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Chico Alves

REPORTAGEM

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Para ex-ministros da Saúde, governo falha no combate à varíola dos macacos

Varíola dos macacos - iStock
Varíola dos macacos Imagem: iStock

Colunista do UOL

27/07/2022 12h43Atualizada em 27/07/2022 13h50

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A líder técnica da Organização Mundial de Saúde (OMS) que trata da varíola dos macacos, Rosamund Lewis, declarou ontem que a situação da doença no Brasil é "muito preocupante". Entre os fatores de risco, ela citou o baixo nível de testagem, a subnotificação de casos e o gigantismo do território. Para três ex-ministros da Saúde ouvidos pela coluna, há um outro grande motivo de preocupação: o mau desempenho do governo no combate à doença.

Para o ex-ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff Alexandre Padilha, atualmente deputado pelo PT de São Paulo, as autoridades sanitárias federais estão demorando a reagir. "Depois da tragédia humana da covid-19, o Brasil tem passado vergonha nessa nova emergência de saúde pública", critica Padilha. "Até agora o Ministério da Saúde não fez uma campanha de orientação à população, não produziu nenhum processo de qualificação dos profissionais, não reuniu as instituições de pesquisa que podem orientar a população e montar a rede de vigilância, testagem e notificação".

Ele também reclama que o ministério não fez sequer uma ação junto aos países da América do Sul, contrariando o papel de liderança que o Brasil sempre teve no enfrentamento às grandes emergências de saúde pública. Além disso, alerta para o desmonte da rede de atenção permanente de saúde, da estratégia de saúde da família e das redes de vigilância no país. "O Brasil precisa voltar a liderar e ser respeitado no mundo pelo enfrentamento a situações de emergência em saúde pública, como já fomos em outros períodos", diz Padilha.

Para Luiz Henrique Mandetta, que comandou a pasta da Saúde no começo do governo de Jair Bolsonaro, há uma lacuna de informações por parte do ministério em vários pontos. "Aos médicos para pensarem na doença , na testagem, na velocidade de propagação, nos parâmetros de tratamento e protocolos de atendimento, na possível utilização de vacinas, eventuais campanhas ao público sobre contágio, prevenção etc.", analisa ele. "A atenção primária é a grande arma nesses momentos de doenças novas com potencial de surto".

Mandetta destaca a necessidade de notas técnicas aos agentes comunitários com linguagem comunitária, aos técnicos de enfermagem , enfermeiros e médicos das equipes de saúde da família também. "Providenciar leitos hospitalares para isolamentos e hospitais de referência com profissionais da DIP (doenças infecciosas). Enfim ,é preciso dimensionar os riscos e tomar as providências. O silêncio pode ser o maior perigo para as pessoas".

José Gomes Temporão, que foi ministro da Saúde na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, reclama da falta de orientação para a população. "A posição do Ministério da Saúde se mantém tíbia, frágil e sem transparência, e não passa uma mensagem clara para a sociedade sobre qual será a estratégia aqui no país", observa. "Se estão fazendo alguma coisa, não está sendo amplamente divulgado e essa é uma questão central quando se trata de uma nova doença: comunicação e informação transparentes".