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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Presidente esperneia mas não explica 51 compras da 'Imobiliária Bolsonaro'

Jair Bolsonaro (PL) em sabatina promovida pela UNECS (União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços) em Brasília - Reprodução/Youtube
Jair Bolsonaro (PL) em sabatina promovida pela UNECS (União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços) em Brasília Imagem: Reprodução/Youtube

Colunista do UOL

10/09/2022 09h27

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Se há uma coisa que Jair Bolsonaro sabe fazer é levantar cortinas de fumaça. Basta que uma questão muito grave o incomode e ganhe repercussão na opinião pública para que puxe um assunto aleatório, que não tem nada a ver com a realidade, para distrair os brasileiros. É o que faz agora, diante das matérias do UOL, que mostram que 12 integrantes da família Bolsonaro adquiriram 107 imóveis de 1990 para cá, sendo 51 deles comprados total ou parcialmente com dinheiro vivo.

O dever de qualquer governante é prestar satisfação a seus governados. Sendo assim, a primeira providência do presidente, quando as reportagens foram publicadas deveria ser esclarecer as transações, mostrar documentos, identificar a origem do dinheiro usado nessas aquisições.

Onze dias após a história vir à tona, Bolsonaro não fez nada disso.

Reclama que é alvo de campanha difamatória porque não querem que ele vença as eleições, diz que pretendem transformá-lo em corrupto, que estão expondo sua família a constrangimento.

Prestação de contas, que é bom, nada.

No dia da publicação das reportagens, Bolsonaro indiretamente admitiu a prática e questionou: "Qual o problema, comprar alguns imóveis com dinheiro vivo?". Depois, percebeu que há, sim, problema (policiais e autoridades da Receita aprendem cedo que esse é um forte indício de lavagem de dinheiro) e mudou o discurso. Passou a refutar o termo "moeda corrente", citado em algumas escrituras, como prova de que ele e os familiares tenham pago imóveis em espécie.

É mais uma cortina de fumaça.

Os repórteres Thiago Herdy e Juliana Dal Piva não se basearam apenas nessa inscrição para fazer a matéria. Como explicaram em detalhes, fizeram um demorado levantamento, cruzaram com investigações do Ministério Público, entrevistaram funcionários de cartórios. Além disso, matérias anteriores de outros veículos de comunicação já tinham apontado o uso de dinheiro vivo na compra de alguns desses imóveis e a informação não foi contestada.

Bolsonaro teme o estrago que as matérias possam fazer na sua campanha à reeleição, embora em nenhum momento os jornalistas do UOL o tenham acusado de praticar crime. Para evitar dor de cabeça, a providência é simples: prestar contas e revelar a origem do dinheiro usado para comprar imóveis.

A maioria da população, que é obrigada a se submeter a financiamento de 30 anos para comprar um mísero imóvel, se espanta que a família presidencial tenha adquirido 107 imóveis em três décadas. Por essa quantidade de aquisições, o clã se assemelha a uma empresa, uma espécie de 'Imobiliária Bolsonaro'.

Com as negociações não explicadas em dinheiro vivo, a suspeita se torna mais grave.

Em vez de espernear, Bolsonaro deveria mostrar documentos.

Os brasileiros continuam esperando uma explicação.