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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonarista grava vídeo, mas não pede desculpas à mulher que humilhou

Colunista do UOL

12/09/2022 10h26

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Desde que começou a circular nas redes sociais o vídeo em que o empresário bolsonarista humilha a mulher em situação de pobreza, dizendo que ela não iria mais receber doação de marmita porque vota em Luiz Inácio Lula da Silva, já se sabia o que iria acontecer a partir dali. O homem seria identificado e, diante da reação indignada das pessoas, acabaria gravando um outro vídeo com pedido de desculpas ou dizendo que sua fala estava "fora de contexto".

Não deu outra. Demorou poucas horas até que os detetives da internet identificassem o sujeito: ele é o empresário Cassio Cenali, morador da cidade paulista de Itapeva. Chamado de "verme", "nojento", "asqueroso" e outros xingamentos que são plenamente justificáveis, Cenali acabou gravando uma mensagem sobre o ocorrido.

Descartou usar o argumento da "falta de contexto" e preferiu se desculpar.

"Eu sou o Cássio. Tô aqui para pedir desculpa pela infelicidade de ter feito esse vídeo. Estou muito arrependido", diz ele. Depois de contar que há mais de dois anos entrega 60 marmitas por semana a pessoas pobres e moradores de rua, promete continuar a fazê-lo. "É um trabalho que eu faço com recurso meu, não tenho apoio político nisso aí, eu só quero a caridade. Eu tô muito arrependido. Tive a infelicidade de fazer esse vídeo, só isso que eu tenho que falar".

Em nenhum mísero momento, Cassio Cenali pede desculpas à faxineira Ilza Ramos, que foi humilhada por ele. Apenas se diz arrependido da "infelicidade" de ter gravado o vídeo que expôs sua infâmia para todo o Brasil.

Ou seja: humilhar pode; registrar em vídeo, não.

O empresário tenta exaltar seu espírito caridoso, que o leva a distribuir comida a pessoas necessitadas custeando do próprio bolso. Mas não informa quantas marmitas deixou de doar para aqueles que, como dona Ilza, se disseram eleitores do PT.

Além disso, não cita que recebeu indevidamente R$ 5.250 em auxílio emergencial, dinheiro que deveria ser destinado a pessoas realmente necessitadas.

O empresário apoiador de Jair Bolsonaro continua devendo um pedido de desculpas à mulher que humilhou.

Também deveria se desculpar com todos os brasileiros por transformar o ato tão nobre de doar alimento a quem precisa em mais um instrumento de disseminação do ódio que seu líder político instalou no país.