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Com 'tchutchuca do centrão', Bolsonaro prova do próprio veneno
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Desde o início da tarde de ontem, explodiu nas redes sociais o vídeo publicado pelo G1 que mostra o presidente Jair Bolsonaro tentando agarrar pela camisa o youtuber Wilker Leão e avançando para tomar o celular que o rapaz usava para gravar o encontro. O assunto tomou conta das plataformas digitais e chegou aos trend topics com o termo que Leão usou para se referir a Bolsonaro: "tchutchuca do centrão".
O youtuber chamou assim o presidente por ele ter se rendido à política fisiológica do centrão, o famoso "toma lá, dá cá", depois de tanto criticar essa prática durante a campanha de 2018.
Leão foi bastante desrespeitoso em sua abordagem, dirigindo a Bolsonaro ofensas como "covarde", "safado" e "vagabundo". Nenhuma autoridade (nenhum cidadão, na verdade) deve tolerar ataques como esse, mas a responsabilidade de afastá-lo é dos seguranças. Impensável ver um presidente da República envolvido em treta de rua como se fosse um colegial.
A cena do entrevero é surpreendente e causou prejuízo considerável à imagem do ocupante do Palácio do Planalto.
Bolsonaro experimenta, assim, do veneno que tem usado para fustigar adversários desde que começou a campanha para presidente, há quatro anos.
Foram os bolsonaristas que introduziram na política brasileira a lógica da lacração, em que os oponentes eram expostos a situações constrangedoras enquanto tudo era mostrado para as redes sociais via celular.
O Movimento Brasil Livre (MBL) foi um dos principais disseminadores dessa praga, contra os petistas e a esquerda em geral. Deputados bolsonaristas também fizeram de seus mandatos uma grande sequência de lives, onde fazer uma performance lacradora vale muito mais que apresentar um projeto de interesse público.
O próprio Wilker Leão, direitista radical, fez vídeos com ataques a Lula e ao PT, sem que os apoiadores de Bolsonaro dessem muita importância - pelo contrário, curtiram bastante.
Depois do agarra-agarra com o youtuber, o presidente chamou o rapaz para conversar e explicou para ele calmamente suas decisões (com justificativas despropositadas, como sempre). Acabou tudo bem.
Mas isso não importa.
O que vale para a lógica da lacração das redes sociais, que tanto beneficiou Bolsonaro, é a parte do vídeo em que ele parte para cima de Leão.
O presidente está provando o gosto amargo do veneno que usou contra os adversários.
A partir de agora, vai ter que aturar a provocação que já está motivando muitos memes na internet. Por um bom tempo, Bolsonaro ouvirá nas ruas e lerá nas redes o apelido repetido pelo youtuber.
"Tchutchuca do centrão" na campanha dos outros é refresco.
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