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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Presidente até tenta, mas não consegue explicar 'Imobiliária Bolsonaro'

Bolsonaro concede entrevista à RedeTV! como candidato à Presidência - Reprodução/RedeTV!
Bolsonaro concede entrevista à RedeTV! como candidato à Presidência Imagem: Reprodução/RedeTV!

Colunista do UOL

02/09/2022 18h53

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Dois dias depois da publicação das reportagens de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva, no UOL, sobre a aquisição de 51 imóveis em dinheiro vivo, o presidente Jair Bolsonaro ainda está devendo explicações convincentes aos brasileiros. Nos momentos em que abordou o assunto, saiu-se muito mal. Em entrevistas à rádio Jovem Pan e à Rede TV, o presidente atribuiu boa parte das transações ao ex-marido da irmã. "Metade dos imóveis é de um ex-cunhado meu. O que eu tenho a ver com ex-cunhado? Não vejo esse cara há um tempão", disse Bolsonaro.

Cunhados são personagens que o anedotário brasileiro trata muito mal. Há uma extensa lista de piadas que culpam os cunhados por vários problemas, já que são descritos como pessoas inconvenientes, que sempre estão no lugar errado na hora errada. Como se sabe, essa fama é injusta.

Também no caso da "Imobiliária Bolsonaro" há uma injustiça. Para tentar se explicar, o presidente lançou ao vento uma afirmação que não corresponde à realidade. Não é verdade que José Orestes Campos, a quem ele se refere como ex-cunhado, seja responsável por metade das transações imobiliárias do clã.

O levantamento realizado por Thiago Herdy e Juliana Dal Piva apontou que somente oito dos 51 imóveis pagos em dinheiro foram comprados por essa ramificação da família.

Mesmo que fossem excluídos da soma final, ainda restariam 43 imóveis negociados com dinheiro em espécie por integrantes do clã Bolsonaro. Se o presidente quiser dar explicações apenas sobre estes, o Brasil certamente estará disposto a ouvir o que tem a dizer.

Além do mais, Campos não está tão distante da família como o presidente quer fazer parecer. De fato, ele e Maria Denise, irmã de Bolsonaro, não moram mais sob o mesmo teto. Mas os dois ainda brigam pela divisão de patrimônio.

A disputa diz respeito a uma dezena de lojas, um imóvel de veraneio à beira-mar, no litoral sul paulista, e duas mansões localizadas dentro de uma área de mais de 20 mil metros quadrados no centro de Cajati, no interior de São Paulo.

Enquanto não houver julgamento final, os bens seguem pertencendo ao casal, já que os dois estão sob regime de comunhão de bens.

Nas entrevistas concedidas aos dois veículos que têm por norma apoiar o presidente, Bolsonaro sentiu-se à vontade para atacar o UOL.

Em um momento de vidência, previu que ainda esse mês "vão fazer busca e apreensão" na casa de seus parentes. Diz que isso seria estratégia para desgastá-lo. Em tom de bravata, pediu: "Vem pra cima de mim".

No único esboço de explicação sobre o seu patrimônio, o presidente disse que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, atestou em 2015 que dois de seus imóveis no Rio foram comprados legalmente.

Falta explicar a compra de 49.

O Brasil continua aguardando justificativas convincentes para tantas transações em dinheiro vivo.

Para alguém que a toda hora repete que conhecer a verdade é uma experiência libertadora, isso deveria ser uma prioridade.