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Pastores de 5 ramificações evangélicas criticam uso político da religião
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Nunca a religião evangélica foi usada de forma tão agressiva na política como na atual campanha presidencial. Eleito presidente em 2018 com apoio de pastores e bispos de ramificações neopentecostais poderosas, Jair Bolsonaro dobrou a aposta na tentativa de reeleição.
Além de apoiar Bolsonaro, alguns líderes evangélicos agora atacam o seu principal oponente, Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, alguns deles lançam mão de mentiras, como a de que o presidenciável petista vai fechar templos caso seja eleito.
Para tentar reverter o estrago, Lula tenta encontrar brechas para falar ao eleitor evangélico.
Apesar de sustentada por nomes que mobilizam multidões de fiéis, essa mistura de religião e política está longe de ser unanimidade no meio cristão.
A coluna procurou representantes de cinco denominações evangélicas para que apresentassem seus argumentos críticos sobre a influência da fé na campanha eleitoral de 2022.
A seguir, as respostas:
Pastora Romi Bencke, luterana
Vejo com muita preocupação. A mistura, durante a campanha eleitoral, entre expressões de tradições evangélicas e a política partidária é péssima tanto para a fé evangélica quanto para a qualidade do debate político. Uma campanha político-eleitoral deveria centrar-se em projetos para o país. Não nos faltam problemas para resolver, sendo que o mais grave é a desigualdade econômica. A partir do momento em que colocam Deus e o Diabo como tema de campanha eleitoral, os assuntos que realmente importam tornam-se secundários, quando não invisibilizados.
É claro que a fé, seja ela cristã ou não, tem uma dimensão política. No entanto, esta dimensão tem relação com a coletividade, com o bem comum. Igreja não é partido político e nem deve ser. A simbiose entre igrejas e partidos políticos precisa ser considerada como um dos principais aspectos de reforma do atual sistema político.
Pastor Eliel Batista, pentecostal
Não existe posicionamento apolítico, porque não existe nenhuma sociedade ou vida comunitária que não seja política. Entretanto, o uso da religião para disputa de poder eleitoral é extremamente prejudicial para a fé e uma manipulação da boa-fé do povo, porque esse uso entra numa guerra que não lhe pertence, leva as pessoas a cometerem perversidades em nome de defender um candidato específico e muitos se perdem do caminho, abandonando verdades que abraçaram quando adotaram a fé cristã.
Uma das coisas que para mim demonstra que uma significativa parcela do povo evangélico está perdida vem da constatação de que aqueles que defendem valores universais, como o Direito à Vida e a liberdade dos oprimidos, não têm sido vistos como defensores do bem comum e de valores universais. Ao contrário, são tidos como defensores de algum partido político ou espectro político-partidário, e algumas vezes tomados como cabos eleitorais de determinado candidato. Isso é um verdadeiro desvio da fé. Veja: não é a religião em si, mas um desvio dela, que na fé é chamado de adultério espiritual. Uma expressão bíblica usada para denunciar o abandono do povo da vida de amor a Deus e ao próximo, para se unir aos dominadores do mundo, cujos valores se opõem a essa verdade de que, nas relações, o amor deve estar acima de tudo.
Pastor Levi Araújo, batista
Não há nada mais perigoso para as conquistas civilizatórias do que essa maligna mistura da religião evangélica com o bolsonarismo. Um líder espiritual tem o direito de não abrir ou abrir o seu voto, mas jamais de impor o seu voto ou de manipular os seus seguidores para em nome do seu Deus votarem em quem ele vota.
Um líder espiritual não tem o direito de se omitir e não se posicionar - ficar isento, em cima do muro - em casos extremos de risco e comprometimento do Estado Democrático de Direito, do Estado Laico, das políticas públicas de seguridade social, dos direitos humanos, da destruição da criação ( natureza, florestas, biomas, animais? ) e da banalização da violência contra toda forma de vida.
Pastor Edson Nunes Junior, adventista
Enquanto cristãos, o que nos define é o modelo de reino ensinado por Jesus, que em nenhum momento estabeleceu um sistema político, embora tenha sido tentado a receber o poder e a glória das nações. Ele enfatizou que o reino de Deus não era "desse mundo". Essa posição não isenta o cristão de agir ou ser a favor de ações que visem mitigar o sofrimento e a opressão causada pelo poder constituído, mas demonstra que deve existir uma distinção entre o reino dos homens e o Reino de Deus. Aliás, quando perguntado se era o Messias, Jesus respondeu com ações praticadas por ele que eram justamente a libertação de marginalizados e esquecidos pela sociedade: "os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres é pregado o evangelho." (Mateus 11:5).
É muito perigoso que uma religião seja dominante em um país de diversidade religiosa por motivos de liberdade e justiça. O flerte com o poder político constituído sempre afastou os cristãos dos verdadeiros valores do reino de Deus e os aproximou da violência e da soberba. Na verdade, para os cristãos, se tornar essa religião dominante politicamente, é também o seu fim como religião, porque é negação dos valores essenciais. O cristão consciente de quem foi e é Jesus Cristo se opõe, veementemente, ao uso da religião na política. Portanto, a mistura entre cristianismo e religião na campanha presidencial deve ser denunciada como anticristã. O sequestro do cristianismo e seu uso como instrumento de poder pela esfera política precisa acabar.
Pastor Nilson Gomes, da Assembleia de Deus
Essa "mistura de religião evangélica e política" é uma mistura perigosa que cobrará o seu preço e, sobretudo, essa mistura representa uma blasfêmia contra o Evangelho de Jesus Cristo. Entendo que a missão da igreja é ser representante e sinalizadora do Reino de Deus na terra. A igreja não é uma agremiação política partidária e, em hipótese alguma, pode se tornar fiadora de qualquer candidato, partido ou ideologia política.
Agora, é bem verdade que é importante o posicionamento da igreja, mas esse posicionamento precisa ser a partir de uma consciência política que busca promover o bem e a justiça. Mas nunca militância política partidária como tem acontecido em larga escala a ponto de inviabilizar o papel da própria igreja como embaixadora do Reino de Deus. O movimento evangélico precisa entender que a bandeira da igreja é o Evangelho de Jesus Cristo, e não partidos ou qualquer lado político.
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