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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A pergunta importante a que Bolsonaro tem que responder no Jornal Nacional

Jair Bolsonaro durante entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, em 2018 - Reprodução/TV Globo
Jair Bolsonaro durante entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, em 2018 Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

22/08/2022 15h33Atualizada em 22/08/2022 20h03

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Começa hoje a série de entrevistas dos presidenciáveis no Jornal Nacional. É um momento importante da campanha. Mesmo que a TV aberta não tenha a mesma força de antes, aparecer no telejornal de maior audiência do país, na principal emissora do Brasil, é uma oportunidade valiosa para qualquer candidato. Em uma das edições do início de agosto, o JN bateu o recorde do ano: somente na Grande São Paulo, foi assistido em mais de 2 milhões de residências.

O primeiro entrevistado da série é o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). A informação passada por aliados é a de que o presidente dispensou o media training e pretende responder às perguntas de Wiliam Bonner e Renata Vasconcellos como der na telha, com aquele jeitão tosco que é a sua marca.

Sonha repetir a performance de 2018, quando durante a entrevista divulgou para milhões de brasileiros a mentira de que o PT tinha distribuído "kit gay" nas escolas. Grosseiro, referiu-se à separação de Bonner e comentou a remuneração de Renata.

Naquela ocasião, os apresentadores do JN - assim como a maior parte da imprensa - não estavam preparados para a falta de escrúpulos do presidente. Hoje, Bonner e Renata vão para a bancada do telejornal sabendo que o candidato à reeleição é capaz de tudo. Não serão surpreendidos.

Além disso, terão agora um arsenal de denúncias para despejar sobre Bolsonaro para que ele dê explicações, algo de que não dispunham há quatro anos. É só escolher: orçamento secreto, ex-ministro do Meio Ambiente acusado de contrabando de madeira da Amazônia, rachadinha, compra de kits de internet para escolas que não têm internet, aquisição de caminhões de lixo e tratores superfaturados, atraso na compra de vacinas... Por aí vai.

Em meio a esses escândalos, um em especial merece destaque. Talvez não haja melhor oportunidade para que o entrevistado responda à seguinte pergunta: por qual motivo Bolsonaro indicou ao então ministro da Educação Milton Ribeiro dois pastores de fora do serviço público para intermediar repasse de verbas a prefeituras.

Como se sabe, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura foram acusados pela Polícia Federal de cobrar propina em troca da destinação de verbas do MEC. Segundo o ministro Ribeiro comentou em áudio publicado pela Folha de S.Paulo e em entrevistas posteriores, o responsável pela indicação dos religiosos foi o próprio presidente Jair Bolsonaro. O recado é que Moura e Santos deveriam ter prioridade.

A partir daí, esses dois personagens, que não ocupavam cargo no MEC ou em qualquer outro setor do serviço público, passaram a dizer quais prefeituras deveriam ou não receber recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Além disso, descobriu-se depois, circulavam com desenvoltura por outros ministérios, muitas vezes sem registro nas agendas do Palácio do Planalto.

Quanto às outras denúncias levantadas em seu governo, Bolsonaro é responsável natural por ser o chefe do Executivo.

No caso do escândalo do MEC, há envolvimento pessoal do presidente.

Pelo menos é o que disse o ex-ministro Milton Ribeiro, sem que tenha sido desmentido em nenhum momento. Pelo contrário. Bolsonaro mexeu os pauzinhos para que o ex-titular do MEC, ao ser preso, não prestasse depoimento ao delegado que apurava o caso. A interferência motivou a saída do policial.

Por isso, espera-se que a pergunta acima esteja no roteiro de William Bonner e Renata Vasconcellos.

Caso não conste da lista — são muitos os assuntos —, Bolsonaro poderia tomar por si a iniciativa de dar explicações aos brasileiros sobre o caso.

Afinal, a se confirmar a informação de Milton Ribeiro, o próprio presidente da República estaria associado a pastores que a PF considera golpistas, dando a eles condições privilegiadas de usarem o dinheiro público como quisessem. E ainda cobrando propinas.

Se é real o ensinamento propagado por Bolsonaro de que a verdade nos libertará, a entrevista de hoje no JN é uma excelente chance de provar.

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O UOL realiza uma análise com os colunistas Kennedy Alencar, Carolina Brígido, Alberto Bombig e Maurício Stycer. Os colunistas do UOL trazem reflexões, comentários e análises de tudo o que acontece durante a entrevista do candidato à reeleição ao Jornal Nacional..