessoas.
Uma vez no governo, Bolsonaro não só fez a mesma coisa que os antecessores como elevou a troca de verbas por apoio político a um nível nunca visto.
Foi também naquela convenção do PSL que o general Augusto Heleno, bolsonarista fanático, iniciou sua carreira de sambista, ao entoar a célebre paródia em que cantava: "Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão". Heleno também se referiu a esses políticos como "aqueles que querem escapar das barras da lei". Hoje, o general convive tranquilamente com Lira, Costa Neto e Ciro Nogueira sem dar um pio.
O evento pesselista de 2018 teve outra cena simbólica: a fala do deputado Eduardo Bolsonaro, filho 02, que cobrou da plateia fidelidade a princípios. "Eu queria tirar foto do rosto de cada um dos senhores aqui, pra saber se em 2019, quando o coro comer pra valer, se vocês vão se deixar seduzir por discursos do centrão ou vão se manter firmes e fortes com Bolsonaro", disse Eduardo.
Visto agora, o vídeo com a bravata do filho 02 é risível.
A convenção que oficializa hoje a candidatura de Bolsonaro não é contrastante com a de 2018 apenas pela presença do centrão. Os planos de governo anunciados então são muito diferentes do que se viu na prática. Entre outras coisas, o candidato prometeu reduzir o número de ministérios (acabou aumentando), privatizar e extinguir estatais que não fossem estratégicas (a única empresa desestatizada foi justamente a estratégica Eletrobras) e privilegiar o Ministério da Ciência e Tecnologia (o que se viu foi um drástico corte de verbas nessa área).
A ausência de personagens que há quatro anos estavam ao lado do então candidato e que hoje se tornaram desafetos também é algo marcante na comparação entre os dois eventos
Estavam no palco ao lado de Bolsonaro e hoje são inimigos Joice Hasselmann, Julian Lemos, Alexandre Frota e os falecidos Gustavo Bebianno e Major Olímpio.
Há, porém, uma importante figura que serve de ponte entre o lançamento da candidatura de 2018 e o evento atual. Há quatro anos, alguém que circulou com muita desenvoltura pelo palco, próximo a Bolsonaro e seus filhos, foi Fabrício Queiroz, que mais tarde seria apontado como operador do esquema de rachadinha da família presidencial.
Na convenção de hoje, um dos que convocou para o evento do Maracanãzinho foi justamente Queiroz.
Mesmo depois de passar uma temporada preso e de ser réu em uma ação por atuação na rachadinha, ele decidiu se candidatar a deputado. Tem o discreto apoio da família Bolsonaro.
Esse talvez seja um dos únicos pontos em que o presidente continua igual àquele que se candidatou em 2018.
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